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Corrida hoje, vitória amanhã.

Sexta-feira| Rio de Janeiro
Renato Cardoso. RW.

point of view

Encaro os moleke tudo indo para escola e os mais velhos irem trabalhar, saudade eu tenho é disso, acordar cedo para ir para a escola bagunçar com os moleke do fundão, mas mesmo assim ser sempre o nota dez da turma, chegar em casa felizão mostrando para minha mãe minhas notas, e ela toda boba.

Te falar aqui. Estuda, estuda pra caralho, porque é tu deixar isso de lado e tua vida desandar, não importa o tempo que tu tenha que estar lá com a porra de um livro na mão, faz teu corre, que no futuro é só progresso.

Acendo o baseado e o coloco entre os dedos levando á boca, de cima da laje vejo a Eduarda me olhar lá de baixo, suspiro fingindo não ver desviando o olhar, garota insuportável.

Tem dezessete anos mas pinta e borda por esse morro, Gw só falta morrer com isso, bota os cara na cola mas nem dá, a menina da um perdido fudido, é amarradona em mim a tempos e olha que nem mole pra ela eu dou.

Olho pro céu e penso como em dez anos tudo mudou, agora subi de cargo, sou braço-direito do Carlão, sou considerado o segundo chefão por aqui.

Nas facções rivais, só faltam leiloar minha cabeça e apostarem quem tem mais ódio de mim. Daora isso po.

Pra você entrar nessa vida do crime, tem que ta' ligado nas consequências, saber que o crime não é o creme. Não entrei nessa com a mente moldada só no dinheiro, entrei pra sobreviver. Mal tinha o que comer dentro de casa, ver minha coroa morrer só fez eu me desesperar e ir atrás de um lugar pra mim, morei na boca por quatro anos, até conseguir comprar uma casa pra mim, que vivo até hoje.

Minha mente é minha pior inimiga, pra mim descontrair uso a pior coisa que um ser humano pode ter dependência, droga.

— Aí papai, macetei! — ouço uma voz enjoada e eu solto a fumaça da boca.

— Quer o que aqui? — pergunto de costas pra ele.

— Acho lindo o amor que você sente por mim. — Fala ficando ao meu lado.

— Meu dia tava massa, foi só tu aparecer que desandou. — ele solta uma gargalhada tão alta, que chama atenção dos vapor lá de baixo que olha aqui pra cima e eu nego com a cabeça.

— Cara, sete horas da manhã e tu de piada, que porra. — arruma o boné e eu encaro ele firme. — Tá muito estressada, tá precisando de um chá de piroca. Tem a minha aqui se tu precisar!

— Tá de sacanagem com minha cara Matheus, vai tomar no seu cu, viado! — falo jogando o baseado no chão e pisando em cima me virando de costas pra ele.

— Cê não sabe levar nada na brincadeira, cara. — fala revoltado e eu saio dali.

Meu dia tava tranquilo demais.

Desço e vou direto pra segunda boca, tenho que ver como anda a saída do dinheiro e a entrada, fiquei por lá até a hora do almoço, quando ia subindo pra casa vejo a Dona Carla me chamar, atrevesso a rua e paro na calçada dela.

— Qual foi Dona? Tá com algum problema aí? — tinha que tratar tanto ela quanto a Eduarda no maior respeito, mãe e irmã de amigo meu.

— Você viu a Eduarda por aí? Me ligaram da escola dela me perguntando o porque dela faltar três dias seguidos. — passa a mão no cabelo parecendo preocupada.

— Vi ela quase agorinha lá perto da boca principal. Se quiser aciono o radinho e mando ela vir pra casa. — falo e ela nega.

— Não quero que o Guilherme saiba disso. Pode deixar que eu mesma vou atrás dela! — concordo. — Obrigada, Ren...Rw — ela corrige e eu balanço a cabeça votando meu caminho.

Almoçar e descansar que aparti das nove o bailão de sexta começa.

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M.

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