Parte 1: Ascensão (Capítulo 4)

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Sora não parava de crescer, tanto fisicamente quanto dentro da hierarquia da gangue. Agora ela recebia missões grandiosas e sempre se sobressaía em todas, sendo uma das melhores atiradoras dentre os Víboras, e sempre usava sua lábia afiada para entrar em confusões e também para se livrar de problemas.

Não era segredo para ninguém que a garota planejava se vingar dos Niander-Kaine, e os gângsters não a reprimiam por isso, especialmente por que todos haviam passado por injustiças, maiores ou menores, então entendiam exatamente de onde vinha aquele desejo de fazer justiça com as próprias mãos. E ninguém duvidava que ela conseguiria alcançar seu objetivo. Claro, o alvo dela não era qualquer um, então sem dúvidas seria algo excepcionalmente difícil de fazer, e seria ainda mais difícil sobreviver depois de matar o magnata. Mas isso não a intimidava. Sua determinação era muito maior do que qualquer medo e qualquer ameaça.

Com o passar dos meses, Sora estendeu, e muito, a sua lista de contatos, com mercenários, vendedores de veículos e outras propriedades, médicos e cientistas, hackers, fornecedores de armas e medicamentos e empresários locais, e se tornou membro de várias das grandes networks — grupos de serviços e trabalhos nem sempre... legais — da cidade, ganhando ainda mais notoriedade e aumentando sua reputação a cada trabalho concluído. Mesmo assim, apesar de estar alcançando novas oportunidades, a garota não esqueceu ou afastou-se dos Víboras, que ainda eram sua família, os únicos que a acolheram quando o mundo a esqueceu na sarjeta.

Durante o ano 2118 a garota também se aproximou de uma pessoa especial chamada Diana Haru, que era uma Víbora fascinada por tecnologia e computadores, sendo conhecida dentro da gangue como "Hackzeira". Ela tinha pele parda, olhos claros, cabelos chanel com franja e algumas mechas azuis, muitas tatuagens por todo o corpo, inclusive a frase "Dulce Periculum" — Doce é o Perigo, em latim — logo abaixo de seu olho esquerdo. As duas se estranharam bastante quando se conheceram, como se fossem gato e cachorro, mas logo ficaram encantadas uma com a outra e seus sentimentos tornaram-se óbvios para qualquer um que prestasse atenção, mas, mesmo assim, elas demoraram bastante para admiti-los.

Quando Diana finalmente decidiu dizer a Sora como se sentia, ambas estavam no meio de um trabalho meio... informal, digamos assim. Elas ouviram rumores sobre uma gangue inimiga que supostamente havia tomado posse de uma boate de Angra e estavam agredindo as garotas e rapazes que trabalhavam lá, então elas foram conferir e descobriram que os rumores eram bem verdadeiros. Devido ao intenso tiroteio, a boate acabou cercada por policiais, e foi então que, subitamente, no centro do estacionamento onde as duas estavam se protegendo dos tiros inimigos, algo explodiu. A Hackzeira não se feriu tanto quanto Sora, que acabou perdendo a mão e o antebraço esquerdo. E, embora ela negue com todas as suas forças, Diana sentiu medo de morrer naquele dia, além, é claro, de perder a "Boneca", como havia apelidado Sora, e por isso revelou seus sentimentos antes que fosse tarde demais.

No fim das contas, elas conseguiram escapar graças a outros Víboras, que chegaram logo depois da explosão e forçaram os policiais a fugir. Agora sem uma das mãos, Sora sentiu-se deprimida com a ideia de não conseguir mais trabalhar com o que mais gostava: mecânica. Ela sabia que existiam próteses superavançadas, mas também sabia que eram extremamente caras e um produto que só alguém muito, muito rico podia adquirir, porém, Diana teve uma ideia.

Como a Hackzeira era a melhor quando o assunto era computadores, ela desenvolveu, do zero, uma pequena interface neural capaz de captar sinais do cérebro e transmiti-las para o membro sintético exatamente como acontece com um membro natural. A próxima parte foi construir o braço em si, e não foi tão difícil quanto o esperado. Os materiais usados não foram os melhores, a fim de economizar o orçamento que já era limitado, mas Diana garantiu que tanto as estruturas externas quanto as internas pudessem ser melhoradas futuramente, então, com a ajuda de Hindei Shing, um dos líderes dos Víboras e também um grande entusiasta de impressoras 3D, a prótese foi construída e Diana fez os últimos ajustes tecnológicos e enfim iniciaram-se os testes, que foram muito melhores do que bons. Até a Hackzeira ficou surpresa consigo mesma.

Depois da construção e dos testes com a prótese veio a última parte, que consistia em implantar cirurgicamente a interface neural na cabeça de Sora, visto que manter o dispositivo do lado de fora seria perigoso demais, possibilitando que fosse quebrado, hackeado ou até mesmo arrancado, estando visível perto de sua nuca, então foi preciso encontrar um cirurgião confiável e capaz o bastante para realizar a tarefa, e, de todas as partes do plano, essa foi a mais difícil. Parecia ser impossível achar um contato decente em Riunagi. Todos os potenciais cirurgiões acabavam revelando-se grandes charlatões inexperientes e interessados apenas no dinheiro.

Exausta pelas várias semanas que gastou procurando alguém para implantar o dispositivo, Sora decidiu pedir ajuda a Yelena Andrade, uma empresária e chefe de uma das maiores networks da cidade. Com a promessa de ficar devendo um favor à mulher, Sora conseguiu o contato de um cirurgião bem distante, da Grande-Cidade Grasmere, onde um dia foi o Canadá. O homem cobrava caro por seus serviços, mas estava disposto a fazer uma visita a Riunagi para realizar o implante, então Sora e Diana aceitaram. E assim a garota recuperou seu braço esquerdo, mas não apenas isso... Com a prótese, que era feita de materiais bem resistentes, ela passou a ser capaz de, entre outras coisas, quebrar portas — ou crânios, dependendo do humor atual dela — com seus socos e dar tiros com muito mais precisão.

Sangue na Parede de MármoreWhere stories live. Discover now