Almoçar fora? Miguel engoliu em seco por um breve instante, os dedos se flexionando em um punho fechado e apertado de receio. Mas não podia viver com medo. E aquele convite, de certa forma, era a forma de Lucas o dizer isso. Sabia que era. A lanchonete seria um lugar seguro, ainda mais com todos seus amigos lá para resguardá-lo se algo acontecesse. Continuava receoso ainda assim, mas decidiu ignorar a vozinha no fundo de sua cabeça o dizendo para repensar. Não ia repensar nada. Ia à lanchonete, e ia comer com seus amigos, e depois ia voltar para a escola. Pronto. Não era nada de mais.

— Sim, é uma ótima ideia. Irei com vocês.

Lucas sorriu, o suficiente para dar o resto de certeza a Miguel de ser realmente uma excelente ideia, e então saiu correndo para sua mesa antes do professor precisar mandá-lo.

Miguel passou o resto do dia pensativo. Ainda se pegava conferindo o celular sempre que possível, nem um pouco perto de se ver livre do nervosismo corroendo sob sua pele, mas sendo muito bem sucedido em afogar tal preocupação ao pensar em um almoço divertido com seus amigos. E Lucas.

Não que Lucas não fosse seu amigo, mas a palavra começava a parecer muito simplista para descrever a relação deles. Ainda assim, namorado era algo muito pesado para o momento, não era? O que deveria dizer? Distraído, fazendo suas anotações e assistindo as aulas se surpreendeu ao se pegar mais interessado nesse pequeno detalhe que em qualquer preocupação. O dia veio e se foi em uma velocidade incrível, e quando a hora do almoço chegou, embora ainda nervoso, Miguel estava mais ansioso para passar um tempo com eles que com medo do que poderia acontecer.

Eles começaram a seguir para a lanchonete, Miguel e Lucas lado a lado no final da pequena fila de dupla deles. Vez ou outra, quando andavam em uma calçada estreita, Miguel sentia seus dedos roçarem nos de Lucas, e em todas as vezes os dedos do garoto se dobraram um pouco, quase como se esperassem ser segurados.

Na terceira vez, Miguel não resistiu e fez exatamente isso, entrelaçando seus dedos nos do garoto com um pouco de cuidado, mas firmeza. A cada pequeno gesto, a cada novo passo de coragem dado, o sorriso nos lábios de Lucas era uma confirmação e um encorajamento. Era isso mesmo o que deveria fazer.

Mesmo assim, soltou a mão do garoto ao chegarem na lanchonete em si. Lucas não reclamou, nem expressou qualquer sinal de se importar com a atitude de qualquer forma. Em vez disso, já levantou o rosto para se distrair com o cardápio nas telas em cima do caixa.

— Quer dividir um combo de duas pessoas? — Lucas perguntou, indicando algumas opções. — Eu não sou de comer muito e sempre divido com a Clara, mas agora o Pedro paga os lanches dela então eu perdi a dupla — completou, rindo baixinho.

Miguel até comia bastante, embora nem de perto o mesmo tanto que Arthur, então poder pegar um lanche maior por dividir o preço com alguém era uma ideia muito boa.

— Quero sim. Eu gosto do que tem pimenta.

— Você gosta de pimenta? — Lucas perguntou, curioso, com um sorriso desafiador no rosto. — Interessante.

— Por quê? Você gosta?

Lucas deu de ombros, colocando-se na fila do caixa com Miguel e decidindo pelo combo número três, de hambúrgueres com pimenta jalapeño.

— Gosto. Clara odeia, nunca dava para pegar o combo de pimenta com ela. Dei sorte.

Miguel abriu um sorriso, sentindo um impulso de passar o braço pelos ombros de Lucas e se contendo no último instante. A lanchonete estava cheia. Mas não pode deixar de sentir o coração se aquecer com aquela pequena revelação. Havia algo de muito mágico em ir descobrindo essas pequenas coisas sobre Lucas, como o interesse por filmes de ficção científica e um gosto por comer pimenta.

Tempos ModernosWhere stories live. Discover now