18:30 horas.
Chegamos a casa e sento-me no sofá, literalmente ocupando-o todo. Estava cansada e o dia foi cheio de emoções. E ainda era só o primeiro dia de férias!
- Olha mas vais levantar os pezinhos ou quê?- abro um olho e vejo Afonso e a lambisgóia a olharem para mim com cara de enterro.
- Quê.- respondo e ele fica a olhar para mim confuso.- Oh seu lerdas, tu perguntaste " vais levantar os pezinhos ou QUÊ?" e eu respondi "QUÊ". Tão simples quanto isso.- eu digo coçando os olhos e vejo de esguelha a expressão incrédula de Bárbara.
- Desculpa, mas tu não vais fazer nada Afonso?- ouço a lambisgóia resmungar e eu solto uma gargalhada.
- A casa é minha, faço o que bem me apetece e tu não tens que andar a cacarejar por aí, ouviste Bárbarazinha?- eu digo acabando a frase com uma voz adorável.
- Sofia, para de ser assim!- o Tiago aparece não sei de onde com uma garrafa de água, despertando-me logo.
- Dá-me um pouquinho, maninho!- eu digo e faço beicinho.
- Só se te levantares daí para as pessoas se sentarem, senão nada feito.- ele diz e eu reviro os olhos levantando-me e sentando apropriadamente.
- Idiota.- eu sussurro e sinto uma chapadinha na minha nuca, fazendo-me virar para trás, para ver quem foi o idiota.
- Eu ouvi!- diz o Tiago ainda com a garrafa na mão.
- Para que é que foi isso, cara de-...- interrompo-me e conto até 10.
1,2,3,quatcincseisetoitnove, 10. Nova linguagem portuguesa, não me julguem.
- Dás-me a água, querido irmão?- digo fazendo beicinho e ele franze a testa desconfiado, passando-me a água.- Raça do miúdo, não me dava a merda da água por nada!- eu grito assim que tenho a água comigo e ouço uma risada baixa a meu lado.- Porque é que te estás a rir ah?
- Tu és tão mas tão infantil.- com esta quase que me saí a água toda que tinha na boca.
- Oh meu Deus, fizeste-me o dia! Eu? Infantil? Já te olhaste ao espelho?- eu digo divertida e vejo o gambuzino a revirar os olhos, enquanto tira a Bárbara do seu colo.
- Olha, eu não sou infantil, tu é que mandas bocas de miúdas de 6 anos!- ele diz e vira-se de frente para mim, tentando-me enfrentar e meter medo. Tentativa falhada.
- E tu é que te ris como um ganso!- eu digo e ele semicerra os olhos, aproximando-se mais da minha cara.
- E tu pareces uma foca!- ele responde e já sinto a respiração dele na minha cara.
- E agora sou eu que tem bocas infantis!- eu grito e sinto os nosso lábios rasparem, deixando-me desnorteada por apenas uns segundos.
- Afonso!- ouço uma voz esganiçada e aleluia que aquela sanguessuga falou, ainda me ia dar uma coisinha má com tanta proximidade daquele gambuzino.- Não achas que já estás a abusar?
- Abusar em quê, Bárbara?- ele diz irritado e desvia-se de mim como quem não quer a coisa. Gambuzino peludo.
- Estavas quase a beijá-la! À minha frente!- ela diz levantando-se e mexendo os braços freneticamente.
- Estás maluca, achas mesmo que eu ia beijar aquela pita?- Autch. Doeu.- Olha vamos mas é embora, antes que te dê um ataque de ciúmes e vás para o hospital.- reviro os olhos e também me levanto.
- Vou para o quarto.- aviso para ninguém em especial e reparo que Tiago esteve a assistir a todo o drama de boca aberta.- Fecha a boca idiota!- eu grito já no cimo das escadas e entro no quarto, batendo a porta com força.
Hold back the river,
let me look in your eyes,
Hold back the river,
so I...
O meu telemóvel começa a tocar e eu tiro-o do bolso de trás das calças, atendendo sem ver quem é.
- Alô, alma indigna da minha pessoa?- digo pegando num quadro que tenho na mesinha de cabeceira e examinando-o. Não consigo parar quieta quando estou numa chamada, nunca soube porquê.
- Sof! Estou há horas a tentar falar contigo e não atendes o telemóvel.- Francisca. Melhor amiga. Apresentações feitas.
- Que queres Chica? Não estou com paciência nenhuma agora.
- A mesma mal humorada de sempre... Olha sempre queres vir ao shopping comigo amanhã?- já consigo imaginá-la a roer a unha do dedo mindinho.
- Vamos comer gelado?- eu digo com voz melosa.
- Sim...- ela responde claramente aborrecida. Era sempre a mesma coisa.
- Então combinado, adeus minha pipoquinha azeda!
Desligo a chamada e atiro o telemóvel para cima da cama, saltando, rebolando e caindo no chão. A sério, o chão deve de ter um magnetismo pelas minhas coisas, até dá dó.
Pego numas cuecas e no meu pijama e caminho até fora do quarto para dar de caras com Afonso.
- Ainda não foste embora gambuzino?- eu pergunto e tento avançar até à casa de banho, mas ele impede-me a passagem.
- Lindas cuecas.- olho para baixo e vejo que são umas cuecas cor de rosa clarinhas.
- Eu sei, são da Intimissimi.- eu digo encolhendo os ombros mas logo acordo para a vida.- Mas o que estás aqui a fazer ainda?
- Esqueci-me do telemóvel no quarto do teu irmão.- ele responde e eu reviro os olhos.
- Olha que bom, agora deixa-me passar.- eu digo,dando-lhe um encontrão no ombro.
Ele agarra-me no pulso e puxa-me para si, olhando-me intensamente.
- Sabes, eu não sei porque é que tu me odeias, eu simplesmente te acho irritante, sempre a implicar comigo.E se voltares a ser uma vaca com a Bárbara eu...- ui que medo. Sintam a ironia a fluir dos meus poros.
- Eu o que? Vais me bater é?- eu respondo com ironia e ele larga-me o braço, respirando fundo assim que nos separamos. Acho que ele também está a contar até 10, mas não posso ter a certeza.
- Eu nunca bateria numa miúda.- ele apenas diz e sorri de canto.
- Eu não gosto dela, assim como te odeio e não vais ser tu que me vais dizer o que quer que seja ouviste?- eu aviso apontando com o dedo bem perto da sua cara.
- Porque é que me odeias?- ele pergunta assim de repente e eu fecho a boca. Porquê mesmo?
- Porque tu és irritante. E um idiota.- eu paro um pouco e reflito em mais argumentos.- E cheiras mal.
- Eu não cheiro mal!- ele guincha e eu contenho-me para não rir.
- Isso é porque já estás habituado ao cheiro!- eu explico gargalhando um pouco e ouço ele bufar.
- A Bárbara não se queixa!- ele contrapõe.
- Isso é porque ela tem um nariz tão bicudo e empinado que provavelmente tem as narinas tapadas!- eu digo rindo-me um pouco e Afonso não resiste, gargalhando comigo um pouco.
- Amor, já vens?- ouço ela nas escadas e reviro os olhos.
- Vai lá, já não consigo aturar a vozinha dela!- eu falo para Afonso e ele apenas encolhe os ombros, descendo as escadas a correr.
Suspiro e entro na casa de banho, pousando as coisas no lavatório e trancando a porta, para o caso do Tiago se lembrar e entrar sem bater.
Olho-me ao espelho - loira, olhos castanhos claros e pele clara. Não sou a perfeição em pessoa e não acredito em perfeição. E o meu feitio, afasta qualquer pessoa que me apareça à frente. Mas também quem quer alguém partido como eu por dentro?
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Only Fools Fall For You || PT ||
Teen FictionI hate your cigarettes and the women you go see, because one is killing you and the other is killing me. PORTUGUESE FICTION
