CAPÍTULO II, ÁLCOOL IMPREGNADO

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— Sinto que nasci para este lugar. — Tadeu deslumbrava a avenida movimentada de Londres enquanto bebericava seu café expresso.

Estávamos nós dois sentados em uma calçada, apreciando a incrível vista que Londres nos proporciona numa tarde de céu limpo, enquanto uma moça fotografava nossos melhores ângulos. Estávamos curtindo um pouquinho os lugares diferentes da Inglaterra. Café e música ao vivo nos acompanhavam e, sem qualquer esforço, apreciávamos a movimentação da cidade e o barulho dos carros.

— Turn your head a little... Yeah, to the right — A fotógrafa pedia delicadamente enquanto disparava uma série de cliques em nossa direção. Apenas seguíamos seus comandos, posicionando a cabeça à direita, como ela pedia.

As pessoas pareciam atarefadas demais para sentir a brisa que nem nós, mas percebiam com clareza que falávamos português abertamente e que fazíamos uma sessão de fotos ao ar livre. Os olhares curiosos ganhavam destaque e fazíamos questão de sorrir para todos.

— Esta é provavelmente a melhor tarde da minha vida. Estou em paz. Quem diria que eu precisaria sair do Brasil para sentir isto. — A risadinha de Tadeu me contagiou.

Mais um clique.

Apesar das inúmeras tarefas e do pouco tempo que nos restava para aproveitar cada país, ainda assim era incrível poder conhecer todos aqueles lugares e gravar na memória momentos incríveis.

Nas memórias e nas redes sociais, já que precisávamos atualizar ela pelo menos cinco vezes ao dia, como uma ordem de Raul. Não era muito difícil, pensando na beleza dos lugares que estávamos visitando.

— Você já atualizou suas contas?— Pergunto a Tadeu, enquanto tirávamos uma 'selfie', momentos depois de finalizarmos todas as fotos e ficarmos livre para enfim fazermos qualquer coisa.

— Já postei algumas coisas, mas não foi tudo. Estou querendo dar uma mudada de conteúdo, está tudo muito 'clean'. O que me diz de uma baladinha hoje, Aylazinha?

Seu sorriso deixa de ser simpático e passa a ser perverso. Sei bem o que essa cara significa.

Balada. Bocas. Bebidas. Tudo menos 'clean', como Tadeu gostava de dizer. A energia caótica já exalava o corpo do meu melhor amigo e eu já previa a ressaca do dia seguinte. A Ayla de hoje já está com pena da Ayla de amanhã.

— Eu topo, mas precisamos lembrar que amanhã partiremos cedo. Não podemos arranjar problemas ou Raul ficará furioso. Viemos com propósito...

— Tudo bem, voltaremos cedo ao hotel. Sei que esta viagem não pode dar errado, é o trabalho de nossas vidas em jogo. Nossas coisas já estão arrumadas, amanhã é só acordar no horário e está tudo certo.

Seu olhar diz que tudo está sob controle e que os planos já foram elaborados. Precisavam apenas ser concluídos com sucesso.

Uma balada, afinal, não faria mal a ninguém.

Era o que eu imaginava, mas quando o relógio marcou três horas da madrugada de Londres, eu comecei a ficar nervosa. Um Tadeu atordoado de bebida não largava o pé de um homem inglês. Qualquer foto vazada dele seria com certeza a nossa ruína e controlá-lo não estava sendo uma tarefa fácil.

Viajaríamos cerca de quatro horas na frente e nem sequer havíamos piscado os olhos. Com certeza dormiríamos boa parte do voo para a Coreia.

— Tadeu, está no nosso horário, precisamos voltar para o hotel, amigo. Deveríamos chegar no aeroporto com pelo menos duas horas de antecedência. Você sabe que com o final de ano tudo está lotado.

Meu amigo acariciava o rosto do companheiro de festa enquanto virava mais uma taça de drink. O homem ao seu lado então pega a cabeça de Tadeu e sussurra algo apontando com a cabeça para mim. O homem parecia sóbrio o suficiente para entender que, mesmo em português, eu tentava falar com meu amigo.

De Norte a Sul, Leste OesteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora