𝐍𝐨𝐬𝐬𝐚 𝐦𝐞𝐥𝐨𝐝𝐢𝐚 - por Bella

𝐩𝐫𝐨𝐥𝐨𝐠𝐨

Assim como a Deusa Athena, eu nasci em condições complicadas. Meu pai aos 16 anos começou a namorar com minha mãe, que na época tinha 15 anos, os dois era lindos juntos, eram verdadeiros amores um para o outro foi o que disseram. Aos 18 minha mãe engravidou dele, jovens que por um descuido tiveram que arcar com as consequências de uma vida.

Meu pai, ou melhor dizendo, o homem que me trouxe ao mundo com minha mãe se chama George. George não aceitou a gravidez de minha mãe, jogando a culpa toda nela, meus avós não aceitaram ela de volta em casa pela gravidez tão cedo, não queriam manchar seu sobrenome com ela, que era insultada como vergonha e vagabunda por ter perdido sua virgindade antes de casar, essa era a regra pré-histórica que eles à doutrinavam.

Logo, George teve que assumir a gravidez e se casar com minha mãe, por tal "obrigação" ele não aceitava não ter o direito de se deleitar com qualquer mulher que achasse atraente, então culpava minha mãe e à mim que ainda nem vindo ao mundo tinha. Durante os 9 meses minha mãe foi tratada como uma qualquer, como alguém que pedia esmolas para ele e nem que fosse, ninguém merecia ser tratado da forma que ela foi.

Agressões, tapas, socos, chutes, principalmente na barriga, tentando de alguma forma causar um aborto "espontâneo". Já ciente do que estava por vir, minha mãe escreveu diversos diários, onde ela contava sua história, seus problemas e principalmente seus últimos desejos. E foi com esses diários que eu descobri a morte dela, foi com eles que eu entendi o motivo de sua morte, foram tantas fraturas, tantas lesões que é difícil de acreditar como ela conseguiu aguentar meu nascimento, mas infelizmente ela aguentou, aguentou e me deixou nas mãos desse monstro.

Durante 15 anos da minha vida eu suportei tudo, suportei agressões vindas dele assim como ela, mas por algum motivo eu só apanhava quando ele estava bêbado, ao longo dos anos aprendi a lidar com isso, aprendi a aguentar minha dor, aprendi a manipular minha própria dor, aprendi a manipular ele, causei o terror e ele achava que poderia me parar.

Me tornei o pior, me tornei tudo que eu podia me tornar para ser o desgosto dele, ele nunca se orgulhava quando eu me esforçava, então passei a orgulhar a mim mesma, mas até hoje eu estou nas mãos dele, até hoje tenho que suportar isso, posso dizer que está cada vez mais difícil.

Lembro das noites em que chamava pela mamãe, clamava por ela como meu anjo da guarda, em noites que eu estava com dor, em noites que eu sentia socos e mais socos me acertarem, noites em que meu bicho papão me procurava, as noites em que o George me batia até eu não aguentar levantar no dia seguinte e ela vinha, vinha me acalmar durante o sono, aparecia nos meus sonhos para acariciar meu rosto, ela me trazia paz, ela me fazia sentir algo que eu nunca havia sentido, conforto.

Até ela sumir e com ela levar a paz que um dia eu tive, até eu não conseguir mais vê-la. Mamãe, traga minha felicidade novamente, é só isso que eu te peço.

❋