Retornando ao meu trajeto na esperança de que eles notassem a minha falta de interesse e entendessem que era para seguir sua própria noite, os homens viram apenas como um novo desafio, falando mais alto e apertando ainda mais o passo para me alcançar, o que fizeram mesmo quando eu mesma tentara acelerar-me.

–Poxa, bonitinha, nós só queremos conversar com você. –O magricela falara em um tom quase ofendido, como se questionasse "por que não caiu de amores com os nossos gritos?".

–O que uma jovem como você faz sozinha numa hora dessas? –O mais parrudo dissera, acompanhando o ritmo do meu caminhar.

Eu não respondia e nem os olhava, meus passos firmes com o maxilar rígido. Se os ignorasse, as chances de irem embora eram maiores.

–Ei, lindinha, –se jogassem mais um adjetivo terminado em "inha" para mim, acho que seria capaz de vomitar –estamos no mar tem muito tempo, queremos uma companhia feminina por hoje, quem sabe esquentar nossas camas...

Parei de andar e engoli meu refluxo.

Olhei para quem fizera o último comentário, o de cabeça raspada, de forma como olhava para os outros engraçadinhos que me deparava nas ruas de Kava.

–Então espero que tenham dinheiro, casas de prazer são o que não faltam por aqui.

O magricela, como se tivesse todo o direito do mundo, chegou mais perto de mim com a mão levantada em direção ao meu rosto.

–Não está entendendo? Queremos que você seja nosso prazer... –Antes dele, de fato, encostar em mim, se afastou com uma velocidade que não achava que fosse capaz depois de ver a lâmina da minha adaga recém desembainhada, susto no lugar do desejo que ocupava seus olhos.

–O que foi? Não gosta de mim agora? – Não era a mais exímia lutadora, mas tivera boas aulas, excelentes professores, experiência além do que suficiente com aquele tipo de gente em minha vida e mais uma adaga escondida em meu manto além da que estava em minhas mãos. Poderia me garantir com três bêbados desengonçados.

Seu amigo, o mais parrudo, tentara atacar-me, me abaixando em reflexo e raspando a lâmina em uma panturrilha, virando-me contra o oceano para ter uma boa visão dos oponentes, o cortado já mancando e levando a mão até onde começava a molhar o tecido de sangue escuro e espesso. Era um corte superficial, disso eu sabia pela pressão que colocara sobre a adaga.

O de cabeça raspada não estava mais no meu campo de visão, acreditando que ele havia se afastado assim que vira o aço prata afiado brilhando em minha mão.

Percebendo que o magricela tentaria atacar-me também, mesmo que visivelmente não queria (deveria ser mais uma questão de orgulho e empatia para com o amigo ferido), ainda mais receoso quando retirei de trás a segunda arma, uma em cada mão e com um sorriso no rosto, quase querendo que ele tentasse me atacar –o que ele fizera um tanto sem jeito.

Sem dificuldade, desviei-me e passei uma lâmina como o vento em seu braço, um corte similar que tinha em seu amigo, observando enquanto se afastavam sem olhas para trás, um correndo e o outro mancando. Se estivessem sóbrios, talvez não teria tido tanta facilidade.

Fazia a menção de guardar as adagas quando uma mão segurou meu braço direito, apertando-o com força, porém não o suficiente para que eu não conseguisse manter a expressão impassível.

–Solte o meu braço se ainda quiser ter o seu. –Com um puxão repentino, trouxera meu corpo para mais perto dele, sentindo todo o fedor de álcool em seu bafo quente.

–Sorte minha que eu gosto das nervosinhas. –Antes que eu pudesse reagir de qualquer forma, seja vomitando com tamanho nojo que sentia dele, do diminutivo sendo aplicado de novo ou pelo cheiro terrível de sua boca, enxergada somente seu rosto virando velozmente, levando o corpo junto, soltando o meu braço, até encontra-se no chão.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzजहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें