-- A senhora não está... – Erick soltou uma risada incrédula, mas a condessa o interrompeu.

-- Seu pai me prometeu que resolveria a questão e em troca pediu que nos encontrássemos todos os dias. Ele me disse estar muito curioso com as questões que eu exponho agora, mas mais tarde eu descobri que não era exatamente verdade. – a condessa ruborizou e continuou. – Por um mês eu encontrei seu pai todos os dias e contei sobre tudo o que ele precisava e queria saber. Sobre nosso povo, nossos poderes, a prisão sob o lago, o equilíbrio natural. E nesse tempo seu pai foi convencendo seu avô de que haviam problemas legais na venda das terras da floresta. Até que ele forjou papéis que indicavam que eles pertenciam à minha família.

O conde arregalou os olhos, mas dessa vez não interrompeu a mãe.

-- Com nomes falsos e roupas adequadas, ele me apresentou ao seu avô. Disse que minha mãe estava doente e meu pai viajando à negócios, por isso ele achou prudente apresentar a herdeira da família. Seu avô não era uma pessoa ruim, mas era bastante intimidante e seco. Tinha um tino excelente para negócios e via algo lucrativo na derrubada da floresta. A princípio ele sugeriu comprar a floresta, mas seu pai já havia me instruído a recusar a oferta. Seu avô ficou inconformado, mas eu fui irredutível. Eu achava que isso resolveria o problema e fiquei muito grata ao seu pai. Continuamos a nos ver, contra a vontade do meu povo, mas eu já estava encantada com seu pai e ele comigo. Por isso, quando seu avô tentou novamente comprar as terras da floresta, seu pai sugeriu que nos casássemos e como trato, a floresta não seria derrubada enquanto estivesse na nossa família.

-- Papai foi malandro... – Erick deixou escapar em um pensamento automático.

-- Sim. – a condessa sorriu. – Por isso, também, que insisto que você se case e tenha um herdeiro. As terras da floresta não podem sair da nossa família.

Erick a encarou em silêncio. Não iria discutir essa questão naquele momento. A condessa entendeu e continuou, resignada.

-- Mesmo sabendo que aquilo era uma manobra do seu pai para ficar comigo, eu concordei. Em parte por estar apaixonada por ele, em parte por achar que isso salvaria a floresta e em parte por não pensar nas consequências.

-- Quais consequências?

-- Quando alguém do meu mundo se une a alguém do mundo dos homens, há uma ruptura no equilíbrio. Como uma pequena falha. No dia do meu casamento com seu pai, essa falha ocorreu e um espírito maligno, o Duroia, se libertou da prisão do lago. Mas os anos de prisão o deixaram fraco e ele não pôde fazer nada de mal nesse mundo. Contudo, ele se alimenta da nossa magia e por anos ele foi sugando a minha. Por isso, eu não tenho mais poder algum.

Erick observava a mãe em silêncio. Era muita coisa para digerir. Ele balançou a cabeça em negativa e riu. Sua mãe era um ser da floresta. É isso? Isso era ridículo... Seria ela uma ninfa? Uma fada?

-- O que você é... era? – Erick perguntou sem entender porque estava perguntando isso.

-- Eu sou uma ninfa. – a condessa respondeu. – Meu sangue não mudou, é o mesmo, mas não há mais poder nele.

A resposta direta e sincera da condessa desconcertou o conde. Ele sentia como se estivesse em uma alucinação.

-- O que isso faz de mim? – ele quis saber de repente.

-- Você é um híbrido, querido. Quando nasceu, uma nova ruptura foi criada no equilíbrio natural e o Duroia que vagava nas nossas terras, se alimentando do meu poder, ficou mais forte. Contudo, o sangue do seu pai o protegeu e o espírito não pôde atacá-lo diretamente. Não sabíamos disso, pois nunca houve um híbrido antes. Você foi o primeiro.

O conde olhou para as mãos e fitou os vasos sanguíneos que saltavam sob a pele, como se os visse pela primeira vez e fosse capaz de enxergar qualquer indício do que a mãe lhe dizia.

-- Quando você completou cinco anos, porém, o Duroia descobriu um modo de roubar seu poder. – a condessa continuou. – Ele é capaz de sugar meu poder sem me causar dano, mas para sugar o seu, ele precisa se livrar da proteção humana. Para isso, ele precisa te matar.

-- A senhora disse que quando eu era pequeno tive a mesma "doença" de Alice... – Erick disse mais para si mesmo, pensativo.

-- Sim... Quando você tinha cinco anos, o espírito usou seu poder para tentar drenar o sangue humano do seu corpo. Por isso as dores e as convulsões. Ele estava causando uma hemorragia interna.

-- Ah, meu Deus. Alice! – o conde sentiu falta de ar.

-- Sim. É isso que está acontecendo com Alice agora... Ela também é uma híbrida.

-- A curandeira... a senhora disse que havia uma curandeira. Isso impediu que esse espírito continuasse a me atacar. – Erick se lembrou de repente.

-- Sim. Minha melhor amiga, Feyre... Ela estava sempre de olho em mim e ouviu meu desespero em uma noite em que você teve um episódio. Sem hesitar ela veio até o castelo. Ela o protegeu...

-- Como?

-- Usou sua magia para adormecer o espírito.

-- Porque ela não o matou? – Erick se irritou.

-- Espíritos da floresta não podem ser mortos, Erick. – a condessa riu da ingenuidade do filho. - Enquanto houver uma folha verde sobre a Terra, eles existirão. Tantos os bons quanto os malignos.

-- Mas ele não me afetou todos esses anos...

-- Não. Pois ele estava hibernando graças à magia de Feyre. Mas a magia de Feyre não conseguiu mantê-lo dormente quando um novo híbrido nasceu.

-- E agora ele quer o poder que corre nas veias de Alice? – Eick perguntou.

-- Sim.

-- E como a minha presença pode prejudicá-la?

-- Por causa do seu poder. Nossas magias se conectam, seu sangue e o dela estão conectados. Quando você está próximo de Alice, intensifica o poder que corre no sangue dela. Sua presença durante os episódios dela só acelerará a ação do Duroia.

Erick fechou a mão em punho e se ergueu, sovando a primeira parede que alcançou.

-- Porque você nunca me contou isso?

-- Você acreditaria?

-- Estou acreditando agora, não estou?

-- Só porque sua filha é uma prova viva do que estou dizendo.

Erick deu outro soco na parede e gritou, frustrado.

-- Onde está sua amiga? Porque ela não veio ajudar?

-- Ela foi castigada por ter me ajudado antes. – a condessa respondeu em um sussurro melancólico. -- Não pode pisar fora da floresta se não quiser ser banida.

Erick estava confuso, com raiva e com medo. Começou a andar de um lado para outro, angustiado, até que um novo grito de dor fez seu coração parar.

-- Alice! – ele correu para porta, mas então estancou e olhou para mãe.

A condessa balançou a cabeça em negativa, advertindo-o da necessidade de ele ficar longe. Seu rosto era uma máscara de dor e angústia e isso apenas serviu para aumentar o medo de Erick.

Desesperado, ele saiu do escritório, atravessou o saguão e foi para o jardim. Ele precisava respirar. Precisava sentir o ar gelado na pele. Precisava entender!

A curaWhere stories live. Discover now