6 - A última noite

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— Eu acho que... fizemos, Florence. — Respondeu Hannah pouco paciente. — Então, se quer tanto saber o porquê aconteceu, explique você.

Ainda não se recuperara do que vira naquela janela e, muito menos, daquele beijo. Sobretudo, daquele beijo. Mas conseguia perfeitamente voltar ao bate-e-volta que vinha sendo seus diálogos com Florence.

— Bom... Eu... Foi você que...

— Ahahahahah! — Gargalhou. — Acho que encontrei minha resposta. Fiz isso para te ver assim, sem palavras.

Apoiou suas costas na parede, ao lado do toucador e mirou Florence em desafio. Não permitiria que ela fugisse. Não depois do que ela lhe fizera à noite. Queria convencer a si mesma que fazia isso por raiva, mas sabia que não era verdade.

— Então, para você, coisas como essa, são um jogo, Hannah? — Questionou indignada.

— Foi você quem me disse que damas da sociedade fazem tudo o que têm vontade, desde que mantenha isso em segredo. Estou passando os dias mais entediantes da minha vida por sua culpa, só quis começar esse dia de um jeito... diferente.

— Tédio? — Olhou-a fulminante. — É isso que você sente nos momentos que passamos juntas aqui?

— E você não? — Demandou-a. — Você chega aqui todos os dias falando de suas viagens, de seus talentos, de suas amigas. Veste um cheongsam para jantar comigo e me conta que, de alguma maneira, eu estou te atrapalhando a mergulhar no Oriente com a Teegan e quer me convencer que eu não te entedio? Por favor, Florence, não precisa fingir. Eu sei que, para você, eu sou medíocre.

Agora era impossível dissimular a raiva inquestionável em suas palavras. Porque por mais simuladas que pudessem ser, as atitudes de sua visitante eram para atingi-la e obviamente o faziam.

— É a segunda vez que você insinua que eu te acho medíocre.

— Eu nunca insinuei isso. — Falou virando-se.

— É verdade. Você afirma categoricamente. Hannah, entenda que nada do que eu fiz foi para te diminuir.

A tentativa de contemporizar de Florence foi devidamente ignorada. Depois de tudo, a lady precisava se sentir vitoriosa, nem que fosse uma vitória temporária.

— Mentira! — Voltou a olhá-la. — Eu vejo o desprezo quando você me compara a Fannie, quando me fala da sua vida tão livre, tão diferente... Você diminui não só a mim, mas também à sua irmã.

— E me beijando de surpresa você quis me mostrar o quê?

— Não imaginaria que te incomodaria tanto. — Encolheu os ombros. — Entre todas as coisas que você mostrou de si, o modo como se refere aos casamentos de mulheres como Fannie e eu com homens, o modo como se refere às suas amigas mulheres, eu pensei que...

— Você pensou que eu não gosto de homens. — Concluiu. — Bom, beijar garotas não é o motivo que me faz desprezar os matrimônios da aristocracia, Hannah. Na minha concepção, toda mulher deve ter o direito de escolher com quem compartilhar a vida, ainda que seja com um homem. O que eu desprezo em situações como a sua e a de Fannie é justamente que não lhes seja dado o direito de escolher.

— Não dá para simplesmente renegar minha família. — Justificou a lady.

O que mais entristecia Florence era saber que talvez aquele fosse o limite de Hannah. Um beijo furtivo num quarto trancado ao alvorecer. Bom, não era, ela sentia. Mas, estava machucada demais batalhar para ser a escolha da pianista. Porque por mais aventureiro que seu espírito pudesse ser, as almas aventureiras nunca a elegiam. E, da liberdade, não estava disposta a abrir mão.

Marcadas por um Segredo [ROMANCE LÉSBICO] - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now