Camila esperava seu pedido sair na padaria, estavam prestes a partirem de Ciudad Juarez, todos pediram algo para comer no café da manhã, as mulheres que haviam restado naquela cruzada eram somente duas além dela, esposas de homens que abandonariam tudo no México em busca de tudo na América.
— Tia Sofía não veio até agora, estavam juntas? - A voz do pequeno despertou atenção da mexicana que olhou sobre o ombro, notando a criança com as mãos empurrando no balcão que ela se apoiava, ele a olhava com os olhos avermelhados, pareciam marejados de tanto chorar depois de uma situação evidentemente estressante.
Sofía era uma das três companheiras de alojamento que haviam saído para conseguir dinheiro com algum advogado qualquer. Ela sabia que a aquele ponto os coiotes não iriam atrás, não esperariam tampouco que elas estivessem prontas.
— Ela ficou na cidade, deve ter desistido para resolver alguma coisa. - Camila falou, notando com certo desespero o garoto chorar, as lágrimas caindo por sua bochecha a fez franzir o cenho olhando para sua volta, tentando chamar alguém para ajudar, mas o garoto parecia ali paralisado chorando com a testa empurrando no balcão.
— Nós vamos comprar doces nos Estados Unidos, não chora. - Sua falta de tato ou proximidade com seja qual fosse a criança a fez apalpar o cabelo dele com temeridade, os olhos perdidos na maneira como ele estava a ponto de explodir em outro rompante de choro.
— Lá tem doce pra caramba, daqueles bem diferentes, pode confiar, a Sofia me falou. - Ela tentou, franzindo o cenho ao notar que ela parecia parar gradativamente com seu desesperado choro, os olhos paralisados na feição dela o olhando como se fosse algum ser de outro planeta.
— Ela não vai com a gente mais? - Perguntou entre os pequenos soluços.
— Não, mas disse que vai ficar tudo bem, é só ir e conseguir uma grana para comprar os doces. - Sua justificativa pareceu fazer sentido à ele, que naquele instante, um pouco mais calmo assentiu a observando pegar o café da manhã do atendente da padaria. Os olhos perdidos no leite com chocolate que estava no balcão.
Entre um suspiro resignado ela conteve a vontade de revirar os olhos, "vamos lá camila, sua idiota" o corpo se moveu com os pensamentos a autorecriminando, pedindo o leite com chocolate para o garoto, depositando um dólar sobre o balcão para pagar. O pirralho a olhou como se tivesse lhe oferecido a vida inteira, e ela lhe entregou o leite no copo plástico, recebendo um abraço que a fez mover mecanicamente, sentando o observando que ele parecia agora ter encontrado sua nova obsessão, porque de fato não desprendeu o olhar da latina que o olhou em silêncio ao mastigar seu pão com manteiga quentinho da chapa.
— Quer? - Ofereceu notando que ele assentiu quase imediatamente.
Ela sabia que não tinha centavo algum no bolso para suprir aquilo. Entregou o pão para o garoto e tomou o resto que havia sobrado de seu café, os olhos castanhos desviando do menino porque se achava tediosa em se importar com aquilo, ainda estava com fome, mas decidiu não reverberar a informação quando de canto de olho notava que ele comia com certa pressa, mostrando que também estava faminto.
Era um pirralho abandonado no meio de um grupo de pessoas cruzando a fronteira ilegalmente, sabia que certas coisas não davam para ignorar. Assim que os minutos se passaram e sua resistência a olhar pro garoto parecia se esvair, ela percebeu o quanto ela comeu rápido e pareceu grato quando terminou, os olhos focados nela, Camila era seu novo ser a admirar, foi a pessoa que havia o ajudado, a admiração era gratuita.
Entre uma olhadela e outra ela recostou na cadeira observando o grupo de pessoas que iria junto deles até a fronteira naquela madrugada, moveriam pela cidade em direção às regiões de fronteira, para que ficassem prontos entre os caos para se jogarem de vez no sonho americano. O menino não parecia confiante mais em abandonar ela, a perseguia desde a padaria, se esgueirando para sentar sempre ao seu lado na van ou na sala de espera de um hotelzinho barato há 200 metros da fronteira.

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Wickedness
FanfictionLauren pertence a um grupo religioso de El Paso, fronteira entre Estados Unidos e México, suas dedicações diárias são movidas a abstinência de ações mundanas e ajudar na alfabetização de jovens imigrantes locais em retorno as bênçãos que acreditou r...