1- Uma garota comum

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𝐿𝒶𝒹𝓎 𝒢𝓌𝑒𝓃𝒹𝑜𝓁𝓎𝓃 𝐿𝓁𝓌𝓎𝒹

Amanhecia em Santa Luzia um dia ensolarado. Me espreguicei tentando despertar e fui a janela do meu quarto olhar a vista que o destino me presenteava. Sou Lady Gwendolyn e vivo na Fortaleza de meu pai, Sor Raymond Bolton. Sou sua filha mais velha, a única lembrança de seu primeiro casamento com uma princesa de um Reino vizinho e poderoso. Dizem que o dote que meu pai recebeu foi o mais pomposo dessas terras. As más línguas diziam que minha mãe já viera morar aqui esperando o meu irmão mais velho. Acredito que diziam isso, pois os dois eram iguais em aparência. Mas eu, infelizmente sou diferente. Sou daqui. Tenho olhos e cabelos castanhos. Minha altura e rosto parecem com de tias minhas, irmãs de meu pai. Ao passo que meu irmão e irmã eram lindos, eram mágicos. Mas agora os dois estão mortos e por aqui parece não haver mais magia nenhuma...

Meu pai hoje tem uma segunda esposa e eu tenho outros irmãos e irmãs. Não me entendam mal, eu gosto de todos eu gosto da minha vida. Não sou infeliz, só gostaria mesmo dois grandes desejos; de ter algo da minha mãe para me recordar melhor dela e maior atenção do meu pai. Mas da parte do meu pai não posso reclamar, eu estou para completar vinte primaveras e possuo uma vida com maior liberdade que outras moças aqui da região.

Todos os dias eu saio para cavalgar com meu amigo Amis. Ele é herdeiro de um condado próximo e somos carne e unha desde a infância. Ele tem a minha idade, grandes olhos azuis com charmosos cachos castanhos. Conversamos por horas todos os dias, andamos a cavalo e sonhamos lendas antigas. Todos os noites, quando me deito, fico imaginando a nossa vida quando nos casarmos. Assim como também peço a Deus um sinal de que minha mãe olha por mim, que de alguma forma ela está comigo.

Mas com frequência, quase todas as noites eu sonho mesmo com um grande dragão prateado sobrevoando os céus de onde eu moro. E é assim que começa a minha história, um pouco incomum para uma garota como eu.

Faltando três meses para o meu aniversário meu pai veio ter uma conversa comigo. Não era uma conversa normal, de pai e filha, ele simplesmente mandou que eu fosse ao seu escritório, como para receber alguma ordem. O encontrei seríssimo, me olhando no fundo dos olhos.

—Gwendolyn, eu irei direto ao ponto. Você irá fazer vinte anos e precisa se casar. É um assunto que venho adiando, pois um pretendente para você tem sido uma tarefa difícil de se encontrar.

— Por que difícil? – sabia que ele gostaria que eu me casasse, mas me espantei com suas palavras. E Amis? Alimentamos durante tanto tempo esse sonho.

— Você tem uma herança de sua mãe. Mas essa herança não é algo bom, ela tem um guardião.

— Como assim? — perguntei.

— A sua mãe era de uma terra mágica, como você sabe. E nessa terra há seres muito mais poderosos do que humanos. Sua mãe atraiu consigo, de alguma forma que eu desconheço, um dragão e esse monstro desde então vive em uma gruta junto com joias e uma pequena fortuna que seria seu dote. — ele disse.

— Mas... — me sentia perturbada.

— Eu tentei uma união com lordes para matar a criatura, mas eles tem...outros interesses. Já falei com lideranças de nosso reino, mas eles se apavoram diante dessa história se espalhar. Então, escrevi para antigos conhecidos de sua mãe oferecendo sua mão em casamento. Pessoas desse reino devem saber como exterminar essa besta. Para piorar a criatura sai para caçar constantemente, aterroriza aldeões, come cabras, ovelhas e preciso ficar constantemente indenizando-os. — ele disse dando os ombros.

— Mas...eu irei então casar com um DESCONHECIDO? Como eu nunca vi esse dragão?

Ninguém é mais interessado nisso do que eu! Ele era da minha mãe! — disse me exaltando.

— Você é só uma moça. Sempre soube que seu irmão e sua mãe não como pessoas comuns. Não quis te deixar apavorada — disse ele, demonstrando finalmente alguma humanidade.

Saí apressadamente do seu escritório, precisava falar com Amis. Mais esquisito do que a história do dragão era ele ter falado com pretendentes locais. Peguei um cavalo e cheguei rapidamente a casa de Amis.

—Amis, preciso falar com você! — disse com urgência.

— Gwen, porque você está com essa cara? — ele parecia apreensivo.

— É verdade que meu pai já falou com você sobre nos casarmos? É real? E você disse não? – disse puxando-o pela camisa enquanto controlava as minhas lágrimas.

— Sa-sabia. — ele respondeu.

— E VOCÊ NÃO ME CONTOU? Por que vem me iludindo desde então? — estava perplexa.

— Gwen eu não te iludi. Eu me casaria com você, mesmo sem dote, sem nada. Meu pai que não permite e não posso passar por cima de sua autoridade, me perdoe. — ele disse pausadamente.

— Mas você deveria ter me contado! Você me enganou todo esse tempo! Você sabia que eu queria algo da minha mãe e simplesmente existe um DRAGÃO e você não se dignou a me dizer! — Voltei para casa deprimida. Me tranquei em meu quarto e por dias e noites esqueci de todos em prol da minha dor. Sempre que fechava os olhos era atormentada por pesadelos de que a besta e eu éramos um só.

TORRE DOS PRANTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora