house of cards

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Quem me vê no processo de construção do meu castelo de cartas pode até dizer que sou habilidosa e sei bem o que estou fazendo – e de fato não me falta criatividade e conhecimento para colocar cada carta em seu devido lugar, mas acima de qualquer coisa eu também sou ansiosa e ver esse castelo crescendo, se tornando maior do que eu mesma e mais alto do que posso alcançar mesmo nas pontas dos pés faz minhas mãos suarem e minha respiração pesar e meus dedos trêmulos e escorregadios acabam por derrubar sobre mim tudo o que construí.

Todas as cartas que me empenhei em escolher e decidir o melhor lugar para cada uma desmoronam como se não fossem nada porque no fim não é questão de cálculo ou habilidade, é muito mais sobre emoção e paciência – e se manter paciente e controlar e entender emoções nunca foi o meu forte, nunca nos demos bem; costumam me largar sozinha com todo o caos que causaram, cartas caídas e espalhadas por todo o chão me cobrindo em desespero e confusão porque não sei qual pegar primeiro para enfim recomeçar outra vez.

"De baixo, do começo" é o que sempre repito mesmo sabendo que a pergunta que me assombra não é "por onde?". Deveria ter alguma carta mais importante que outra? Alguma que esteja torta e possa ser o motivo para eu ter errado e destruído tudo mais uma vez?

Um valete de ouros e uma dama de copas – foram as duas últimas que tentei encaixar antes que tudo fosse por água abaixo.

É com lágrimas nos olhos e o coração pesado que as encontro em meio àquela bagunça e as amasso por entre meus dedos por minutos desnecessariamente longos até me lembrar que as cartas não tem culpa, elas fizeram seu trabalho, foi essa urgência voraz que sempre me consome e leva tudo de mim como a correnteza de um rio violento que não se importa nem um pouco com o mínimo detalhe de que não sei nadar.

Encharcada por essa impaciência e com os pulmões doloridos depois de me afogar nos meus próprios sentimentos, levanto e recolho as cartas uma por uma e as junto em um montinho desorganizado, me preparando para começar tudo de novo.

Respirando fundo repito como um mantra "de baixo, do começo". Ainda não é a resposta que eu queria e procurava mas é tudo o que tenho por enquanto, e vou ter que me contentar com isso.

De baixo, do começo. O resto eu reaprendo no processo.

twilight flowersWhere stories live. Discover now