<Cap 09 - My Fault>

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- É a minha mãe.

- Deu para perceber pela expressão no seu rosto. Você vai falar com ela?

- Agora não disse Gulf, sentindo aquela pontinha de culpa quando o telefone parou de tocar e a ligação caiu na caixa postal.

- Não quero brigar com ela.

- Você sabe que sempre pode ficar na minha casa - disse Namjoon.

 - Por quanto tempo quiser.

-Bem, vamos ver se ela se acalma primeiro. – apertou o botão do correio de voz no telefone. A voz da mãe parecia tensa, mas ela claramente estava tentando transmitir um tom de leveza: "Querido, desculpe se despejei em você o plano das férias. Volte para casa e vamos conversar." Gulf desligou o celular antes que a mensagem fosse concluída, sentindo-se ainda mais culpado e ao mesmo tempo com raiva. - Ela quer conversar a respeito. Gulf apertou o celular.

 - Você quer conversar com ela?

- Não sei. – Gulf esfregou os olhos com a parte de trás das mãos

-Você ainda vai para a leitura de poemas?

- Prometi que ia.

Gulf se levantou, empurrando a cadeira para trás. - Então eu vou com você. Eu ligo para ela quando acabar. - A alça da bolsa escorregou pelo braço de Gulf. Namjoon puxou-o de volta para o lugar quase inconscientemente, com os dedos repousando no ombro exposto do amigo.

O ar lá fora estava denso com tanta umidade, que congelava o cabelo de Gulf e deixava a camiseta azul de Namjoon grudada nas costas dele. - Então, como vai à banda? - perguntou Gulf. — Alguma coisa nova? Ouvi muitos gritos ao fundo quando falei com você mais cedo.

O rosto de Namjoon se iluminou.

- As coisas estão ótimas- disse ele. - Matt disse que conhece alguém que pode nos arrumar um show no Bar Scrap. E também estamos discutindo nomes outra vez.

- Ah, é? – Gulf conteve um sorriso. Na verdade, a banda de Namjoon nunca havia produzido música alguma. Eles passavam boa parte do tempo sentados na sala de Namjoon, brigando a respeito de possíveis nomes e logotipos para a banda. Às vezes ele ficava imaginando se algum deles realmente sabia tocar algum instrumento. - Quais são as opções?

-Estamos escolhendo entre Conspiração dos Vegetais Maritimes e Rock Solid Panda.

Gulf sacudiu a cabeça.

- Ambos são péssimos.

-Eric sugeriu Crise na Cadeira de Grama.

-Talvez o Eric devesse se dedicar aos esportes.

-Mas aí teríamos que arrumar um novo baterista.

- Ah, é isso que o Eric faz? Eu achei que ele desse dinheiro pra vocês e saísse por aí dizendo para as garotas da escola que ele fazia parte de uma banda para impressioná-las.

De jeito nenhum - Namjoon disse com toda leveza – Ele virou a página. Arrumou uma namorada. Estão juntos há três meses.

- Praticamente casados – disse Gulf, desviando-se de um casal que empurrava um carrinho de bebê no caminho: uma garotinha com presilhas de plástico amarelas no cabelo, que segurava com toda força uma boneca com asas azuis. Com o canto do olho, Gulf pensou ter visto as asas baterem. Ele virou a cabeça apressadamente.

- O que significa que eu sou o único integrante da banda a não ter namorada. O que, você sabe, é o único objetivo de se ter uma banda. Arrumar garotas.

- Eu achei que fosse a música. - Um homem com uma bengala cruzou o caminho de Gulf, caminhando em direção à Berkeley Street. Ele desviou o olhar, temeroso de que, se olhasse para alguém por tempo demais, a pessoa criaria asas, braços extras ou grandes línguas aforquilhadas como cobras. - Quem se importa se você tem uma namorada ou não?

- Eu me importo - disse Namjoon de um jeito sombrio. -Logo, logo, as únicas pessoas do mundo a não terem namoradas seremos o Wendell, o zelador da escola, e eu. E ele tem cheiro de limpador de vidro.

- Pelo menos você sabe que ele ainda está disponível. Namjoon olhou para ele. - Não teve graça, Kanawut.

-Tem sempre a Scheila "tanga" Barbarino - sugeriu. Gulf havia sentado atrás dela na aula de matemática durante todo o primeiro ano do Ensino Médio. Toda vez que Scheila derrubava o lápis - coisa que acontecia com frequência - Gulf era agraciado com a visão da roupa íntima de Scheila levantando-se sobre a cintura da sua calça superbaixa.

-É ela que Eric está namorando há três meses. Enquanto isso, o conselho dele foi para que eu simplesmente decidisse quem é a garota mais gostosa e a convidasse para sair no primeiro dia de aula. Disse Namjoon.

- Eric é um porco machista- disse Gulf, repentinamente não querendo saber quem era a garota mais gostosa da escola na opinião de Namjoon.

- Talvez vocês devessem chamar a banda de "Porcos Machistas".

- Tem sonoridade - disse Namjoon sem se incomodar. Gulf fez uma careta para ele, sua bolsa vibrava enquanto o telefone brilhava. Ele o pegou no bolso da frente.

- É a sua mãe outra vez? - perguntou Namjoon.

Gulf assentiu. Ele podia imaginar a mãe pequena e sozinha na entrada do apartamento. Um sentimento de culpa se espalhou em seu peito.

Ele olhou para Namjoon, que o observava com uma expressão sombria de preocupação naquele rosto tão familiar; ele poderia desenhá-lo até dormindo. Gulf pensou sobre as semanas solitárias que passaria sem ele, e colocou o telefone de volta na bolsa.

Vamos - disse Gulf. - Vamos nos atrasar para a apresentação...

!¿Where it all began?!Where stories live. Discover now