Correr ou Morrer - Duologia

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     Velocidade, repeti a mim mesma ouvindo o ronco do motor de 558 cavalos do meu intitulado McQueen, o McLaren F1 que por duas vezes bateu o recorde de veículo de rua mais rápido do mundo, atingindo a velocidade máxima de 386,7 km/h. Esse recorde foi possível graças à sua aerodinâmica revolucionária e a sua leveza de 1140 kg, graças ao chassis fabricado em fibra de carbono e o motor em alumínio.

     Era um carro de corrida que deslizava sobre os meus comandos.

     Repetindo o mantra do próprio Relâmpago McQueen de Carros, eu me perdia ao som do motor que me deixava inebriada. Eu sou a velocidade. Eu sou mais do que rápida, mais do que veloz, eu sou relâmpago. Com um leve empurrão no pedal do acelerador, senti o carro tremer em minhas mãos me fazendo apertar os dedos ao redor do volante sentindo todo poder que emanava dali. Abri os olhos para ver a garota loira que segurava sua bandana na mão, sorri ao olhar para o carro ao meu lado, para o homem que gargalhava alto como se já soubesse como a corrida terminaria e eu adorava ver as caras de todos quando me viam passar direto deixando-os para trás perdidos entre a fumaça dos pneus.

     Ao nosso redor, carros estavam estacionados estrategicamente lado a lado formando um corredor estreito onde apenas um carro passava por vez, aquele era o primeiro momento decisivo para mostrar quem arrancaria mais rápido. Um aglomerado de pessoas de diferentes tipos e etnias gritavam em animação dançando ao som dos motores e da música que tocava de alguma caixa de som instalada no porta-malas dos carros que estavam ali apenas para servir os convidados com música alta e muita curtição.

     Me foquei na garota loira que falava algo para as pessoas, aquilo era como um show, mas para mim era a chance de ganhar grana fácil em uma única noite.

     Olhei em direção ao aparelho de som do carro ligando para criar minha própria trilha sonora, eu amava quando estava correndo ao som de alguma música excitante que deixava tudo mais caloroso e me fazia imaginar estar em um daqueles filmes de ação de Hollywood. O som da guitarra e bateria ecoou pelo carro me obrigando a aumentar o volume ao reconhecer a música imediatamente, a batida de Fluorescent Adolescent mesclava com os roncos dos motores e sem perceber, me fazia balançar a cabeça no ritmo ao observar a garota em minha frente.

     Sabia que a garota balançaria sua bandana a qualquer momento dando início a corrida, por isso deslizei uma mão pelo cinto de segurança até a base forçando-o para checar se estava bem firme, minha outra mão acompanhava a batida da música tamborilando os dedos no volante despreocupadamente.

     Repeti meu mantra mais uma vez observando a garota virar em nossa direção, ela olhou para mim e então para o homem no carro ao meu lado, ergueu o braço que segurava a bandana e esperou míseros segundos para balançá-la nos fazendo sair ao mesmo tempo deixando marcas de pneus no asfalto acompanhados de fumaça e cheiro de borracha queimada que serviam como gasolina para mim.

     Não olhei para o lado para ver meu oponente, pisei no acelerador trocando as marchas rapidamente sabendo que passaria fácil por seu Mustang. Ao sairmos da aglomeração de pessoas, um mar deserto nos deu boas vindas mostrando uma rodovia silenciosa, tranquila e escura naquela parte, perfeita para mostrar a homens machistas e escrotos quem mandava ali. A paisagem montanhosa era um borrão nas janelas do meu carro e ao perceber que estava sozinha naquela parte, me permiti baixar os dois vidros da frente deixando que grandes lufadas de ar me fizesse sorrir em uma sensação de quase voo com os cabelos jogados para trás e a leveza em que McQueen conseguia chegar em quase 300 km por hora.