Capítulo 34 - Show de horrores

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Warren ousou tentar ajuda-la, mas a horda tomou toda a distância dentre eles, afastando-o cada vez mais. Adam também se demonstrou solidário e o que conseguiu foi apenas uma cicatriz no rosto quando foi acertado por uma bala perdida vinda dos fundos. Ador e Frank cercavam as laterais e Niels e Thom não conseguiam nem se mover de onde estavam. Com a dianteira livre, coube a Nick arriscar algum jeito de salvar a valente mulher de seu derradeiro fim.

Ele correu, saltando sobre corpos, e atirou sobre os zumbis mais fortes que pressionavam sobre Lizzie. O peso morto deles continuou, mas Lizzie conseguiu se arrastar para fora enquanto Nick tentava atrair a atenção da maioria. Alguns ferrenhos ousaram a contra-atacar Lizzie, mas o que encontraram foi a fúria reestabelecida da mulher. Ela já havia perdido seu casaco no atracamento e sua regata branca estava tão suja de sangue quanto seu cabelo. Mesmo com a imagem de uma sobrevivente mergulhada no caos, Lizzie crescia como uma leoa defendendo seu território. Cabeças eclodiam com seu forte pisado e corpos despencavam em dominó quando ela avançava brutalmente sobre eles.

- Quero ser como você quando crescer - brincou Nick, mesmo na tensão do combate, boquiaberto com a desenvoltura da mulher.

Lizzie apenas riu e continuou lutando, cansada demais para dizer alguma palavra.

Um grito desesperador estrugiu pelo salão. Nick e Lizzie se entreolharam assustados e procuraram por entre aquela pilha de corpos e a nova onda de zumbis que se aproximava, o que ocorria dentre a agitação. Foi então que Nick encontrou os olhos pesarosos de Adam recaídos sobre Thom, caído no chão, se agoniando enquanto suas vísceras eram arrancadas pelo famintos mortos-vivos. O homem se afogava em seu próprio sangue e assistia sua morte de forma dolorosa e brutal. Era um prato cheio para os festim dos mortos e um pano pesado e melancólico para os sobreviventes que ainda deveriam lutar para salvar suas vidas.

Inconformado pela perda do irmão, Adam tentou intervir de alguma forte, mas foi repreendido por Warren, que o trouxe de volta para si e para o caótico momento. O olhar de Warren já lhe dizia muitas coisas e o irmão em luto precisou reencontrar suas forças para continuar lutando. Uma onda de fúria cresceu sobre ele e avançou sobre a horda, engalfinhando-se com gritos e socos, descarregando toda a sua dor sobre os desvairados humanoides. E foi com os gritos de luto, que Adam desapareceu na muralha de zumbis e a soturna canção da morte. Tiros foram ouvidos, até que seu corpo emergiu sobre a onda, com os membros arrancados e a cabeça jazendo desprendida do resto. A escolha de Adam estava em viver a eternidade ao lado de seu irmão.

Os momentos que sequenciaram aquele pesaroso prelúdio foram ainda mais angustiantes e tensos. Tanto sangue derramado, de vivos e mortos, e ainda parecia tão distante de acabar. Ador, exausto pelo longo show de horrores e abatido por assistir a morte de dois queridos amigos, sentia-se enfraquecido e desesperado para sair dali. O que ainda lhe restava de energia vinha da esperança de reencontrar seu filho, Arthur, e retomar a sua família, cumprindo com a promessa que fez à Sophie.

O número de errantes havia diminuído drasticamente desde que começou aquele combate em arena, mas ainda eram mais de vinte para cada sobrevivente ainda vivo. A maioria se dissipava dentre os combatentes que assumiam a linha de frente - Nick e Lizzie à esquerda e Warren e Niels à direita. Ador e Frank, com mais tempo livre, ficavam encarregados de atirar no maior número possível que conseguissem, reduzindo a quantidade para o confronto dos demais à frente. Contudo, nem sempre armas de fogo eram usadas. Algumas vezes, Ador reassumia uma posição mais central e lutava contra os mortos-vivos que furavam aquela linha de defesa e avançavam para ataca-los por trás. Como um líder, Ador sentia-se na obrigação de cuidar de cada um dos seus, incluindo Nick e Niels, por quem ele tinha um apreço mais especial.

O que ligava Nick e Niels a Ador vinha de algo mais interno, um sentimento familiar, que talvez somente ele poderia explicar. Os dois garotos eram tão jovens quanto seu filho, Arthur, desaparecido há mais de noventa dias, desde que foi raptado pelos escorpiões. E foi em garotos como aqueles que lutavam ao seu lado, que Ador havia reencontrado uma chama de esperança para continuar sobrevivendo, enquanto não se tinha alguma notícia sobre o paradeiro de seu filho. Nick, especialmente, era tido como um filho para Ador. O garoto era persistente e impertinente, introvertido e altruísta, observador e valente... Havia um espírito de liderança que brilhava em seu interior e Ador o prestigiava por isso.

Zombie World - A Evolução (Livro 2)Where stories live. Discover now