Capítulo 11

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"Nessa loucura, você me deu vida.
E essa única memória, por quanto tempo podemos deixa-las a salvo?
Você se lembra? Da Borboleta confusa?"
- Sakasama no chou, Snow

***

Senti o soar dos galos avisando-me que era domingo. Porém, ao me virar da cama, não vira Ike. Era para ele estar ali. A janela estava aberta, e havia uma pena branca onde ele dormiu.

Eu mau podia esperar para contar como fora minha primeira vez para Amanda e Vanessa. Elas ficariam boquiabertas.

Houve também algumas complicações com a camisinha, já que era a primeira vez de Ike também.

Levantei da cama, ainda estranha para andar. Estava nua, apenas com lençóis cobrindo meu corpo, e a correntinha da chave que coloquei. Fui até o banheiro, chequei meus braços e pernas e senti dores estranhas.

Então, ouvi barulhos vindos de dentro do guarda roupa. Segui este barulho, e lembrei que seu fundo era falso. O barulho vinha da porta atrás das madeiras ocas.

Andei, lentamente, pois sentia os ares mudando. O quarto era abafado, mas minha pele se ouriçava, como se eu estivesse com frio, e não estava.

Entrei no guarda roupa, e Vi que as madeiras já estavam fora do lugar. Talvez Ike entrou ali, mas nunca contei a ele sobre este fundo.

"Estranho", pensei, vendo que a porta a minha frente não tinha trinco. Ela era branca, e suas madeiras caíam por causa da velhice. Ou alguém tentara arromba-la anos antes.

Abri-a e me deparei com longas escadas. O caminho se iluminava até uma certa parte da escada, e na outra tudo era apenas escuridão.

Talvez não fosse um fundo falso afinal. Talvez fosse um... Porão? Como em meu sonho.

Desci as escadas até a metade, pois ouvi mais barulhos estranhos. Eram coisas. Coisas caindo ou sendo jogadas ao chão. Depois, ouve-se um rugido masculino. Logo, apertei o lençol sob meu corpo, temendo ser quem eu pensava que seria.

Ao final do percusso, me deparei com a mesma figura que aparecera em meu sonho dias antes. Mas ele parecia/estava bravo.

- O que está fazendo aqui? - Perguntei a Max, que jogava tudo do porão velho e imundo ao chão.

- Ele fez aquilo com você! Desgraçado, eu vou mata-lo! Você não é dele!

Max foi para cima de mim como um serial killer prestes a matar. Ele sorria, mostrando suas covinhas, mas eu conseguia ver lágrimas de frustração.

Encostei-me na parede perto a escada. Quando tentei subir correndo, ele puxou os lençóis que me cubriam, deixando-me despida.

Max me empurrou contra parede e tampou minha boca com uma mão. Com a outra, fez um tipo de escudo para não me deixar fugir novamente.

- Você... É... Minha, borboleta. - Falou ele, como uma súplica. - Não entende? Não se lembra?. - Tirou sua mão de mim.

Eu estava atordoada. Max estava louco, e eu não entendia nada do que estava dizendo.

- Max, me deixa ir. Eu vou lá em cima, pego uns remédios e trago para você.

- Que droga Sarah! Lembre-se porra! Sou eu que você ama. Eu! Eu!

- Max, me solta! - Max segurava meus dois braços com muita força.

Tentei pedir novamente, e então gritei o mais alto que pude. Max segurou meu rosto, então parei.

Ele me olhava com uma certa lógica em meio a loucura. Estranhamente, eu sentia uma dor dentro de mim, como se quisesse lembrar de algo.

Max fechou os olhos, e encostou sua testa na minha. Ele chorou por algum tempo, e eu apenas ouvi, com medo de que algo acontecesse, e aconteceu.

Um beijo. Por incrível que pareça, havia algo nele que eu nunca acharia em Ike. O beijo de Max foi quente e prazeroso. Minha pele pedia por mais, e ele dava mais.

Suas mãos rapidamente desceram em minha cintura, a apertando. Meus braços se puseram sob seu pescoço e o agarrou.

Parte de mim queria aquilo, mas parte não queria. Max desceu mais suas mãos, e beijou meu pescoço, alternando entre mordidas e lambidas.

Ele subiu sua mão esquerda e agarrou meu cabelo, fazendo com que minha cabeça fosse para trás. Eu estava totalmente controlada por ele.

Max desceu beijando até o final de meu pescoço. Até que parou subitamente e gemeu.

Abri meus olhos e senti algo queimar mais que seu beijo. Só que, aquela vez machucava.

Max gritou de dor e se afastou de mim, apontando para a correntinha com a chave. Logo, a mesma me queimou ao ponto que eu tirei-a e joguei-a ao chão.

- Que droga! - Reclamou ele. - Você está bem?

Max tentou me tocar de novo, mas não me deixei levar pelo momento. Dei um tapa em sua mão e pedi para que saísse da minha casa.

- Mas foi bom? - Perguntou ele. - Você tem que admitir que meu beijo foi melhor que o dele.

- Vá! - Ordenei.

- Sabe qual o seu problema? - Perguntou ele. - Que você me ama também e sabe disso, só não quer admitir. E sabe que eu não minto quando digo isso. - E se foi, subindo a escada.

Naquele momento, peguei os lençóis e me cobri de novo. Em seguida, tentei pegar a chave, mas ela queimou meu dedo. Subi as escadas do quarto, peguei uma toalha e desci ao porão de novo. Depois, cobri a chave com ela e subi para o quarto novamente.

Quando cheguei ao quarto, ainda sentia a chave queimar a toalha e minhas mãos. Gemi de dor e joguei ela em cima da cama.

Com isso, a cena mudou completamente.

Lá estava eu, coberta por lençóis, minhas mãos avermelhadas e uma chave. Chave pequena demais para tanto estrago. As chamas que vazavam dela queimaram toda a toalha.

***

- Eu não estou louca Amanda. - Falei para minhas amigas, que estavam no quarto, vendo a situação.

Depois que a chave pegou fogo e queimou quase tudo que estava ao seu redor, desci correndo e liguei para Amanda, que ligou para Vanessa.

- Pega nela. - Vanessa pediu, se escondendo atrás de Amanda.

Porém, peguei a chave com o máximo de cautela e a senti normal, como se tudo que eu disse fora uma mentira.

Amanda e Vanessa não pareciam convencidas, mas trocaram varios olhares duvidosos.

- Então a chave queimou quando você chegou perto de Max? - Perguntou Amanda, curiosa.

- Era como se meu corpo todo pegasse fogo, e o corpo dele também... - Falei. - Vocês... Acreditam em mim certo?

- Eu acredito. Mas, isso tudo é uma completa loucura. Não só a chave Sarah. Ike e você. Max e você...

- Eu sei... É que... Quando Max está perto, eu não consigo controlar. É como se eu já o conhecesse. Isso tudo é estranho.

- Olha, - Começou Amanda e se sentou ao meu lado na cama. - Ver coisas como chaves pegando fogo, tudo bem. Beijar outros caras, tudo bem. Achar que Max é outra coisa... Ae não sei.

- Ele compartilhou um sonho comigo. - Falei, levantando da cama. Logo, peguei a chave e examinei-a de cima a baixo. - Acho que, esta chave tem haver com Max. Ambos não pertencem a esta divisão.

- Você tem certeza?

- Sim.

- E como quer descobrir? - Amanda perguntou.

- Vou dar um jeito.

A chave mestiça - Versão AntigaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora