Capítulo Um

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Ainda com os olhos fechados, sinto a claridade do dia refletir em meu rosto, me fazendo franzir a testa. Abro apenas um olho, com certa dificuldade, mas o suficiente para ver minha mãe abrir o outro lado da cortina, fazendo a luz preencher o quarto por completo.

- Qual é, mãe! - resmungo, puxando o travesseiro no qual minha cabeça repousava, e pressionando o mesmo contra meu rosto.

- Sem gracinhas, Any. - minha mãe diz, pisando duro até mim - Mudar de casa não te dá passe livre para abandonar o colégio. - ela puxa o travesseiro, atirando o mesmo para longe, me fazendo resmungar mais uma vez.

- Mãe, mudamos de país! - retruco, cobrindo a cabeça com o cobertor - Ainda não me acostumei com o fuso horário. Me deixa descansar.

- Me poupe, Any, já estamos aqui há dois meses.

- Mãe, amanhã eu vou. Eu prometo. - digo choramingando, enquanto ela tenta arrancar meu cobertor, que eu seguro com firmeza.

- Se a Any ficar em casa hoje, eu também quero faltar aula. - ouço a voz da minha irmã, Isabelly, e quando minha mãe consegue tirar meu cobertor, vejo a pequena figura de braços cruzados ao pé da porta.

- As duas vão pra escola! E chega desse assunto! Vão se arrumar! - dito isto, minha mãe sai do quarto impaciente, sem me dar tempo para responder, levando minha irmã emburrada consigo.

Desisto de argumentar e apenas surpiro, tateando a cama por baixo dos lençóis até encontrar meu celular, que estava completamente carregado. Há uma notificação na tela.

Uma nova mensagem do meu pai.

"Divirta-se na escola nova, princesa. Te amo para sempre."

Fico pensativa por alguns instantes e, então, digito.

"Obrigada. Te amo."

Suspiro ao ver que faltam poucos minutos para às sete da manhã, e faço uma careta triste, me levantando.
De qualquer forma, chegarei atrasada em meu primeiro dia de aula, mesmo que apenas alguns minutos. O verdadeiro motivo do meu desânimo não é o sono - embora sempre tenha abominado acordar cedo -, é o fato de ser meu primeiro dia de aula em um colégio de um país no qual eu vivo há apenas dois meses. Mesmo minha mãe tendo conseguido me matricular como bolsista em um colégio particular conhecido por ser o melhor em adaptar estrangeiros, é impossível não me sentir insegura.
Desde que nos mudamos do Brasil, não precisei socializar com ninguém. No máximo em restaurantes e shoppings, quando precisava comprar alguma coisa, levando em consideração a insegurança de minha mãe na hora de falar em inglês. Também teve o dia em que nossa vizinha veio nos dar boas vindas. A senhora Loukamaa, na verdade, foi muito acolhedora. Nos trouxe uma deliciosa torta de mirtilo e disse que poderíamos contar com ela se precisássemos de algo. Trabalhava como corretora de imóveis, e ficamos surpresas e animadas quando descobrimos que havia sido ela quem vendeu a casa na qual moramos atualmente para minha tia. Minha mãe a convidou para o jantar daquele dia - que havia sido pizza, já que com as coisas da mudança não tivemos tempo para cozinhar. A senhora Loukamaa não se importou, e foi correndo pegar um vinho em sua casa para beber com minha mãe. Eu e minha irmã bebemos suco de uva. Foi uma noite divertida, mesmo com diversas caixas de papelão espalhadas pela casa, que até então não haviamos começado a arrumar. Minha mãe e ela ficaram um tanto alegres depois de acabarem com a garrafa de vinho. Com o rosto vermelho de tanto beber, a senhora Loukamaa disse que viajaria na semana após aquela, para se juntar com o marido, a filha e as enteadas que estavam passando as férias no México. Estava sentindo falta deles, já que não pôde ir com eles por conta do trabalho. Ela falou, sonolenta, "é uma pena que as meninas não estejam aqui agora, acho que vocês poderiam se tornar grandes amigas", e depois disso, voltou cambaleando para sua casa.

Detention - Fanfic AtualizadaOnde histórias criam vida. Descubra agora