A cada troca de professor eu espero, desesperadamente, que alguém me socorra tirando Theo daqui. Mas só o que acontece é Theo me chamando quase num sussurro, perguntando se não vou mesmo olhar para ele.

Odeio o efeito que sua voz tem em meus ouvidos, em meu corpo e especialmente em meu útero. Já ouvi Bittencourt muitas vezes, mas ultimamente tem sido pior. Muito pior.

Como se o tom de sua voz ativasse gatilhos que antes não existiam. Que eu nem mesmo sei o que diabos estão fazendo aqui.

Alguns meninos às vezes vêm até ele somente para voltarem para seus lugares logo em seguida, sozinhos. Eles sequer tentam convidá-lo. Devem saber, até melhor que eu, que Theo faz o que quer e como quer. Portanto, escolher sentar no lugar de Geórgia não é uma decisão para ser questionada.

Isso vai criando um volume em minha garganta que dificulta minha respiração. É um pedaço maciço de ar quente que não sobe nem desce.

Quando finalmente chegamos ao intervalo e decido que a única alternativa é fugir eu mesma de perto desse embuste, Theo me segura pelo cotovelo e me impede de sair.

— Você não vai a lugar nenhum — ele diz entredentes.

Há algo em sua voz que faz minhas pernas amolecerem e lhe darem exatamente o que ele quer. Mal consigo sustentar meu peso, quem dirá caminhar para fora daqui.

Por isso, quando ele me empurra gentilmente de volta para a cadeira, eu me sento. Com as costas apoiadas na parede fico ali sentindo o meio das minhas pernas pulsar sem meu consentimento.

Sua mão vasculha entre minhas canetas e lápis cada bilhetinho que ignorei e depois os enfia no bolso do uniforme com um olhar de repreensão.

A sala se esvazia enquanto ele finge me mostrar algo em seu caderno, me alertando para não bancar a espertinha. Não sei porque se preocupa tanto em encenar casualidade, a essa altura a turma inteira já entendeu que tem algo acontecendo entre nós e temo que os próximos rumores não sejam tão gentis quanto os últimos foram.

— Fala logo o que você quer — ralho com ele quando vejo que não sobrou ninguém além de nós.

Corro para a porta, mas as passadas longas de Theo me alcançam e no instante seguinte um vento sopra meus cabelos para trás quando a porta é fechada diante de mim, sua mão está firme na maçaneta e seu corpo paira às minhas costas como uma sombra.

— Só conversar... — ele diz sugestivo. Não move um dedo sequer e acabo me sentindo obrigada a girar nos calcanhares para encará-lo.

É um erro, mas não tenho como desfazer minha ação, por isso finjo que nossa proximidade não me incomoda.

— Eu confesso que achei que seria algo mais grave, mas olhando pra você agora... — Um passo em minha direção e minhas costas se chocam contra a porta. — Acho até que entendo a sujeira por trás de tudo.

O sonho me sufoca como se tentasse sair pela minha boca, como se me cobrasse o mesmo comportamento. Mas na realidade não posso realmente querer Theo naquele nível. Porque o Theo da vida real é exatamente a versão do meu pesadelo.

— Não sei do quê você tá falando — tento soar o mais indiferente possível.

Ele sorri e seus dentes são irritantemente bem alinhados e brancos. Os caninos sempre afundando na carne farta de seus lábios e a essa distância, sem o véu dos sonhos para bagunçar minhas memórias, ele parece ainda mais bonito.

Seus cabelos parecem macios ao toque e sua pele tem um fundo vermelho quente, de ódio. Seus olhos são escuros e duros, indiferentes. Mesmo assim me atravessam, com um esforço hercúleo para enxergar além da superfície. Dura só um segundo, mas é o bastante para me aterrorizar. Ele não pode ver o que há lá dentro, Theo não tem empatia para essa pessoa.

Eu não sou sua princesaWhere stories live. Discover now