_ Acha mesmo que estamos perdidos? – perguntei a Thomas após três rondas nos arredores do nosso acampamento improvisado.
_ Desculpa, cara, mas eu não tenho certeza. – murmurou, colocando a mão na cabeça e sentando em um toco de árvore que estava largado próximo ao acampamento. – De noite não dá para reconhecer nada...
Assenti, tentando disfarçar a frustração, e fechei a cara. Fiquei pisoteando o chão de um lado ao outro, como se um fio de eletricidade percorresse meu corpo e me impedisse de ficar parado.
_ Eu sei que está nervoso, Nic, mas vê se relaxa um pouco. – aconselhou meu companheiro de turno enquanto recostava as costas na árvore atrás de si e ficava mais à vontade.
_ Não sei se é a pressão de liderar essa missão ou a pancada na cabeça, - exclamei, sentando no chão onde estava na esperança de frear meus pensamentos. – mas não estou conseguindo pensar direito.
_ Acho que são os dois motivos. – ele riu e eu bufei em resposta. – Olha, amanhã, de dia, vamos descobrir onde estamos e reorganizaremos a rota. E, aliás, não tome toda a pressão para si, estamos todos na mesma forca. Se falhar, falharemos juntos.
Assenti, observando as folhas caídas no chão.
_ Acha que falharemos? – minha voz quase não saiu. Que maldita insegurança era essa?
_ Se achasse, não teria vindo. E nem você teria proposto tudo isso. – respondeu Thomas firme, sem hesitar. – Eu sei que todo mundo confia em você para o sucesso dessa missão e tenho conhecimento do quanto a Luz precisa que tudo isso realmente dê certo, mas, Nicolas... Sinceramente, quem nós mais precisamos que acredite não está muito confiante.
_ Quem? – questionei, embora já previsse a resposta.
_ Quem propôs a missão.
E Thomas estava certo, por isso minha única resposta possível era o silêncio, que logo foi interrompido, porém, por ruídos de passos se aproximando.
Eu e Thomas ficamos em estado de alerta instantaneamente, agarrando nossas armas e nos colocando de costas um para o outro, para suprir os pontos cegos e enxergar todos os lados possíveis.
Nossa lamparina estava apagada, porque a claridade da fogueira ainda acesa do acampamento era o suficiente para iluminar onde estávamos. Agora, porém, praguejava por não ter acendido a lamparina quando pude. A floresta, que era o que nos interessava vigiar, a fogueira não iluminava. Parabéns para nós.
_ Tudo bem, gente. Sou eu. – ouvi a voz doce e calma antes mesmo de avistar sua dona. Alguns segundos depois, Laura surgiu em meu campo de visão fazendo com que um estranho calor começasse em meu estômago e fosse parar em meu rosto.
Uma sensação tão boa me invadiu que fiquei confuso. Não sei se por alívio ou o quê, mas meu coração deu um salto e eu ri alto.
Thomas, que já estava a meu lado observando Laura se aproximar, me encarou praticamente com uma interrogação desenhada na testa. A pancada na cabeça realmente tinha mexido com meus neurônios.
_ Você devia estar dormindo. – comentei recobrando a consciência quando a moça parou perto de nós.
Um feixe de luz da lua iluminava perfeitamente seu rosto, revelando suas bochechas rosadas e seu sorriso tímido. Outro salto do coração. O que estava acontecendo comigo?
_ Desculpe. Eu cochilei um pouco, mas acordei e não consegui voltar a dormir. – explicou-se, envergonhada.
Thomas tossiu.
_ Vou aproveitar que Laura chegou para tentar localizar o leito de água que perdemos. Sozinho, consigo ir longe mais rápido e o acampamento fica bem protegido com vocês dois aqui. – exclamou ele, decidido. – Está com sua adaga?

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O Ciclo de Sangue - A Queda do Legado (livro 03)
FantasyNicolas é o segundo, último e inesperado filho de Lucy e Ícaro. Tem dezenove anos, foi criado na sede dos Luminescentes e, desde sempre, treina para ser um guardião. Entretanto, como seu irmão adotivo, Dendras, sempre diz, ele não é apenas um guardi...