Capítulo 03 "Tudo volta", sussurrou o Karma em meus ouvidos.

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Ao abrir os olhos, Dennis se depara com a copa das árvores que havia visto antes. Esfrega suas mãos ao seu redor e reconhece que está em um colchonete, sente a grama tocar a ponta de seus dedos. Talvez o mesmo colchonete de antes. A mesma floresta de antes. Ele está no mesmo lugar ainda! As mãos agarram um punhado de grama. Não foi um sonho! Não foi um maldito sonho! Um misto de enjoo e dor de cabeça de ressaca o invade, fazendo-o fechar os olhos e respirar como foi ensinado no exército em dias de extrema fadiga e fome. Ele ouve passos se aproximando e endireita o corpo imediatamente, espalmando as mãos no chão em busca de um objeto para se defender. Uma voz familiar o chama.

— Que bom que você já acordou sargento! Agora que já temos alguns pontos alinhados e que já sabemos que seu corpo voltou com algumas habilidades interessantes, podemos seguir adiante, anuncia Anna sentada no tronco agora com um longo cigarro entre seus dedos.

— Isso não pode ser real! Você me envenenou, me enfeitiçou. Fez alguma coisa e agora estou tendo alucinações, esbraveja Dennis num visível esforço de se manter calmo e mostrar controle da situação.

Anna não diz nada. Apenas observa com as sobrancelhas arqueadas enquanto Dennis se esforça para se levantar visivelmente esgotado. Mais da metade do cigarro se vai antes que Dennis consiga se colocar de pé sem sentir a cabeça girar e a ânsia encher sua boca de água.

Anna ri enquanto traga o final de seu cigarro vagarosamente. A chama ardente vem de encontro a seus lábios e como num truque de cartas, o cigarro desaparece no ar.

Dennis respira fundo e dá um passo para trás. Ele sente o corpo ferver, mas o suor escorre frio encharcando sua camisa. Seus olhos ficam incrédulos na ponta dos dedos de Anna. Novamente a boca se abre, mas nenhuma palavra sai.

Anna esfrega a ponta dos dedos se livrando do resquício do tabaco que estava ali, com um sorriso malicioso.

— Vamos imaginar que tudo isso é real sargento. Apenas para o bem da nossa comunicação. Imagina que tudo isso que você vivenciou até aqui é a mais pura verdade. Você foi assassinado, voltou dos mortos, está com super habilidades. O que você faz com essa informação?

Agora Anna conseguiu o que queria, a total atenção de um sargento Dennis concentrado e muito mais racional.

Dennis se senta e fica pensativo por alguns instantes. Ele encara Anna enquanto ela brinca com um isqueiro grande e prateado. A chama acende e apaga no tintilar do metal do gatilho do acendedor.

— Se isto tudo for real e eu realmente tenho poderes, habilidades como você chama, eu posso continuar fazendo o que fazia antes, só que melhor. Posso ajudar mais pessoas, posso combater o mal e ser um super soldado.

— Por que você faria isso sargento? Por que você desperdiçaria sua nova chance por pessoas que só vão se aproveitar de você como fizeram até sua morte? O que você ganhou com toda sua dedicação e coragem no exército? O que você ganhou da sua família quando foi convocado mais uma vez para servir seu país? E seus companheiros no pelotão? O que você conseguiu? A morte sargento. Você conseguiu o suave beijo da libitina por que seus companheiros resolveram que você merecia diversos tiros pelas costas. Essa é sua chance de fazer algo por você. Sua oportunidade de usar essa segunda chance para conquistar aquilo que nunca conquistaria na sua antiga vida.

— E o que seria isso?

— Ora sargento. O que você quiser. Você morreu para o mundo. Mais uma fatalidade, mas um número para as estatísticas. Você agora pode renascer do jeito que você quiser e conseguir tudo aquilo que sempre sonhou. E com uma grande vantagem. Mortos não podem ser punidos, não podem ser presos. Mortos não cometem crimes, sargento.

O som do silêncioWhere stories live. Discover now