✴ IV - Dália & Sol ✴

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"E quando a minha boca

desenhou seus lábios

percebi que nem toda

poesia precisa ser escrita."

- Pedro Miranda.


✴✴✴


Ela acordou antes de mim.

Foi naquele breve instante que percebi que estava apaixonada.

O sol refletia na palidez de sua pele que contrastava com o amarelo suave da minha, os olhos esmeralda quase transparentes me fitavam e seus lábios estavam presos numa linha fina enquanto apoiava o queixo na palma pra ver meu rosto. Se curvou suavemente até sua boca alcançar a minha, mas rejeitei o íntimo gesto de afeto. Ela ganiu como um filhote de cachorro faminto e deitou-se sobre meus seios nús, respirando suavemente contra minha pele gelada, fazendo-me arrepiar.

- Você acha que eu sou uma pessoa ruim?

A voz dela estava cheia, como se se segurasse para não desabar, fez-me sentir culpada.

- Por que você seria uma pessoa ruim?

- Por estar aqui, com você, e não querer que isso acabe.

- Eu não te acho uma pessoa ruim, não quando eu quero o mesmo.

- Mesmo sabendo que eu sou uma traidora?

- Os traidores são interessantes.

Sim, eu era egoísta.

- Na sua idade eu odiava traidores.

Gemi, enfiando meus dedos entre seus cabelos desalinhados e me remexendo sob seu corpo.

- Não fale assim, isso faz parecer que eu transei com minha tia.

Ela riu.

- Espero que sua tia seja bonita - chiou manhosa, se levantando para me olhar outra vez.

- Minha tia morreu - disse num tom sério, fazendo-a chacoalhar a cabeça e explodir numa gargalhada alta.

- Que coisa horrível, você tem esse tipo de humor Taby?

Meu coração quase parou.

E de repente eu gostava de como meu apelido idiota soava na voz dela.

- Você ainda não viu metade do meu humor de merda, minhas piadas só se tornam piores à medida que me conhece.

Ela riu e fez uma careta, depois deslizou de sobre mim até se sentar no chão, notei pela primeira vez que ela já estava parcialmente vestida. Me sentei também, alcançando meu moletom e passando-o pela cabeça, enquanto ela ainda ria pelo nariz, daquele jeito que faz as pessoas serem comparadas a porcos.

- Eu nunca tinha transado com alguém no primeiro encontro - confessou reflexiva, os olhos injetados buscaram os meus quando deitou a cabeça em meu colo.

Sorri de um jeito travesso.

- Fico feliz por ser sua primeira vez, é difícil ser a primeira de alguém tão velho quanto você.

Ela mostrou a língua, depois girou e se ajoelhou, segurando minhas coxas com os dedos.

- Você é uma praga - soltou.

- Já ouvi muito isso - me curvei, roubando um beijo seu.

- Sua boca tem gosto de peixe enlatado.

Caos • Romance Sáfico [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now