24. Essa estrada tem via de mão dupla traiçoeira.

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#MorceguinhoCerejinha

Dândi.

Faziam em torno de vinte fodidos minutos que eu assistia Park Jimin dormir profundamente. Sereno, isento de turbulências e quebras rápidas em seu sono, ele estava em intenso sono. Metade de sua face estava afundada no travesseiro de penas, ressonava em baixo tom.

Ele não parecia disposto a despertar e eu a não parar de venerá-lo.

Pisco acentuadamente meus olhos, avivando-me de meus devaneios em relação ao garoto apagado sob meus lençóis. Por meros segundos, meu olhar despacha para o livro em meu colo. Fecho-o após ter passado parte da madrugada lendo-o em completa benevolência.

Alguns leem para formar opiniões, ganhar sabedoria. Eu leio para passar o tempo. Leio porque é o que me salva em dias de caos mental.

E, desde os últimos dias, o caos se instalou por onde quer que minhas solas fizessem presença. Não me surpreende que estejam atolados por barro, os locais em que frequento são sujos, seja de alma, seja de espírito. De alguma forma, visualizar Jimin adormecido me trouxe um singelo ponto de paz, aquela merda calma que penetra sua mente, talvez coração, e te deixe quieto por segundos – segundos esse que algo está tramando contra você. O danado tem o relativo truque em mãos, ele deixa com que essa paz dure, se enlace em volta de meu peito e perdure por mais do que breves segundos.

Não tenho conhecimento de lhe causar o mesmo, contudo seria de muito bom grado que causasse. Aborrecimentos acontecem o tempo inteiro quando você divide a Terra com seres humanos, mas Jimin faz com que seja mais fácil. Como se eu não precisasse sugar a energia de um mortal ou fazê-lo implorar para que eu não estoure seus miolos.

Bem, ele me trás calma.

Descanso o livro na escrivaninha, deslizando por ela o papel com uma receita de vitamina para Jimin tomar assim que acordar. O médico que lhe atendeu deveria me olhar como um homem perdido, é justo. Tratou de me auxiliar com a porra de um chá e, como se não fosse suficiente a minha falta de prática na cozinha, ele me deixou anotado uma vitamina de frutas para o garoto recém curado.

Meu trabalho é com armas, carros, motos e rachas, não com bebidas e alimentos saudáveis. Contudo amaldiçoo a mim mesmo enquanto saio porta afora de meus aposentos com o papel da receita em mão.

Faria a porra da vitamina para o meu garoto danado.

Sutilmente, pego o elevador e chego ao despache de entrada. Sigo em passos silenciosos pela cobertura pouco iluminada. Luz natural é uma abominação em minhas residências, meu estilo de vida compreende e agradece a razão pela qual insisto em viver no escuro.

Abandono o papel em cima do balcão da cozinha assim que adentro ao cômodo. Algumas giratórias pelo mesmo me deixam em profunda incompreensão do que estou fazendo, o que almejo fazer e por que diabo eu mantenho-me desperdiçando a merda do meu tempo. Arqueio minhas costas ao que estralo meus ombros e pescoço, procuro pelo liquidificador e as frutas que enfeitam a receita. Eu pensei em Jimin quando pedi que Perrie fosse, dias atrás, ao mercado mais próximo e me comprasse comida humana. Afinal, eu sabia que precisaria em algum fatídico momento. Não imaginava se tratar de uma situação na qual Jimin se meteria entre a vida e a morte.

Como já fizera antes por incontáveis vezes.

Trata-se de morangos frescos e banana, descasco-a e pico junto aos morangos, jogo tudo dentro do liquidificador e bato com o leite e com o complexo vitamínico que o médico recomendou. Assisto o triturar da máquina conforme cruzo meus braços, perdendo-me, como de praxe, na bagunça do cacete de minha mente.

ROCK MÁFIAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora