Lindo. Maravilhoso.

Depois do almoço, ficamos sentados na área, conversando enquanto eu cortava seu cabelo, seguidas por muitas carícias e mãos bobas, da parte dele, que não me deixava concluir meu trabalho.

Final da tarde, estava lhe contando sobre a minha infância no interior e sobre a minha mãe, a mulher incrível que ela é.

Ele ouvia atentamente a tudo e sempre de forma inteligente, sabia insistir num assunto quando era confortável para mim, não foi o caso quando falei do meu pai, quando descobriu a minha gravidez. Não foi um momento muito bom na minha vida, ter a sua rejeição, mas eu sei que um dia ele vai me perdoar e voltaremos a ser como antes.

Contava-lhe também sobre a ajuda que Fátima e Rodrigo me deram no início, quando ouvimos batidas no portão. Eu me levantei surpresa, porque não estava esperando ninguém e o dia estava indo embora.

Preocupado, Miguel saiu junto comigo.

Eu me espantei quando vi um Felipe nada bem, de olhos vermelhos.

Acho que já sei o motivo.

Abracei o meu amigo, que sempre cheio de prosas e alegrias, neste momento estava abatido.

— Tá tudo bem! Vem.

Puxei a sua mão, acenando para o Miguel fechar o portão, e segui com Felipe para dentro de casa. Como já havia feito esse caminho outras vezes, me puxou direto para o quarto e se deitou na minha cama, me puxando.

Num emaranhado de corpos, o ouvi chorar, calada. Sei que ele só precisa disso. Depois de muito chorar e senti-lo mais calmo, enfim pudemos conversar.

— Fala.

— Falar o quê? Odeio essa porra toda. Ela sabe que eu não escolhi ser assim, me trata como uma aberração, está toda fodida, ninguém querendo saber de cuidar dela e eu que me disponho, ela vem fazer isso. foda, pequena, não sei se aguento mais. — Ele voltou a chorar.

— Ei, não fica assim, Fê. Se te machuca tanto e ela não reconhece o que você faz, por que continuar lá?

— Ela está doente, e é minha mãe. É minha obrigação cuidar dela.

— E nesse processo todo, você sair mais ferido e doente do que ela, pode? Abuso psicológico também é grave. É isso que ela faz com você. Acha que não amo meu pai, mesmo depois de tudo? O amo e se um dia ele precisar de um rim, eu doarei sem pensar duas vezes, porque é meu pai, mas eu não sou obrigada a ouvir as grosserias que me falava, independente do que eu tenha feito. Com você é a mesma coisa, Fê. Você é maravilhoso, o ser mais iluminado que eu já vi e independente de sua orientação sexual, ela não tem o direito de te tratar como trata. Quantas vezes mais ela vai te destruir até acontecer uma besteira? Vai ter válido a pena? Se ela não enxerga o ser maravilhoso que você é, sinto muito, quem perde é ela.

— É difícil me afastar.

— Não é difícil, se ela mesma não reconhece que precisa de você, para que vai ficar lá aguentando humilhação? Você merece mais. Não estou falando para você abandoná-la, dê um tempo a vocês dois. Se afaste para o seu próprio bem. Você não merece isso. Eu já te disse muitas vezes e volto a repetir, ela é a única que está perdendo nessa história toda.

— Foda que ela tem que tomar os remédios na hora certa e nem consegue ir tomar banho sozinha.

— E mesmo sendo você a fazer isso, ela vive te humilhando. Tem certas pessoas que merecem perder para aprender a dar valor. Nós não podemos segurar na mão de pessoas mesquinhas para sempre. Ajudamos porque é o certo a fazer, mas se elas não sabem valorizar, não somos nós que devemos nos abater. Porque são eles que perdem.

AMOR FEDERAL ( DISPONÍVEL NA AMAZON)Where stories live. Discover now