<Cap 25 - hand that holds>

76 14 2
                                    

<...Capitulo não revisado...>

Gulf soltou o ar que não havia percebido que estava prendendo.

Ótimo. – Gulf se abaixou para pegar as chaves. Ao se ajeitar, ele viu os arranhões na porta da frente. Devia estar escuro demais para que ele os visse da última vez. Pareciam marcas de garras, longas e paralelas, entalhadas com profundidade na madeira.

Mew tocou o braço de Gulf.

- Eu vou entrar primeiro ele disse. Gulf queria dizer a ele que não precisava se esconder atrás dele, mas as palavras não saíam. Gulf podia sentir o gosto do horror que havia sentido ao ver o Ravener pela primeira vez. O gosto era afiado e cúprico, como moedas velhas.

Ele empurrou a porta com uma das mãos, chamando-o atrás dele com a mão que segurava o Sensor. Uma vez na entrada, Gulf piscou, ajustando o olhar à pouca luz. A lâmpada no teto ainda estava apagada, a claraboia, suja demais para permitir que qualquer luz entrasse, e as sombras sobrepunham-se pesadas ao chão lascado. A porta de Madame Dorothea estava fechada com firmeza. Não passava luz alguma pelo espaço entre o chão e a porta. Gulf se sentiu desconfortável ao imaginar se alguma coisa teria acontecido a ela.

Mew ergueu a mão, passando-a pelo corrimão. Ficou molhada, suja de algo que parecia vermelho, quase preto à luz fraca.

- Sangue.

- Talvez seja meu. - A voz de Gulf parecia pequena. - Da outra noite.

- Já estaria seco a essa altura se fosse seu disse Mew. - Vamos.

Ele subiu as escadas, Gulf logo atrás. O térreo estava escuro. E Gulf remexeu as chaves três vezes antes de conseguir colocar a certa na fechadura, Mew se inclinou sobre Gulf, observando impacientemente.

- Não respire no meu pescoço – Gulf sibilou; a mão de Gulf tremia. Finalmente conseguiu e a tranca se abriu.

Mew puxou-o para trás.

-Eu vou na frente.

Gulf hesitou, depois afastou-se para o lado, para permitir que Mew passasse. As palmas de suas mãos estavam grudentas, e não era por causa do calor. Aliás, estava fresco dentro do apartamento, quase frio, ar gelado vinha pela entrada, pinicando a pele dele. Ele sentiu calafrios se formando ao seguir Mew pelo corredor curto até a sala.

Estava vazia. Espantosamente, inteiramente vazia, como estivera quando se mudaram para lá - as paredes estavam nuas, os móveis não estavam mais lá, e até as cortinas haviam sido rasgadas das janelas. Apenas alguns quadrados de tinta mais clara na parede indicavam os locais em que as pinturas de Jocelyn ficavam penduradas. Como se estivesse em um sonho, Gulf virou e andou em direção à cozinha, Mew atrás, forçando a vista para enxergar.

A cozinha estava tão vazia quanto à sala, nem a geladeira estava mais lá, as cadeiras, a mesa - os armários da cozinha estavam abertos, as prateleiras vazias faziam com que Gulf se lembrasse de uma cantiga de ninar. Ele limpou a garganta.

- O que os demônios – Gulf perguntou - iriam fazer com o nosso micro-ondas?

Mew balançou a cabeça, a boca se curvando nos cantos.

- Não sei, mas não estou sentindo nenhuma presença demoníaca agora. Diria que já foram há muito tempo. Gulf olhou em volta mais uma vez. Alguém havia limpado o molho de pimenta derrubado, ele percebeu.

- Satisfeito? - perguntou Mew. - Não há nada aqui.

Gulf sacudiu a cabeça.

- Quero ver o meu quarto.

Mew pareceu que ia dizer alguma coisa, mas depois pensou melhor. - Se é o que você quer - ele disse, colocando a lâmina serafim no bolso.

A luz do corredor estava apagada, mas Gulf não precisava de muita luz para andar pela própria casa. Com Mew logo atrás, ele encontrou a porta do quarto e alcançou a maçaneta. Estava frio na mão- tão frio que quase machucava como tocar uma geleira com a pele desprotegida. Ele viu Mew olhá-lo rapidamente, mas já estava girando a maçaneta. Ou pelo menos tentando. A maçaneta se moveu lentamente, parecia ter algo grudento do outro lado como se estivesse coberto por alguma coisa gordurosa e aderente...

A porta explodiu para fora, derrubando Gulf. Ele deslizou pelo chão do corredor e bateu contra a parede, rolando sobre a barriga. Então escutou um rugido forte nos ouvidos enquanto se levantava sobre os joelhos.

Mew, caído contra a parede, estava remexendo o bolso, no rosto uma expressão de absoluta surpresa. De pé à sua frente, como um gigante de conto de fadas, havia um homem enorme, largo como um carvalho, com um machado grande e afiado na mão. Panos rasgados e sujos duravam-se na pele suja do gigante, e seu cabelo consistia de um único chumaço, grosso de sujeira. Ele cheirava a suor venenoso e carne podre, Gulf estava satisfeito por não conseguir enxergar o rosto dele-ver suas costas já era ruim o bastante.

Mew estava com a lâmina serafim na mão. Ele a ergueu, gritando:

-Sansanvi!

Uma lâmina disparou do tubo. Gulf pensou nos antigos filmes em que baionetas ficavam escondidas em bengalas e eram ativadas por um toque. Mas ele nunca tinha visto uma lâmina assim: clara como vidro, com um cabo brilhante, absurdamente afiada e quase tão comprida quanto o antebraço de Mew. Ele arremessou, ferindo o gigante, que cambaleou para trás com um urro.

Mew virou-se, correndo em direção a Gulf. Ele o pegou pelo braço, levantando-o sobre os pés, empurrando-o à frente dele pelo corredor Gulf conseguia ouvir a coisa atrás deles, seguindo-os seus passos soavam como pesos de chumbo batendo no chão, mas vinham rapidamente.

Eles aceleraram pela entrada, e saíram pelo térreo, com Mew virando as costas para fechar a porta. Gulf ouviu o clique da tranca automática e respirou aliviado. A porta balançou nas dobradiças e um tremendo impacto ecoou alto pelo lado de dentro do apartamento. Gulf recuou para as escadas. Mew olhou para ele. Os olhos do menino brilhavam com uma agitação maníaca.

- Vá lá para baixo! Saia do...

Outra batida veio, e dessa vez as dobradiças cederam e a porta voou para fora. Poderia ter derrubado Mew, se ele não tivesse se mexido com tanta rapidez que Gulf mal o viu; de repente, ele estava no topo da escada, a lâmina queimando na mão como uma estrela cadente. Ele viu Mew olhar para ele e gritar alguma coisa, mas não conseguia escutá-lo através do rugido da criatura gigantesca que saiu da porta destruída, indo em direção a Mew. Gulf se encostou à parede enquanto o gigante passava em uma onda de calor e fedor... Em seguida, o machado estava voando. Cortando o ar, em direção à cabeça de Mew. Ele desviou e o machado acertou o corrimão, penetrando profundamente na madeira. Mew riu. A risada pareceu enfurecer a criatura; deixando de lado o machado, ele pulou para cima de Mew com punhos enormes levantados...

!¿Where it all began?!Donde viven las historias. Descúbrelo ahora