Capítulo 1

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                          Doralice

Me aproximo da grande caverna enquanto ouço a canção fúnebre vindo dali, meu coração aperta por está ouvindo mais uma vez aquela melodia triste em tão pouco tempo, sinto uma mão gelada pousar em meu ombro nú e olho para trás vendo ser a senhora Anastácia que tem seus olhos marejados pela perda de sua melhor amiga, ela me entrega uma túnica de cor escura e a visto para cobrir minha nudez, olho para a caverna e respiro fundo, ela aperta meu ombro suavemente me dando forças. Tento dar alguns passos, mas parece que meus pés estão enraizados no chão.

-Eu não consigo dona Anastácia!  Choro e ela me abraça, seu cheiro suave de pêssego me embala, me passando um pouco de conforto.

-Seja forte meu bem, sei o quão difícil está sendo, mas você precisa se despedir da sua mãe! Diz baixo em meu ouvido enquanto alisa meus cabelos curtos, a abraço com mais um pouco de força, tentando encontrar um pouco de consolo, e lhe solto com relutância, seus olhos estão brilhantes pelas lágrimas e me viro ficando de frente para a caverna e ela empurra meus ombros devagar, para que possamos entrar na caverna ao qual usamos para velar os lupinos que partem, caminho lentamente sentindo minhas pernas instáveis e afasto as videiras que cobrem a entrada rochosa da caverna como uma cortina, entro na gruta que está iluminada fracamente pela luz da lua que entra pela grande abertura no teto rochoso. Muitos lobos da alcatéia  estão ali presentes para se despedir de mais um dos seus, eles cessam a cantoria deixando o local em completo silêncio e abaixam a cabeça em respeito, olho para o corpo sem vida de minha mãe descansando sobre uma rocha que foi escupida em uma forma oval e abaixo tem uma abertura com vários pedaços de madeiras bem organizados para a cremação. A luz da lua ilumina seu corpo dando destaque a seus cabelos acobreados, assim como os meus, me aproximo vendo que várias flores coloridas que perfumam o local rodeando seu corpo e um lírio branco descansa sobre seu corpo enquanto suas mãos cruzadas prendem seu caule, sorrio levemente com aquele detalhe pois todos ali sabiam o quão grande era o fascínio de minha mãe por flores, principalmente os lírios que eram suas preferidas. Toco o seu rosto pálido, sentindo a pele fria de seu corpo sem vida, e o primeiro soluço quebra o silêncio da caverna em seguida por mais um e mais outros por algum tempo, ninguém ousou se aproximar ou falar algo, apenas respeitaram em silêncio meu momento de sofrimento.

-Que Luna te dê um bom descanso mãe, e se encontrar papai diga que o amo muito e estou com saudades! Sussurro mesmo sabendo que aquilo não irá acontecer, mas esse é o único conforto que posso ter agora, esse era o único conforto que eu queria ter, pensar que ela apenas foi de encontro ao amor de sua vida.

O alfa líder se aproxima de mim e acende a tocha em sua mão, olho para as chamas, sentindo meu peito apertar enquanto me engasgo com o choro. Ele me estende e a segura por algum tempo já que não tive coragem de mover minhas mãos para pega-la.

-Chegou a hora filha! Senhora Anastácia diz e pego a tocha com as mãos trêmulas e por um momento a tocha quase cai no chão, o alfa a segura por cima de minha mão me dando firmeza e o agradeço.

Olho para minha mãe uma última vez antes de seu corpo ser coberto por um pano branco e todos os lupinos ali presentes mutam para sua forma animal e começam a uivar em despedida, coloco a tocha perto das madeiras abaixo do seu lugar de descanso, essas que começam a queimar timidamente e logo se tornam chamas altas e devoradoras enquanto o corpo de minha mãe o consumido rapidamente. Me transformo e uivo dolorosamente, abaixo minha cabeça a curvando em despedida enquanto as lágrimas molham minha pelagem avermelhada. Olho uma última vez para as chamas e saio correndo dali para o único lugar seguro que conheço.

Corro entre as grandes árvores sentindo meu peito quase explodindo,  entro em casa sentindo o peso da solidão e devagar vou até a cama que dividi com minha mãe após a morte de meu pai, me deito na cama agora fria e espaçosa demais, me transformo em humana novamente e puxo seu travesseiro para mim o abraço sentindo o cheiro suave de maçã, o cheiro que eu amava sentir todas as noites enquanto me sentia confortável e protegida em seus braços, então ali desabo sendo consumida pela dor da perda, pelo medo de um futuro de solidão, já que não tenho mais por perto as pessoas que me traziam a felicidade e proteção.

A curandeira do AlfaHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin