Sebastian
Devanae, 1840.
— Não pode ser! — Digo em Desespero.
— Não tem a menor possibilidade de eu acatar tamanho disparate, só pode ter sido um engano. Está claro que ele queria me acometer. Quero rever esse testamento com meu advogado.
Ando de um lado para outro com cenho de incredulidade estampado em meu rosto. Enquanto falava com o oficial de justiça, que já estava esgotado de repetir que não havia se enganado.
— Senhor Damman, não ocorreu nenhum erro, o testamento está registrado em cartório, logo quando ele for lido na sua presença, você poderá ter certeza. No momento somente parte foi aberto. — Ele dizia calmo, mas com certa dureza na voz. — Trabalho há anos nessa profissão, não tenho costume de cometer erros.
Paro de andar e o fito:
— Onde ela está? — Pergunto enquanto penso na pobre criança. Mas o pensamento me leva para algumas crianças que conheço, se ela for daquelas que são birrentas, creio que não suportarei.
— Está estudando em uma escola muito distante de Devanae, um internato onde a educação...
— Certo! — Interrompi o dispensando, que ele depois passasse a direção para meu criado. — Fale com Aron na saída e passe a localização correta. — O mesmo sai com cenho aliviado.
Sento derrotado no espaçoso sofá. Uma onda de sentimentos me invade. Pobre criança deve ter sofrido o mesmo que eu quando perdi minha mãe e meu pai. Sem amor familiar... Sem alguém que pudesse lhe dar carinho. Mas agora talvez eu possa lhe recompensar. Estamos perto do natal, posso lhe trazer e realizar uma festividade, uma ceia. Algo que há tempos não é presenciado nesta casa, pois os motivos para comemoração não estão mais presentes.
Na adolescência perdi minha mãe, a mulher mais gentil e inteligente que já conheci. Depois por acaso de uma emboscada perdi meu irmão mais velho e meu querido pai, dois homens de honra e caráter. Fiquei no cargo de chefe da família, família essa que liderava o clã Damman, que era um dos maiores clãs da região. Todos os dias lembrava de minha vingança àqueles que de forma covarde atacaram cruelmente os que tinham sangue de meu sangue.
Fiquei sozinho, pensativo e tentando ver qual pecado eu estaria pagando agora? Estou totalmente arruinado...
— Meu Pai, onde que eu merecia isso? — Peço em prece. E agora com uma criança no meu encalço! Como vou poder levar a vida que eu gosto? Não posso pensar em como vou trazer minhas "aventuras" com uma criança em casa, mas não vou deixar meus desejos incumbidos por causa de uma fedelha, não mesmo.
— Jodi, Jodi... — Grito como se o grito pudesse aliviar minha ira, preciso que ela arrume o aposento e me diga o que uma criança necessita.
— Senhor Damman, me chamou? Em que posso ajudá-lo? — Falou da maneira mais serena possível, queria poder dizer que ela me ajudasse a desfazer esse mal-entendido, que ela pudesse ajudar-me dizendo que estava em um pesadelo.
Mas optei por esconder minhas perturbações e respondi com o básico e sem emoção:
— Preciso que você monte um leito para uma criança, use tudo que achar adequado... Brinquedos, roupas... — Jodi me olha chocada... Será no que ela está pensando?
— Jodi, por que está chocada? — Pergunto exasperado.
— Senhor, eeeé que nunca teve uma criança aqui, ela não e é, desculpa-me, o atrevimento senhor, mas ela é sua filha? — Olho para minha governanta com os olhos em chamas.

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O TUTOR - DEGUSTAÇÃO
RomanceTutor : s.m. Aquele que exerce a tutela de alguém; indivíduo que é responsável legalmente, por testamento ou determinação judicial, por alguém que não atingiu a maioridade. Protetor; aquele que defende; quem protege alguém. Veja o que te...