Capítulo 9 - Protegida pelos Deuses

2 1 0
                                    


— Fique tranquila, filha. Mal nenhum vai te atingir de fora para dentro. O corpo dessa mestra de agaverde está selada para o mal com a aura de carvalho. Com essa aura, os Deuses da Terra estarão dentro de você, eles te acompanharão e você estará sendo protegida de perto. Agora sua alma é deles e a alma deles é a sua. — Fez uma pausa, ergueu o indicador balançando-o repetidamente, como se desse um aviso e continuou a falar. — O que aconteceu com seu irmão é algo perturbador, quem tomou o corpo dele, veste-o para fazer o mal, tenha certeza que não é ele ali falando e agindo, mas é algo muito ruim, uma magia obscura, antiga e profunda. Um mal inferior. Os nativos haviam selado esse mal nessas terras, mas ele voltou para terminar seus trabalhos.

Conforme recebia, as informações, ele ia ficando mais agitado, dando mais pausas entre uma fala e outra.

— Ele usa seu irmão como ferramenta para o inferior, você vai ter que tirar essa coisa de dentro dele. Pobre, mestre. Se você não tirar ele daquele corpo, mais corpos serão violados e mais almas serão tomadas.

— Por que meu irmão, Sacerdote?

— Por causa do coração dele, que é assim, brilhante como o seu! Você deve detê-los! Os Deuses da Terra acreditam que você é a escolha certa!

— Como posso fazer isso, Pai? — Ela abriu os olhos, mas manteve a cabeça baixa em sinal de respeito.

— Você não pode. Tudo está nublado, forças malignas agem aqui... vejo apenas um menino, montado em um cavalo, indicando seu caminho. Leve a máscara, ela será útil! — Ele apontou para uma máscara de madeira que tinha na parede, era usada para afastar energias más daquela casa.

Flecha passa as mãos sobre o rosto, preocupada:

— Onde encontro esse espírito, Sacerdote?

— O espírito vai te encontrar. Mas, cuidado!... Os espíritos têm muitas formas.

Flecha pegou a garrafa ao seu lado e encheu o copo que o velho segurava. Ele tomou um gole da cachum:

— Devo ir agora, mesmo com a comunidade sem a liderança de Mestre Zurba? — Ela questionou, sabendo que as respostas deveriam ser interpretadas, mas buscou algo mais específico para se apoiar.

— Minha filha, liderar não é uma escolha, é um aprendizado.

Flecha se levanta, caminha até a parede das relíquias, onde havia vários itens cerimoniais de madeira, fabricados pelos sacerdotes e benzidos com a magia divina, entre estes, um escudo, uma espada de madeira, um arco com uma flecha atravessados em X, uma lança e a máscara que o velho sacerdote apontou. Ela retira a máscara da parede; o objeto era talhado em madeira nobre, com aspecto semelhante a um monstro com presas, que possuía detalhes pintados em vermelho e preto, e olhos animalescos.

— Que os Deuses da Terra te protejam; e confie na Clava da Justiça. — Ele acrescenta como último pedido dos deuses que falavam através dele, para que sua escolhida estivesse ciente de parte do caminho que deveria percorrer, dali em diante.

Flecha não consegue identificar ao que ele se referia, mas tem certeza de que, quando a hora chegar, vai se lembrar daquela mensagem. Ela reverencia o Sacerdote daquela casa e agradece pela ajuda, ele coloca a mão sobre a cabeça da agaverdista e a abençoa em sua missão.

— Vai, minha filha, pois os deuses devem te acompanhar hoje e sempre.

Os dedos tocam-lhe a testa como um carinho de despedida de uma mãe que observa seu filho partir para uma longa e árdua viagem.

Mestre Doul aguardava Flecha sair do salão sagrado. Assim que seus olhos encontram a agaverdista, saindo por entre a porta do salão, ele ergue a mão em sua direção, acenando para ela:

OS RAROS - Primeiros CapítulosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora