Capítulo 34

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-Odeio Paris! - exclamou Marcel do outro lado do ecrã.

-Porquê? - perguntou o Harry.

-Metem-se com o meu sotaque, com o meu cabelo, com a minha roupa, com os meus óculos, com a minha maneira de caminhar. - bufou cansado. - Até se metem com a minha caligrafia!

-Bate-lhes! - exclamou Edward. - Assim. - disse antes de elevar a mão e dar um cachaço ao Harry que estava sentado ao seu lado.

-Ei! - queixou-se este.

-Que foi? - perguntou Edward como se nada se passasse enquanto o Marcel ria. - Estava apenas a fazer uma demonstração gráfica.

Isso era o que eu gostaria que se tivesse passado naquela noite quando o Marcel ligou, mas por desgraça não foi assim. Depois de tudo, não podia esperar menos.

Levantei-me do sofá quando o Harry desligou a chamada com o seu irmão. O Edward mantinha o olhar fixo nalguma parte. Nunca mais voltou a ser o mesmo. Pelo menos durante um tempo. Desde a semana anterior, na que se tornou bastante agressivo, o seu olhar tinha-se tornado sombrio. Estava calado e o seu humor irónico tinha desaparecido. Quase não falava e literalmente não sabia o que fazer com ele. Tentava falar-lhe mas não me respondia. Dormia o dia todo, depois murmurava e, se visse alguém, dizia para o deixar em paz.

A Ângela veio dizer-lhe quais eram os trabalhos, mas limitou-se a assentir sem vontade enquanto ela falava. Caiu um par de vezes, mas por momentos tive a sensação de que realmente não queria a companhia de ninguém. Se pudesse viajar pela sua mente e saber o que estava a pensar fá-lo-ia, mas por desgraça não podia. Estava chateada com ele pelo que tinha feito, mas parecia tão mal que ficava sem vontade para isso. Tentei voltar a falar com ele, mas o rapaz virou-me a cara e disse-me para o deixar sozinho.

O Harry estava mais animado. Literalmente tinha voltado a ser o rapaz que sempre foi. Orgulhoso, atrevido, trapalhão e meu namorado. Sim, tinha voltado para ele. Estava cansada de que a minha cabeça desse voltas e voltas indecisa. Já era altura de tudo se acalmar. Sinceramente não conseguia aguentar nem mais um dia sem me decidir. Talvez se o Marcel não se tivesse ido embora e o Edward falasse comigo as coisas tivessem sido diferentes. Mas mesmo que o Edward agisse como uma alma penada, eu pelo menos estava feliz. Tentei ajudá-lo, mas como se ajuda alguém que não quer ser ajudado? O Edward não queria ser ajudado. Nem sequer queria que o ajudasse a caminhar ou a tomar banho. Era como se quisesse viajar para um mundo onde só estivesse ele. E preocupava-me.

Ao Marcel as coisas não estavam a correr bem em Paris. Mas dizia que pelo menos os estudos eram interessantes. Gostava de falar com ele cada noite enquanto acariciava o Einstein e o Harry roncava ao meu lado. Bem, os ronquidos eram incómodos, mas o Marcel sabia tratá-los com humor.

Viajei o meu olhar pela janela, procurando com este algum sinal do táxi que traria de volta a Lottie e o Niall. Mas não havia.

-Ei. - sussurrou o Harry no meu ouvido. - O que estás a fazer?

Sorri.

-Estou a ver se o Niall e a Lottie vêm. - declarei e senti os seus braços rodear a minha cintura por trás e apoiou a cabeça no meu ombro.

Beijou a minha bochecha.

-Amo-te. - disse.

-Eu amo-te mais.

Mantivémo-nos em silêncio durante um tempo. Aí, a olhar pela janela do meu quarto. O Edward estava a dormir no quarto do Marcel, já que o Harry tinha vindo para o meu. As coisas com a Gemma ainda estavam mal e a rapariga não queria atender o telemóvel. Era de noite e, por primeira vez em muito tempo, conseguia ver as estrelas brilhar baixo o contaminado céu de Londres.

Os Trigémeos Styles 3: Déjà vu (tradução)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora