Capítulo Único

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Harry acordou assustado às três da manhã. Suas mãos tremiam, suor gelado escorria por sua testa, e seu coração palpitava violentamente em seu peito. A respiração não estava fácil de controlar também, e levou alguns minutos para que ele conseguisse se acalmar o suficiente para alcançar seus óculos do outro lado da cama.

Com dificuldade, ele alcançou o celular também, e abriu uma mensagem de texto recente de Draco.

"Se precisar de qualquer coisa, me liga."

Não seria a primeira vez que Harry ligaria para Draco no meio da madrugada depois de uma crise de pânico, ele sabia que poderia ligar se quisesse e que Draco jamais reclamaria. Mas Harry se sentia culpado em despejar todos os seus problemas no amigo, mesmo que ele fosse a única pessoa no planeta que parecia entender verdadeiramente seu sofrimento diário.

Não era algo fácil admitir, mas a guerra traumatizou Harry Potter ao ponto de que dormir era uma tarefa quase impossível, e cada vez que ele fechava os olhos as imagens da guerra invadiam sua mente de uma maneira avassaladora. Crises de pânico, paralisias do sono e pesadelos eram frequentes; tão frequentes que se Harry dormia duas ou três horas por noite, essa noite era considerada uma boa noite de sono.

E no meio de tanto trauma, Draco Malfoy havia se tornado seu porto seguro. Quando as crises de pânico atacavam, ou quando os pesadelos não o deixavam dormir, era o telefone de Draco que tocava do outro lado da cidade. E era ele quem atendia antes do terceiro toque. Como se estivesse esperando o telefone tocar.

Nos meses seguintes da guerra, muita coisa aconteceu. Draco foi o primeiro a procurar Harry para pedir desculpas por tudo o que aconteceu entre eles durante os anos em Hogwarts, e por todo o seu envolvimento — forçado — com os comensais da morte. E foi fácil para Harry perdoá-lo, pois ele sabia como era ser empurrado para o meio de uma guerra por causa das escolhas de outras pessoas.

E foi mais fácil ainda se aproximar do garoto depois de descobrir como ele realmente era por dentro. Fora daquela casca impenetrável de sonserino-rico-babaca-esnobe havia uma pessoa frágil, traumatizada, magoada e sozinha. Assim como por trás da casca de herói de Harry também havia uma pessoa completamente diferente.

A conexão que eles criaram com o passar dos anos começou a ficar tão forte, que Draco era agora a única pessoa para quem Harry ligava quando precisava de um ombro amigo.

— Talvez eu devesse ligar de uma vez — Harry disse para si mesmo enquanto ainda encarava seu celular.

Mas não era fácil assim. Por mais acostumado que estivesse com a voz rouca de sono de Draco atendendo o celular nas madrugadas, ou por mais que ansiasse por esses momentos todos os dias, não era fácil admitir. Porque cada vez que ele discava aquele número, mais perto ficava de admitir para si mesmo que precisava daquilo, que precisava de Draco.

Mas seria uma coisa tão ruim assim de admitir?

Com as mãos tremendo, Harry digitou o número.

Um. Dois toques. E então Draco atendeu.

— Harry? — A voz de Draco estava rouca e arrastada.

O arrependimento veio na mesma hora.

— Oi. — Foi a única coisa que conseguiu dizer.

Por que era tão difícil? O que havia de errado em precisar de alguém nas horas de desespero? Eles já haviam passado por isso centenas de vezes, então por que dessa vez era tão diferente e assustador?

— Não consegue dormir? — Draco perguntou, o tom de sua voz voltando ao normal aos poucos.

— Não — Harry respondeu baixinho. — Os flashbacks... acontecem toda vez que fecho os olhos.

3 a.m || Drarryحيث تعيش القصص. اكتشف الآن