Capítulo 32 - Autora

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A loja de flores está vazia. Num clima terrível desses poucas pessoas compram flores, e afinal os russos nunca foram pessoas muito sensíveis. A senhora de meia-idade, pode-se chutar uns cinquenta anos, rega as plantinhas.

Ouve-se o barulho do sininho da porta, temos clientes. A moça bate seu casaco grosso tirando alguns flocos de neve que insistiram em ficar grudados. Ao tirar o capuz seu rosto aparece, o rosto da dom dos Wallerius, Ava.

- Trouxe dinheiro para as despesas do mês, dessa vez tem um pouco à mais, sei que no inverno não tem muitas vendas- Ava diz tirando o casaco.

- Pode por emcima do balcão- a senhora fala sem ao menos olhar para ela.

- A senhora precisa de alguma coisa?

- Não- a mulher responde seco sem tirar os olhos das suas plantinhas.

Ava dá um soco no balcão furiosa, fazendo o estrondo ecoar pela loja.

- Porra- esbraveja- Dá pra olhar para mim, mãe.

A mulher derruba o regador no chão e caminha na direção de Ava.

- Ou o que filha?- aponta o dedo para o rosto de Ava- Vai me matar como faz com quem te desagrada? É isso que vocês Wallerius fazem.

- Se esqueceu que tem dois filhos com o sobrenome de Wallerius.

A mulher se afasta.

Sim, a mulher em questão era a mãe de Ava e Vladimir. Violetta Wallerius, estado atual, falecida à sete anos. Pelo menos é isso que foi divulgado ao mundo, que a senhora Wallerius tinha morrido no acidente com seu amado marido.

- Sabe o que eu quero Ava?- Violetta quase grita- Ir embora da Rússia.

- Já te falei que não.

- A Violetta Wallerius está morta, eu sou Katherine Pushkin, a Violetta não existe mais- Violetta fala olhando fixamente nos olhos de Ava.

Ava passa a mão pelos cabelos, algo que ela faz quando está nervosa.

- Se te mandar para fora e alguém te reconhecer, vão te prender, te usar para barganhar na melhor das hipóteses- Ava fala com voz fria- Se não te torturarem até a morte, ou te fazerem de escrava sexual. Os Wallerius tem muitos inimigos só esperando uma brecha. Aqui na Rússia posso te manter absolutamente segura.

- Só quero deixar essa vida infeliz para trás- volta a regrar as plantas- E aqui tudo me lembra os anos infelizes que passei casada com seu pai.

- Mesmo com sua morte forjada, você ainda tem ligação com nós é muito arriscado- Ava explica.

- Nem fugir eu posso- Violetta ri debochada- Ninguém consegue fazer nada nessa cidade sem você saber. Todos tem medo do grade dom da Máfia Vermelha.

- Eu forjei a sua morte, te escondi, ajudei a mudar de identidade, te dei essa loja e te trago dinheiro todos os meses. Fiz tudo que podia pra te proteger.

- Sei bem seu jeito de proteger.

Violetta tinha sido obrigada a casar com Nikolai, eram os costumes. O antigo dom era apaixonado por ela, mas ela nunca gostou dele. Mesmo assim o casamento aconteceu. Nada bom nasce da convivência forçada de duas pessoas. Com o passar dos anos a indiferença da mulher fez Nikolai procurar carinho na rua, o que transformou a convivência dos dois ainda pior.

Cada vez que Violetta olhava para os filhos via os malditos traços dos Wallerius. Vladimir era parecido com Aleksander, pai de seu marido. E Ava tinha herdado os olhos do demônio. Aquele maldito olhar.

Aleksander Wallerius fez um acordo com o pai de Violetta. Claro era uma honra para qualquer um ter uma filha casada com um Wallerius, ainda mais o futuro dom.

- Você ainda é minha mãe- Ava fala sem ânimo.

Mesmo com todos os pesares, todos os Wallerius tinham um conceito bem forte de família. Ava carregava isso com ela, tinha a necessidade de proteger aquela mulher, mesmo ela nem ligando para os filhos.

- Odeio esses olhos- Violetta fala irritada- Os olhos do seu avô.

- O passado está no passado. Chega disso- Ava fala irritada- Sei que te forçar a casar foi errado, mas não tem como mudar o passado. Estou tentando melhorar estas tradições horríveis. Ninguém é obrigado a ficar com alguém.

Ava coloca o casaco e vai para a porta.

- Você se casou né?- Ava acena que sim- Tem certeza que não mantém ninguém presa à você contra a vontade? É horrivel ter que conviver com toda a sujeira do mundo dos Wallerius.

Pessoas amarguradas tem mania de projetar suas frustrações nas outras. Era isso que Violetta fazia. Descontava todo o rancor de seu casamento arranjado nos filhos, principalmente em Ava que era a nova dom.

Ava pouco ligava para os insultos da mãe, era o que ela deixava transparecer. Ela ainda queria sua mãe por perto, em segurança. Acho que lá no fundo ainda tinha sentimentos em seu coração morto.

A dom dos Wallerius era um monstro sem coração e incontrolável, que gerava medo em todos. Isso que Ava era... isso que ela precisava ser.

Chegando em casa, Ava se tranca no escritório, e começa a fumar. Se afundar em bebida e charutos era normal para ela. Ava já nem se lembrava quando foi a última vez que tinha passado um dia sem beber ou fumar.

- Ava... Ava- Sávio entra todo afoito no escritório.

- O que houve Sávio?- Ava fala apagando o cigarro.

Sávio tosse um pouco, o escritório estava cheio de fumaça.

- Trouxe algo para você- Sávio fala se sentando do lado de Ava.

Ava pega a caixa de chocolate, meio sem entender.

- Não gosto de doces- Ava diz.

- Ah desculpa- Sávio faz uma cara triste- Eu consegui ir no mercado e comprar isso sozinho. Ninguém me ajudou, meu russo melhorou muito.

Sávio esboça um sorriso tímido, Ava olha para o rosto bonito de seu marido e não consegue esconder seu sorriso bobo. Definitivamente ela tinha um fraco por seu rostinho bonito.

- Estou muito orgulhosa bebê- Fala acariciando os cabelos de Sávio.

Sávio alarga seu sorriso.

- Come só um pedacinho, pra me deixar feliz- Sávio coloca o cholate na sua boca.

Ava sorri e morde um pedaço do chocolate, dando um selinho em seu marido.

A Herdeira da Serpente ( Tríade das Máfias - Livro 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora