Eu assenti mais uma vez, apreciando suas palavras de conforto.

- Obrigada...

- Não precisa agradecer. Saiba que eu estou disponível quando precisar conversar.

- Pelo visto vou ter que conversar com você sempre porque você é ótima no que faz - falei, sincera. Era incrível como aquela breve conversa preencheu boa parte do meu vazio existencial.

- É isso que eu gosto de ouvir. - Ela esboçou seu sorriso genuíno antes de me dar um abraço apertado.

***


Meu pai recebeu alta do hospital três dias depois. Graças a Deus não foi nada muito grave e ele conseguiu se recuperar rapidamente.

Porém, ainda tinha algo que me preocupava.

Pedro tinha virado notícia em Hilionópoles e enquanto a jornalista na TV informava que ele estava foragido desde o dia que cometeu o crime, eu me peguei pensando se ele poderia voltar para terminar sua vingança.

- Desliga isso, anjinho - meu pai disse, sentado ao meu lado no sofá. - Tem coisa melhor pra gente fazer. - Ele balançou uma cópia do livro Admirável Mundo Novo enquanto esboçava um meio sorriso.

- Concordo - minha mãe disse, lendo o livro junto com ele.

- Eu já li esse livro. - Desliguei a TV e fiquei de pé, apreciando o momento dos dois. - Vou encher o saco da Camile.

Assim que saí da sala, bati na porta do quarto da Camile e esperei. Alguns segundos depois, ela abriu a porta.

- Oi - falei, entrando no cômodo. - O que tá fazendo?

- Nada. Eu só estava conversando com a Marcela.

- Hmm... - Eu me joguei na sua cama. - O que está rolando entre vocês?

Camile me encarou.

- Por que você acha que está rolando alguma coisa?

Eu dei de ombros.

- Vocês vivem grudadas e conversando toda hora. E além do mais, eu conheço a Marcela, ela deve estar caidinha por você.

Camile riu do que eu disse.

- Você acha que ela gosta de mim?

- A Marcela não assumiu ainda? Ela está demorando demais...

- Não, é que... a gente só está se conhecendo.

- Vocês já se conheceram. Se peguem logo de uma vez. Se eu estivesse no seu lugar, eu beijaria ela na primeira oportunidade.

Camile assumiu uma expressão surpresa com as minhas palavras.

- Falando assim, até parece que você não é hetero.

Eu ri e olhei bem para cara dela.

- E quem disse que eu sou hetero? Sou bissexual.

- Por essa, eu não esperava...

Eu apoiei a mão no rosto e a fitei.

- Por que você está surpresa? Só porque eu namorei com o Teo, não significa que eu gosto só de homens. - falei, sentindo uma saudade ainda maior só de citar o nome do meu ex-namorado.

- É que você tem cara de patricinha e geralmente elas só se atraem por homens.

Revirei os olhos.

- Talvez eu seja uma patricinha diferenciada. Mas falando sério: quem precisa se conhecer melhor é a gente. Pelo visto, você não sabia nada de mim.

- Pois é. Mas e você? Já está se sentindo melhor?

Eu fiz que sim e logo respondi:

- Eu tô bem. Espero que o pior já tenha passado... e que o Pedro não apareça de novo pra nos atormentar...

- Fica tranquila - Camile sentou na beira da cama. - A polícia já está atrás dele e ele não seria louco de aparecer de repente.

- Eu sei, mas eu ainda tenho medo... - Eu estava tensa só de pensar na possibilidade de Pedro aparecer do nada no colégio ou na minha casa.

- Vai dar tudo certo. Tudo que a gente precisa fazer agora é se focar no vestibular.

Eu assenti. Faltavam apenas dois meses para o vestibular e como meus professores gostavam de ressaltar, esse era um grande passo na vida do jovem estudante.

- Eu espero que a gente estude no mesmo lugar - falei, sincera.

- Eu também. Vai ser legal ir pra faculdade com a minha mais nova irmã.

Eu sorri, feliz com o que ela disse. Confesso que no começo, eu fiquei com ciúme da forma como meus pais tratavam a Camile, mas o que eu não sabia é que eu precisava de uma irmã para compartilhar minhas queixas e também para nos apoiarmos nos momentos difíceis.

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Estamos chegando na reta final e o próximo capítulo já é o último 🤧



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