Que droga é aquela?

Gravado em tinta preta, como se tivesse sido escrito por xilogravura, havia no centro três pequenas palavras.

Acho fascinante como coisas tão pequenas como meras letras em uma folha de papel podem nos transtornar e causar um pânico de uma forma indizível.

Geralmente são as menores coisas que causam o maior estrago.

Assim como essa causou em mim.

"Estamos a observando"

Minhas mãos gelam no mesmo instante, a boca seca e rosto empalidecido como um defunto. Arrepios percorrendo por toda a minha espinha antes engolir algo imaginário que se entalava na minha garganta e finalmente recobrar os sentidos.

Pego o envelope novamente, procurando qualquer vestígio de quem mandou, de onde foi enviado, o porquê daquilo; qualquer coisa que fosse útil.

Talvez, no final, fosse apenas alguma pegadinha que alguém está tentando me passar. Sei que tem todo tipo de pessoa nesse mundo, até aquelas que não tem nada para fazer e preferem ficar perturbando a vida de outros. É, provavelmente era só isso, não era? Principalmente depois do que aconteceu com o hotel e meu pai. as vezes só querem nos assustar um pouco mais do que já estamos.

Ou... ou talvez realmente haja alguém me observando. Talvez, nesse instante, há alguém me vigiando pelas câmeras, me seguindo pelas ruas, descobrindo aonde eu vou, quando eu vou, decorando minha agenda, esperando o momento perfeito para me encontrar, por fim atacar... Estando bem atrás de mim.

Céus...

O quê raios está acontecendo?

Engulo seco, levemente desnorteada quando o elevador apita e as portas se abrem dando a visão da grande porta branca do meu apartamento.

Adentro com pressa procurando refúgio em meu lar, a porta sendo trancada bruscamente logo em seguida pelas minhas mãos ligeiramente trêmulas.

-Marie, Janete?! – Pergunto pelas minhas funcionária seguindo automaticamente para cozinha, local onde elas possivelmente estariam.

Nenhum sinal das duas. Já devem ter ido embora. Está tarde e suas cargas horárias já se foram. É obvio que não se encontrariam aqui nesse horário. Mas eu queria que estivessem por perto, era a coisa que eu mais queria.

-Pai?! Já chegou?! – Grito pela casa e tudo o que ouço é o eco da minha própria voz. – Droga... – Murmuro baixinho ao perceber estar sozinha. Tudo o que eu mais queria em um momento como esse.

Pego minha bolsa que havia deixado apoiada sobre uma das poltronas cor crômio. Rapidamente, subo as escadas e sigo para o meu quarto.

Precisava me distrair, não sei... assistir alguma série boba? É, isso parecia ser uma boa ideia. Talvez a minha série ou filme de conforto? Sim, isso! Era, definitivamente, isso o que eu faria.

Avisto meu computador na minha penteadeira e após apanhá-lo, retiro os sapatos e me jogo na cama confortável que estava decorada com várias cobertas e almofadas em tons do outono, em breve seriam tons natalinos. Entretanto, repentinamente, um barulho oco ecoa pelo meu quarto quando derrubo algo que estava sob a minha cama, certamente. Deve ter acabado caindo quando me joguei sobre o colchão.

Deixo tudo como está e me rastejo para fora das cobertas, agachando-me no chão e pegando a pequena caixinha preta que continha apenas um laço vermelho como ornamento.

Espera... isso... não é meu. Na verdade, eu nunca havia visto tal objeto.

Meus lábios mais uma vez estão secos, minhas mãos geladas e aposto que, se me visse em um espelho, não veria qualquer sinal de coloração nos lugares onde deveria haver algum tipo de rubor que mostrasse que meu sangue corria. Para ser sincera, o meu espanto era tanto que suspeitava, de fato, que meu sangue havia parado de correr.

O Lado Mais Sombrio de Nova Iorque (EM PAUSA)Where stories live. Discover now