CAPÍTULO QUINZE

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   No dia seguinte, Marcela e eu fomos visitar o Bioparque Temaikén. Fiquei apaixonada por aquele lugar. Nós nos aventuramos entre pavões, morcegos, cangurus, pássaros, peixes e os mais diversos bichos fofos que você pode imaginar. Foi um dia muito agradável. Nós almoçamos por lá mesmo e voltamos para a capital apenas no início da noite.

Detivemo-nos em um café próximo do nosso hotel e fizemos um agradável lanche. Marcela me contou que a sua vinda a Buenos Aires tinha outro motivo, além da sua preocupação comigo. Ela conseguira uma entrevista de emprego, que se daria em dois dias. Dava para acreditar? Ela estava radiante e aparentava menos nervosismo do que provavelmente sentia.

− O meu chefe conseguiu a entrevista para mim − ela explicou com um sorriso contagiante. − E eu fiquei muito feliz... Vou agradecer a ele eternamente. Mesmo que as motivações dele envolvam ficar longe de mim − ela completou com uma gargalhada ao final.

Marcela e Patrício, seu chefe, tinham uma relação de amor e ódio. Os dois viviam se estranhando pelos cantos da redação e vez ou outra protagonizavam discussões de níveis estratosféricos. Patrício não era má pessoa, de jeito nenhum. Mas ele tinha tendência a pensar dentro da sua própria caixinha, o que com certeza irritava minha melhor amiga mais que qualquer outra coisa.

Seguimos de forma tranquila em direção ao nosso hotel. O trânsito estava mais caótico que o normal, então fomos caminhando mesmo. Conforme nos aproximávamos do nosso hotel, ruídos estranhos se faziam ouvir. Havia sirenes e falatório e talvez... Gritos. Marcela e eu nos entreolhamos e sem que precisássemos dizer nada apertamos o passo. Viramos na nossa rua e ao longe vimos o aglomerado de pessoas na porta do nosso hotel. Nossos olhares de preocupação se intensificaram e pude ver a testa da minha melhor amiga franzir. Como já mencionei anteriormente, Marcela é a rainha do pouco caso e raramente expressa algum tipo de preocupação... A menos que os indícios sejam gravíssimos. O que acredito ser o caso.

Corremos os poucos metros que nos separavam do nosso hotel e quando lá chegamos fomos paradas por policiais. Havia um caminhão do corpo de bombeiros estacionado na porta e muitos homens lançando jatos de água na direção do prédio. Expliquei ao policial que nos parou que estávamos hospedadas naquele hotel; que todas as nossas coisas estavam lá dentro; que não tínhamos para onde ir. Rapidamente ele levantou a fita de isolamento de área e nos levou para o pequeno mercadinho que ficava a alguns metros de nós. Entramos no local e nos deparamos com várias pessoas − entre hóspedes e funcionários − e muita bagagem espalhada.

− Assim que o incêndio apresentou os primeiros indícios, os funcionários começaram a evacuar a área... Em seguida, recolheram o maior número de pertences de seus hóspedes − o policial explicou de maneira afobada. Ele acenou para um dos recepcionistas do nosso hotel, que tentou nos tranquilizar.

− O fogo está sob controle. Não atingiu os quartos, mas não podíamos correr riscos. O incêndio está sendo noticiado, portanto, a primeira coisa a se fazer é contatar as pessoas mais próximas e avisar que estão bem.

E foi exatamente isso que fizemos. Liguei para os meus pais, que acabavam de saber da notícia. Mesmo a quilômetros de distância pude sentir o alívio deles ao ouvirem a minha voz. Eu ainda não sabia o que faria, estava um tanto quanto atordoada, mas prometi mantê-los informados. Quando finalizei a chamada, pronta para ligar para Nico, meu celular tocou. E era ele.

− Nina? − sua voz desesperada chamou do outro lado da linha. − Nina, você está bem?

− Estou bem, Nico, fique calmo − eu disse e pude sentir que ele quase chorava de alívio. A julgar pela sua voz, eu diria que estava escondendo o choro.

PODER EXTRA G (degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora