ANIMA AETERNA ━ DRUIG.

ꞌꞋꞌ ࣪ UNUS: the break of rome.

O território italiano era incomparavelmente lindo. Sonetos distantes e profundos, de melodia calma e serena transmitiam pacificidade e sossego ao encontrar os ouvidos atentos da bela moça de cabelos loiros. Os olhos cor de oliva de Aurora capturavam cenários harmoniosos ao vivo e a cores, sempre fascinando-se cada vez mais e mais com a beleza primordial de Roma, a capital italiana pela qual passeava tranquilamente, somente preocupada em desviar-se de corpos quentes pertos ao seu e com a posse de seu pequeno e fino aparelho ── nomeado smartphone pelos humanos ── em mãos.

Seu principal trabalho quando estava em horário livre, ou seja, livre das responsabilidades trazidas de seu emprego como atriz e dançarina ── coisas necessárias para sobreviver naquele mundo materialista que girava em torno de dinheiro ──, tratava-se de observar e capturar a beleza de coisas sublimes e compartilhá-las com o povo por meio das redes sociais. Não negaria que gostava daquilo.

A invenção dos celulares foi o que mais a animou dentre todas as inúmeras invenções da atualidade; aquele futuro repleto de tecnologia, assim como Phastos a contara em um passado distante. Sentiu-se solitária por boa parte dos últimos séculos, e ser capaz de conversar com outras pessoas e compartilhar informações tão facilmente mesmo que de forma "online", fora um fenômeno incrível que definitivamente balançou seu mundo. Lembraria de parabenizar Phastos por seu feito. Se algum dia chegasse a revê-lo.

Um sorriso brilhando nos lábios carnudos pintados com a cor da ameixa, ela cumprimentou todos por quem passava, o tom alegre esbanjando o bom-humor para os desconhecidos italianos que apenas a miravam com curiosidade, ou então, com eminente desconfiança nos olhos estreitos.

A presença dos humanos não lhe era inoportuna. Pelo contrário, era agradável para a Eterna ter a companhia sempre interessante daqueles seres incrivelmente obtusos na maior parte do tempo, sempre curiosos e desconfiados a respeito daquilo que lhes soava estranho. A ignorância às vezes podia ser uma benção, de fato.

Com o passar dos anos Aurora adaptou-se ao mundo humano com flexibilidade às suas crenças e tradições. A rotina humana, a qual abraçou enormemente com alegria, virou seu cotidiano. E conforme desenterravam mais descobertas modernas para designá-las àquele mundo curiosamente fascinado por aquilo que desconhecem, Aurora percebeu que poderia fazer aquilo para sempre: ser humana, não eterna. Não uma salvadora, apenas outra mulher divertindo-se naquele enorme planeta com tamanha diversidade de etnias, assuntos e culturas.

Aurora nunca foi de desperdiçar o bom das coisas, portanto, não demorou a fazer suas malas para esbanjar-se na beleza mundial contida naquele mero planeta.

━ Com licença? Você poderia tirar uma foto minha? ━ Aurora perguntou simpática, erguendo seu celular para a moça de costas em sua frente ao indicar a praia atrás de si com um manear de cabeça.

A moça de cabelos escuros e íris verdes concordou com um simples sim neutro, de onde Aurora detectou um espanhol rijo. Dando alguns passos para trás, Aurora pôs a mão na cintura e sorriu, sentindo a brisa marítima esvoaçar os fios soltos e beijar-lhe as faces com delicadeza, um sussurro de paixão calmoso e aéreo envolvendo seu corpo.

O céu límpido acima não demonstrava sinais de uma possível garoa e por isso, Aurora tratou de aproveitar a claridade para passear durante sua última semana de férias em Roma. A galeria de fotos do seu celular já estava mais do que cheia de fotos suas, mas ela não conseguia parar.

Um flash repentino e a foto estava tirada.

Aurora mirou a mulher assentir em sua direção e entregá-la o objeto, onde sua figura aparecia no meio da tela, sorrindo para a câmera. Não teve tempo, porém, de agradecê-la pois em questão de segundos o chão estava tremendo e o mundo se estilhaçando abaixo de seus pés.