Capítulo três, sobre o primo do humano

182 33 3
                                    

Um. Eu nunca o tinha visto antes.

Dois. Ele ia me causar problemas.

Três. Ele era tão tipicamente humano quanto qualquer outra pessoa naquele bar e, ainda assim

Quatro. Eu não conseguia tirar os olhos dele.

Uma consideração:

Fuja do número quatro.

E era o que eu devia ter feito.

Ele era só mais um humano, afinal. Esquisito, idiota e tão estupidamente frágil como todos os outros.

E ia me causar problemas.

O primeiro deles foi com o infeliz da moto.

Ao invés de me ocupar com o bebum que ia se estrebuchar no poste, o que eu fiz?

É – acertou.

Por algum motivo, aquele humano estava me dando nos nervos.

Quando entrou a primeira vez, ele parecia um homem inocente. Mas uma coisa que se deve aprender desde cedo é:

Não confie em pessoas que pareçam inocentes.

Talvez fossem os cachinhos escuros que me irritassem.

Ou não.

Talvez os olhos puxados em um tom de azul brilhante demais é que o fizessem.

Os músculos que lhe cobriam os braços e o tórax debaixo da regata preta, quem sabe.

Ou talvez fosse o sorriso perfeito acabando em covinhas nas bochechas rosadas que estivesse me tirando do sério.

Na verdade, podia ser a junção de tudo aquilo em um humano normal e idiota.

É, fico com a última opção.

O humano irritante – talvez eu me refira a ele dessa forma a partir de agora – entrou no bar acompanhado do primo loiro e foi levado até a mesa do fundo sob os olhares de quase toda a gama feminina do recinto.

Desprezível.

 A baixinha do cabelo espetado pareceu surpresa quando o viu. Ela era a única garota da mesa, então talvez por isso sua reação tenha sido a mais evidente.

No entanto, os rapazes presentes o olharam como quem vê uma ameaça em potencial.

E eles tinham razão.

-Pessoal, esse é o meu primo Ian. – o humano loiro apresentou o humano irritante. Então era aquele o nome dele. Ian. Nomezinho sem graça, com letras faltando demais. Talvez ele estivesse destinado a me irritar, afinal.

E a me causar problemas.

O humano irritante acenou timidamente com a mão, parecendo meio corado enquanto fazia aquilo. Mas ele não parecia ser do tipo exatamente tímido. Ou não deveria ser.

Era praticamente um insulto, com aquele potencial todo.

O garoto da pele morena acenou com a tradicional cara de mau enquanto a menina do cabelo espetado sorriu debilmente para ele, um pouco desconcertada. Ela era fácil de ler, era espontânea. Bem melhor que o humano moreno emburrado.

O tal Ian sorriu de volta e o primo loiro apontou uma cadeira para que ele se sentasse. E foi o que ele fez.

A parte feminina do bar pareceu realmente desapontada e logo todas elas já estavam entretidas com as canecas nas mãos, lançando comentários sobre o recém-chegado.

Carne fresca para os animais que estão sempre à espreita.

Embora, naquele caso, eu tivesse de concordar:

Era carne fresca de alta qualidade.

 - Ian, estes são Lisa e Tony. – o loiro apontou para os outros sentados à mesa. – O Ian pediu transferência pra faculdade daqui.

Eu podia sentir os ânimos se alterarem no ambiente. Uma coisa curiosa nos humanos é que eles fazem tudo criar olhos e ouvidos. Tudo.

A declaração do loiro bonitão foi um choque.

Então aquilo significava que o humano irritante das letras faltando ia ficar por ali. Mesmo. Irremediavelmente.

Ou não.

Se ele decidisse me irritar mais um pouco, a história poderia ser outra e eu não teria problemas com aquilo.

Ou eu achava que não.

Como eu disse, ele ia me causar problemas.

Olhei para o relógio, quase dez da noite.

O primeiro deles estava para começar.

O homem que me chamava de anjo [FINALIZADA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora