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|| Henrique Martinez Mendes ||

Passei a mão na cabeça, saindo do banho rápido que tínhamos como tomar na base improvisada

Vesti apenas uma bermuda fina e entrei na minha barraca, olhando as horas no relógio

Passavam da 00:30 e eu respirei fundo, pensando se a Valentina ainda estava acordada

Já tinha duas semanas que estavamos aqui, e todos os dias eu acabava falando com ela pra saber do pistola

Peguei meu celular, que ainda tinha cerca de 30% de bateria e mandei mensagem pra ela

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W H A T S A P P
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Valentina

H.M: Boa noite, tá acordada ainda?
Valentina: Boa noite, tô sim
H.M: Que milagre é esse?
Valentina: Tava te esperando dar sinal de vida...

Passei a mão no rosto, segurando um sorriso de canto e apertei no botão da chamada de vídeo

Não levou muito tempo pro rosto da Valentina, pouco iluminando, aparecer na tela do meu celular

Ela já tava deitada, e a provável pouca luz fosse da TV

- Que curativo é esse, Henrique? - Perguntou acendendo a luz

Olhei pra minha imagem e vi que aparecia metade do curativo no meu peito

- Uma folha grudou no meu peito mais cedo - Murmurei cansado - Tá tranquilo.

- Não sabe quando vem embora ainda? - Perguntou fazendo bico e apoiando o celular em algum lugar, se debruçando na cama e me olhando com aquela cara de inocente que ela tem

- Ainda não, tá complicado as coisas aqui - Falei apoiando o celular também - Tem muito animal ferido, tem as tribos que não querem se retirar, o vento tá muito forte.

- Não tão precisando de voluntários aí? - Perguntou com a voz calma - Tenho especialização em animais silvestres, só prefiro os tranquilos mesmo.

Olhei de cara feia pra ela

- Nem inventa Valentina, fica quieta aonde tu tá - Resmunguei - Hoje uma das nossas veterinárias foi picada por uma cascavel

- Ela tá bem? - Perguntou arregalando os olhos

- Acho que tá. - Dei de ombros, abrindo a minha barra de cereal - E o pistola?

Ela chamou ele, que logo veio se deitando embaixo do braço da mesma

- Tá deixando ele todo mimado né? - Resmunguei - Não gosto de dormir agarrado, depois vou mandar ele ir dormir contigo.

- Não gosto de dormir agarrado, mas quando dorme comigo, fica agarrado? - Ergueu as sobrancelhas e eu acabei rindo

- Não tô lembrado de nada - Falei pegando o celular e me deitando no colchonete

- Tá muito cansado? - Perguntou com a voz calma e eu fechei os olhos

- Tô tranquilo - Murmurei também calmo - Como tá as coisas ai?

- Tá tudo calmo. Hoje o pistola quase ficou cego...- Abri os olhos na mesma hora e olhei pra ela

- Que história é essa? - Perguntei me sentando

- Teve um gato lá na clínica, ele tava muito assustado, não sei por qual motivo, mas fui tirar ele da gaiola e ele pulou em mim, me arranhando - Mostrou o braço com um corte grande - O pistola acho que tentou defender, e acabou levando uma patada de gato, mas ele recuou...

- Deixa eu ver isso direito. - Pedi pra ela mostrar de novo o machucado no braço e ela mostrou, tava bem vermelho e dava pra ver que ele realmente tinha cortado meio fundo - Se tu sabia que o gato tava brabo, não pegou um pano por que cara?

Ela riu deitando a cabeça na cama, por cima do braço que abraçava o pistola

- Porque eu achei que ele já tivesse mais calmo, mas tá tudo bem. - Sorriu fraco, ficando com os olhos um pouco mais pesado - O pistola chegou a ficar com um mini arranhão perto do olho, mas limpei e coloquei remédio, até colírio, só pra garantir. Ele tá bem.

- Se cuida ai, cara. - Resmunguei e ela revirou os olhos - E a Liz?

- Tá esperando vocês voltarem pra anunciar os nomes dos bebês - Bufou - Eu não mereço estar passando por toda essa ansiedade.

Acabei rindo

- Logo mais a gente tá de volta, leãozinho.

- Promete? - Fez bico e eu concordei com a cabeça, sem pressa nenhuma

- Prometo, tenho que te infernizar bastante ainda. - Ela riu jogando a cabeça pro lado

- Posso te falar uma coisa? - Falou com a voz mais calma e mais baixa

Umideci meus lábios, me preparando pro que ela fosse falar, e sabendo que ela já tava com sono

- Pode.

- Eu tô com saudade - Falou mais baixo ainda - E com medo de alguma coisa acontecer aí.

Fechei meus olhos, ficando alguns segundos em silêncio, apenas sentindo o efeito daquelas palavras em mim

- Não vai acontecer nada - Falei voltando a abrir os olhos - Fica tranquila.

Ela sorriu fraco, fechando os olhos novamente

Fiquei quieto, apenas observando ela

Percebi que ela tinha dormido quando o corpo relaxou na cama e o pistola se desagarrou um pouco da mesma, mas ainda continuou ali

Continuei observando a Valentina, que agora dormia e respirei fundo

Passei a mão no rosto, agoniado com aquilo que tinha no meu peito, mas não sabendo descrever o que era

Fiquei mais alguns minutos ali, encarando a imagem na tela do meu celular e perdido nos meus pensamentos, até a minha bateria acabar e eu colocar o mesmo no carregador, me preparando pra descansar por poucas horas

l. Melhor Parte de MimOnde as histórias ganham vida. Descobre agora