Capítulo 17.0 - Inocentes Defesas

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A maioria das crianças possuíam o dom de criar uma imagem muito clara sobre facetas que, até suas idades precárias, lhe eram desconhecidas — como a idealização de um lugar, os mínimos detalhes e os exageros mais puros apenas por ouvir alguém citando-o ou, talvez, dar rosto e personalidade aos mais diversos nomes. Aos olhos curiosos e ingênuos, contos mitológicos eram sempre grandiosos, uma montanha-russa parecia duas vezes maior e mais temível do que realmente era, e uma tatuagem elevava qualquer pessoa a outro nível de rebeldia. E dependendo do aspecto, certos familiares distantes deveriam atingir as expectativas de tais mentes criativas, fosse uma tia ranzinza ou uma madrasta má.

Embora a imaginação de Gabi não tivesse limites impostos, a garota não conseguia se lembrar de esperar por uma figura específica entre seus parentes. Havia, sim, surgido muitas perguntas ao longo dos anos, mas as respostas não eram nenhum segredo: sua mãe ficara órfã aos treze anos, seu pai nunca tivera uma boa relação com os próprios pais e ambas as famílias sempre foram particularmente pequenas. Então ela estava acostumada com o aspecto claro, sem mais familiares.

Independente disso, a caçula tinha certeza de que, sob a imaginação de qualquer criança, o Sr. Arlert cumpriria todos os requisitos do que era esperado de um avô. Ele tinha cabelos brancos e curtos, com rugas ao redor dos olhos azuis e falava como alguém que vivera o suficiente para ter propriedade, além de sempre soar sábio e amistoso. O velhinho também parecia adorar crianças, considerando o modo como vinha tratando os jovens convidados.

Ele sequer reclamava do barulho inevitável que eles faziam ao vencer uma partida de video game. 

— Ei, isso está errado! — disse Udo. — Deve ser algum problema no sistema.

— Até parece — Falco deu de ombros. — Eu ganhei.

— É só jogar de novo — resmungou Zofia.

— O resultado será o mesmo — emitiu Gabi. — Além do mais, é a sua vez.

— Tanto faz, pode ir.

— O que é, você gosta de perder?

A loura não demonstrou se importar.

— Essa fase é chata.

Ela tomou o controle das mãos do garoto de cabelos escuros.

— Eu vou, então.

Mas, como dito, a fase era realmente a mais difícil de passar. Os movimentos precisavam ser velozes e bem calculados, e não podiam ser "brutos" demais, caso contrário terminaria em uma poça de lava. Mesmo Falco, que deveria estar acostumado por ser o dono do jogo, mantinha o cenho franzido em dificuldade.

— Espera, espera... — Udo murmurou para ninguém em específico. — Não! Olhe para o lado.

— Você está desconcentrando eles — alertou Zofia.

—  Isso não vai dar certo...

— Quer ficar quieto? — grunhiu ela.

Não podia perder daquela vez; desde que começaram a competição, ela e o anfitrião da casa haviam ganhado de Zofia e de Udo três vezes, porém nunca tinham competido um contra o outro. E ambos pareciam estar perfeitamente cientes daquele fato.

— Só estou dizendo que essa parte da ponte tem uma armadilha no final. Não se esqueçam.

— Isso aqui é cheio de armadilhas, Udo — disse Falco.

— Sim, a questão...

A garota assistiu com uma irritação indignada o momento em que, sucessivamente, sua personagem era esmagada por uma pedra e o personagem de Falco caía metros abaixo. A tela brilhou, a palavra em vermelho anunciando a derrota.

o paraíso dos quebrados | eremikaTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon