Seu Devoto mais Fiel

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Sol da Manhã

As lanternas subiam em direção ao céu enquanto o sol se punha nos limites de Tiantang. A vida ali era pacata, tranquila. Todos os dias, assim que o sol nascia, Mudan preparava as coisas para o chá enquanto seu marido preguiçosamente se vestia. Os dois estavam juntos há tempo indeterminado... o tempo ali passava sem pressa. Long se sentia satisfeito, encostado na beirada da janela, observando seu pequeno esposo derramar água quente sobre as folhas vaporizadas que lentamente desabrochavam como uma flor.

Durante a manhã, cuidavam da plantação, alimentavam os animais... Perto do meio dia, Long estocava madeira enquanto Mudan aguava o jardim, então preparavam juntos a refeição. No período da tarde, descansavam, promoviam encontros com bons amigos, tocavam música, recitavam antigos poemas. Tudo era sempre perfeito e tranquilo... tão perfeito que às vezes, Long achava insuportável.

"A noite está quente, vamos deixar a janela aberta." Disse Mudan enquanto se deitava.

"Sim... que perigo haveria nisso, não é?" Long resmunga com os braços cruzados encarando a macieira do lado de fora.

"Aconteceu alguma coisa?"

O dragão suspira e vai até a cama beijando a testa de seu adorável esposo. "Não. Tudo está bem. Como sempre..."

As velas se apagam e ambos deitam encerrando mais um dia.

Encarando o teto, Long recorda em silêncio de sua vida antes de Mudan, antes de Tiantang, antes de toda essa calmaria, e subitamente ouve o tinir das lâminas se chocando em combate. Ele aperta os olhos com força, inspira rapidamente e expira lentamente deixando o ar fazer som, depois, posiciona a ponta da língua atrás dos dentes superiores e se concentra no ar que entra e sai. Era surpreendente que ainda se lembrasse do básico da meditação já que ali tal prática era dispensada. Seus olhos se abrem e tombam pro lado pousando em seu amado. Mudan nem sonha com essas memórias e Long reza para que as coisas continuem assim. Perdê-lo uma vez já foi mais do que ele poderia suportar.

Pessegueiro Rubro

O sangue manchava a neve imaculada ao longo de toda a Vila Dengta. As chamas consumiam as casas e tudo que se ouvia era o soprar do vento e as madeiras estralando em brasa.
Long se mantia imóvel no centro do caos. Cabeça baixa. Mão segurando a espada. Sangue escorrendo pela lâmina. Aos poucos, sua visão se tornava mais clara e a consciência voltava ao corpo. Não havia mais nada ali para ele... nem para ninguém.
Guardou a espada e voltou a entrada do templo profanado. Ajoelhou e acolheu nos braços sua preciosa flor. Essa não era uma escolha que alguém deveria tomar por outra pessoa, mas ele sabia, que a doçura no coração de seu esposo se quebraria se aquelas memórias permanecessem. Long posicionou o indicador entre as sobrancelhas do outro e fechou os olhos com força.
Quando o sol raiou, sua flor acordou a caminho de uma nova vida. Renovado, radiante. Long sorriu quando seus olhos se encontraram. Sorriu enterrando dentro de si todo aquele passado e jurando para si mesmo que aquilo jamais seria mencionado.

Um Rouxinol que Não Canta

Long ficava sozinho a maior parte do tempo. Na verdade, ele sempre estava rodeado de pessoas, mas sendo o único que lembrava, ele carregava o peso sozinho... e esse peso ia o arrastando para longe de todos. Ele ergueu os olhos na direção da bancada de madeira onde Mudan cortava os legumes. Sua mente saiu do corpo e as pernas se moveram sozinhas até que seu corpo se chocasse com o do outro que reagiu com um olhar gentil.

Long segurou a cintura fina de seu pequeno esposo, o puxando para ele, fazendo com que seus quadris se chocassem. Mudan congelou depositando o cutelo sobre a bancada.

"Eu... preciso terminar o almoço."

"Eu preciso... de você."

Mudan tentou pensar em uma resposta, mas já era tarde de mais. Dedos ágeis desfaziam o nó que fechava suas vestes e antes que pudesse dar uma resposta, seu corpo girou 180 graus e ele foi calado por um beijo ansioso. Ofegante, Mudan tentou dizer ao marido que esperasse até a noite, mas o dragão diante dele estava faminto e avançou ferozmente o prendendo num abraço imponente e o sentando sobre a bancada.

Long nunca se sentiu confortável com desabafos, então quando sentia que ia explodir, recorria aos braços de sua amada flor e adentrava seu templo como um devoto fervoroso. 


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PS: Eu sei que o título é sugestivo, mas não. Não é fanfic de hualian.

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