Oito

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Na segunda de manhã, quando encontro Otávio em frente à escola, à minha espera, sou pega de surpresa. Há duas semanas eu não existia para o garoto e, de repente, ele me nota e diz coisas gentis, me beija e então confessa que foi para me distrair. Nada legal, eu sei. Só que agora cá está ele, com o rabinho entre as pernas e infelizmente não tenho controle sobre o sorriso em meu rosto.

É engraçado. A vida é estranha.

— Bom dia — cumprimenta com cautela.

Meu sorriso agora toma conta de todo o meu rosto.

— Não era Marcos quem deveria estar aqui? Ah, espera! Está fazendo um favorzinho pra ele também?

Suas bochechas coram. Acharia a cena fofa se ele não fosse um completo idiota.

— Sobre isso, eu sinto muito, Olívia — tenta começar com o papo sobre arrependimento, mas estou farta.

— Ei, é só uma brincadeira. Foi meio constrangedor na hora, mas vamos esquecer isso, tudo bem? — aperto seu ombro, incentivando-o a caminhar. Seguimos lado a lado pelo pátio. — E então, vai ou não vai me dizer o que quer?

— Parece bobo e talvez você não entenda, mas eu realmente quero me desculpar por aquilo direito. Se me permitir-

— Não.

— Não?

— É. Não confio em você.

— Se é sobre a Laura...

— É óbvio que é por causa dela, Otávio! — corto-o, óbvia. — Foi baixo o que fizeram!

— Ela se sente ameaçada.

— Não sou ameaça alguma.

— Você se engana — contesta e rolo os olhos.

Chegamos à sala e a garota está no fundo, com um grupinho de meninas. Cochicham algo e então riem em uníssono, após olharem na nossa direção. Apenas ignoro, sentando-me em meu lugar, e então tomo um susto ao vê-lo se sentar ao meu lado.

— O que pensa que está fazendo?

— As coisas vão ser diferentes a partir de agora. Ganhou um novo amigo, Olívia. Não adianta tentar me contrariar — abre a mochila, retirando de lá seu material. Eu arqueio minha sobrancelha.

— Tá tentando compensar toda aquela palhaçada?

— Sai da defensiva, Olívia.

— Não estou na defensiva.

— Normal que esteja.

— Eu não estou.

Shhh, a aula vai começar. — Só então percebo a presença da professora de artes ali.

Otávio não sabe desenhar nem palitinhos, não consegue decorar nem uma vírgula do que foi o Segundo Reinado, mas assim que a aula de matemática começa, não é ele quem está mais ao meu lado, e sim um gênio da Geometria Analítica. Meus olhos queimam ao vê-lo resolver os exercícios, e decido que talvez essa parceria não me caia assim tão mal.

Mais tarde, no intervalo, encontro Marcos saltitante, com o restante dos meninos. Parece que o festival passou, mas o espírito alegre deixado por ele, não. E eu não sei como, nem quando aconteceu, mas somos um grupo agora. A última peça que faltava, Natasha, chega logo após Pedro, o mais engraçado de todos, branquelo e de olhos claros.

— E aí!? — ela diz, tirando da bolsa um pacote de marshmallows.

— O que é isso? — Daniel, negro, cabeça raspada e dono de grandes olhos na cor de jabuticaba, pergunta.

Entre Espinhos (DEGUSTAÇÃO)Kde žijí příběhy. Začni objevovat