Olívia
— Eu, eu... Bem, o Tabelião veio aqui apresentar-me o título de sua tutela. E agora sou seu responsável legal. — Explicou o assunto, mas não se aprofundou, logo percebi que não ia mudar nada ele ter discutido o assunto. Assuntos familiares nunca foram do meu conhecimento, então imagino que meu pai escolhera um parente de confiança para minha guarda. Mas ainda havia algo que precisava ser esclarecido. E ao ver pela confusão do Sr. Damman ao achar que Cecile era sua pupila, imaginei se ele tinha conhecimento de minha idade. Acho que essa informação não constava nos documentos que ele recebera.
— Como o senhor pode constatar, eu não careço de um tutor. — Disse com afoiteza — Vou completar 21 anos em meu aniversário, que será nos próximos meses e pretendo continuar ajudando no internato.
— Então você quer viver sempre lá? — Os olhos azuis brilhantes focalizavam no meu rosto e, por algum motivo, sentia-me presa nesse olhar.
— Não. Ah... — Balbuciei. Não que não gostasse da minha vida no internato. Mas estava acostumada com aquilo, qualquer mudança seria muito difícil para mim. Não via outro futuro para seguir, aquilo era o que me forcei aceitar. Em todos os anos que passei na Escola Olimpic, estudando e cuidando das crianças menores quando possível, não imaginei que um dia teria a oportunidade de outra vida.
— Sinto muito pelo senhor ter mandando seu motorista fazer essa viagem em vão. Sinto muito pela perda de tempo. — Continuava minha imposição.
Os olhos do homem se apertaram com um ar de seriedade. Olho-o bem, nada do senhor de idade que imaginei, pergunto-me qual seria a idade deste homem. Seu jeito dava-me a impressão de um homem muito experiente, mas seus olhos quando sorriem, o fazem parecer bastante jovem.
— Na verdade não foi em vão. Trouxe você por que queria que passasse o natal comigo. — Falou Sebastian e sorriu verdadeiramente.
Natal era uma das datas mais melancólicas do internato, sempre passava com Cecile triste. Minha pequena sentia falta de todas as exuberâncias que essa época trazia. Vê-la chorar a cada presente que outras alunas recebiam e ela não, era o mais difícil. Essa época deveria ser feliz, de festas, solidariedade, amor e felicidade. Aproveitava para enchê-la de mais carinho e atenção ainda, uma vez que era um momento mais sossegado e as outras alunas não queriam dividir minha atenção. Era de minha responsabilidade fazer meu natal e de Cecile algo menos solitário. Fazíamos biscoitos especiais e tínhamos uma pequena arvore que não tinha muitos enfeites. A tarefa agradava bastante a minha menina. Todavia, alguma coisa no pedido do elegante cavalheiro me mostrou que poderia fazer Cecile feliz nessa data, sentia meu coração pulsar, eu tinha que fazer isso por ela. Ela merecia.
— Não sei, acho que... — disse incerta.
— Tem certeza de que eu não conseguirei convencê-la a ficar? — Falou Sebastian Damman.
— Meus criados ficaram muito contentes com a possibilidade de realizarmos uma festa. Como moro sozinho nessa casa, nunca foi comemorado. Seria uma verdadeira comemoração de Natal. — Ele falou com uma emoção diferente... Felicidade? Nervosismo? Esperança? Não sei, sei que em seus olhos tinham um brilho diferente com esse pedido..., mas um ar de tristeza se fez presente após seu discurso convencido. Por que ele preferia ficar sozinho? Onde estava sua família?
Parece até que apreciaria minha estadia em sua casa, mas como o Natal é tempo de boas ações, ficarei..., mas com uma condição...
— Passarei o natal com o Senhor, se assim desejas, mas com uma condição.
Seus olhos tinham minha atenção.
— Qual? — Falou quase esganiçando...
— Que Cecile também fique. — Falei rápido para não perder a valentia...
— O QUE? — Falou atordoado, com os olhos agora nada brilhantes, pareciam mais dois lumes...
Com certeza não esperava essa reação, Sebastian parecia ter sido atingido por algo duro, impossível de suportar. Ele puxava o ar por suas narinas e exalava na mesma velocidade. Notava-se que lutava contra seus maiores receios.
Sebastian olhou para a pequena, seus olhos e raiva se abrandaram por um momento. Levou as mãos ao rosto e as deslizou até chegar aos fios pretos. Ele estava pensativo. Virou-se para mim e a fúria estava presente novamente.
Meu Deus! Será que fui muito atrevida?

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O TUTOR - DEGUSTAÇÃO
RomanceTutor : s.m. Aquele que exerce a tutela de alguém; indivíduo que é responsável legalmente, por testamento ou determinação judicial, por alguém que não atingiu a maioridade. Protetor; aquele que defende; quem protege alguém. Veja o que te...