A letra não parecia ser de Violet, caligrafia esta que, incrivelmente eu conhecia bem dos arquivos da polícia. As trocentas passagens — e a prisão, inclusive — não me deixavam mentir nem que eu quisesse. Engoli seco e um arrepio novamente percorreu minha espinha, porque se não era dela, só podia ser de Jinx.
Minha cabeça doeu e eu precisei me sentar pra lidar com o meu corpo absorvendo os últimos segundos antes de não lembrar de mais nada. Era fumaça por todo canto, gritos, sons de tiros de tantas armas, que eu não era capaz de reconhecer nenhuma. Um choque de realidade me atingiu quando me toquei que, se aquilo era a letra de Jinx, ela devia estar em casa ou, na pior das hipóteses, machucado alguém.
Disparei correndo pelo quarto em direção à porta, a maçaneta emperrada me levou à tomar a decisão muito madura de berrar pelos meus pais. Ouvia barulho do outro lado, mas estava tão desesperada que comecei a chorar e quando a porta se abriu de repente, nem a voz da minha mãe perguntando se estava tudo bem me acalmou. Meu peito queimava, doía, meu coração batia dilacerado no peito e eu não conseguia respirar, nem parar de chorar. Nunca tinha sentido tanto desespero na minha vida.
Algo me agarrou, porque eu simplesmente não conseguia parar. Ver meus pais bem, ali, preocupados comigo, parecia não parecia ser o suficiente pra aplacar o desespero que preenchia meu peito. Alguém me mandava respirar fundo e as mãos eram mais finas do que eu estava acostumada. Eu não tinha ideia de quem era, mas alguém vinha correndo do meu banheiro e, essa sim, eu reconheci.
— Caitlyn, você quer me matar? — ela perguntou me segurando pelos braços e puxando pra que me sentasse na cama. Acho que eu nunca tinha tremido tanto na vida.
— Tinha mais alguém aqui — respondi, olhando pelos cantos, e Violet me apontou atrás da cama. Jinx estava agachada, tampando os ouvidos, parecia assustada. Era quase outra pessoa.
Pra alguém que sempre fazia tanto estardalhaço, parecia estranho que tivesse medo de barulho, mas naquele meio segundo antes de voltar a mim, me senti mal por ela. Depois passou e eu gostaria de mandá-la para o inferno, só que na frente dos meus pais seria um desastre.
— Tudo bem, não vou gritar mais. Desculpe. Preciso que alguém me explique o que está acontecendo aqui.
— Eu acho que a gente precisa conversar, mas... — Violet começou e eu a olhei com um "nossa, jura?", desdém, mas minha mãe interviu.
— Sua missão deu errado, meu amor — minha mãe colocou a mão em meu ombro, como se eu fosse uma criança frustrada. Senti raiva disso, porque eu sabia lidar com as minhas frustrações há um bom tempo. Quando é que ela se daria conta de que eu havia crescido, hein? — Mas sua... Amiga, e a irmã dela, conseguiram acabar com os bandidos e te resgatar.
— Me resgatar, sim — respondi, duvidando muito de todas as palavras. Pareciam completamente ensaiadas. Com raiva, me levantei e comecei a andar pelo quarto, procurando qualquer indício da farsa. — Com o que ela está ameaçando vocês?
— Caitlyn... — Vi tentou me parar, mas eu fiz sinal pra que ela calasse aquela porcaria de boca.
— Não tem "Caitlyn", não tem "Cupcake". Ela não é confiável, você não é confiável, eu quero vocês duas FORA da minha casa, e eu não quero te ver mais. Onde está a porra da arma que ela está usando pra ameaçar vocês? — Chacoalhei minha mãe na tentativa de tirar uma coisa, qualquer coisa que comprovasse que eu não era louca, que aquela garota era uma assassina doente e que o lugar dela era atrás das grades, em um reformatório, sei lá, LONGE das pessoas que eu amava, de mim, da minha casa.
— Você está completamente fora da casinha e eu tô caindo fora — Violet disparou, pegando a irmã do chão e oferecendo apoio, indo em direção à porta. — Fica aí, quando quiser conversar sem essa putaria tu me chama.
Ela saiu, sem olhar pra trás. Eu odiei me sentir aliviada... Agora que eu podia pensar sem me preocupar se seria atacada, ou se minha família corria riscos, ignorei meus pais, os tirei do meu quarto e tranquei a porta. Ao olhar pro espelho de cabeça fria, me surgiu uma dúvida dolorida... Havia alguma possibilidade do "sorry" pichado em meu espalho ser realmente um pedido de desculpas, e não um ato com a pretensão de me assustar?

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Procurada: VII
FanfictionNOTA: LEIA A TEMPORADA PROCURADA: VI PRIMEIRO. Em sua primeira tarefa como nova Xerife da cidade, a piltovense Caitlyn Kiramman precisa localizar e deter a criminosa das ruas violentas de Zaun, conhecida como "JINX", apelido este dado por sua irmã...