4

133 21 4
                                    

Não tive coragem de voltar ao trabalho depois daquele dia, por isso estava resolvendo tudo de casa. Eram incontáveis chamadas de vídeo, ligações e problemas a resolver, foi suficiente pra me fazer esquecer por pouco período de tempo do Hernandes. Passei a receber ligações de um número desconhecido que rapidamente dei um bloqueio, ele iria precisar de mais que umas ligações se quisesse explicações.
Aproveitei que meus pais haviam chegado de viagem para deixar o Kay com eles, eu precisava de um momento para pensar.
Ele agora sabia sobre o Kay, com toda certeza chegou a conclusão que escondi um filho, mas o que ele poderia fazer? Um escândalo querendo a guarda? Duvido muito, ele e sua família de narcisistas prezavam muito a imagem, imagina o escândalo de um filho bastardo com o secretário?
Seus pais eram sem dúvidas problemáticos, das poucas vezes que encontrei com eles enquanto trabalhava para o Hernandes os dois nem olharam na minha cara, já ouve até boatos de serem racistas, era uma coisa que eu não estava disposto a lidar.

Depois de dar boa noite ao Kay por Skype, ele não conseguia dormir sem falar comigo antes, coloquei uma série qualquer na televisão quando meu interfone tocou.
Não tive nem tempo de pensar em fingir que não ouvi quando batidas na minha porta chamaram minha atenção.

Não foi nenhuma surpresa encontrar ele parado na minha porta, diferente dos ternos que estava acostumado a usar sempre, vestia algo mais simples, suas feições continuavam seria e dura.

— Nem precisa falar nada, entra! — seria melhor resolver aquilo de uma vez e me livrar logo do problema.

Apontei para o sofá e ele se sentou me esperando fazer o mesmo antes de começar a falar.

— Ele é meu filho. — não foi uma pergunta, e isso me fez estremecer — Por isso foi embora?

— Obviamente, o que você esperava que eu fizesse? — perguntei passando a mão pelos cabelos — Você estava noivo, eu não tinha certeza de nada em relação a nós dois, foi minha única alternativa.

— Que tipo de homem você acha que eu sou? — Perguntou incrédulo enquanto me olhava com raiva

— O pior tipo, ficou noivo mesmo estando tendo um caso comigo, o que você faria se soubesse? — rebati irritado — Seus pais com toda certeza ficariam orgulhosos! — ri da minha própria piada.

— Eu estava disposto a tudo por você, as coisa teriam sido diferentes, você me privou de conhecer o meu próprio filho!

— Não me venha com essa, você teria nós rejeitado na primeira oportunidade, eu trabalhava pra você esqueceu? — apontei meu dedo bem na sua cara — Você não iria querer um escândalo desse tipo, um filho enquanto estava noivo, seus pais enfartariam, sem contar...

— Ele tem meus olhos... — ele disse pensativo — Ele é tão lindo...

— Ele é perfeito, foi de onde eu tirei forças para te esquecer e seguir minha vida. — uma lágrima solitária rolou pelo seu rosto — Eu não iria viver de migalhas do seu afeto o resto da vida.

— Me desculpe... — ele falou tão baixo que eu só ouvi por estar bem do seu lado — Eu quero conhecê-lo, quero que ele saiba que sou seu pai, quero registrar, quero...

— É um direito seu, eu jamais te negaria isso, o meu filho...

— Nosso filho! — falou amargurado

— Que seja! — revirei os olhos — Vamos com calma tá bom?

— Ele nunca perguntou sobre mim? — havia esperança na sua voz

— Nunca permiti que sua falta fizesse qualquer diferença na vida dele, então não! — eu precisa ser duro e esclarecer algumas coisas. — Ele é um garoto tão maravilhoso...

— Eu sempre quis ser pai. — ele começou enquanto secava os olhos — Eu voltava sempre a aquele apartamento, durante todos esses anos, eu me arrependia de tanta coisa, de não ter dito as coisas que meu coração só faltava gritar, de ter segurado sua mão, de ter perguntado mais sobre sua família...

— Isso é passado, Hernandes, não precisamos discutir isso. — falei rapidamente

— Não imagino o quão difícil deve ter sido pra você...

— Eu tinha meus pais, mas sim, foi muito difícil, nós primeiro meses tudo que eu queria era voltar e contar tudo na esperança de você dizer...

— Sempre te amei.

— Exatamente isso, mas depois tudo que consegui guardar foi rancor e as lembranças, eu te amava de um jeito errado... — agora lágrimas também desciam pelo meu rosto — De um jeito errado porque eu colocava o que eu sentia por você acima de mim, eu me submetia a ter pouco de você mesmo querendo mais e mais, e depois quando a minha ficha sobre isso caiu eu fiquei doente por dentro, meu coração estava tão apertado... Mas então Kayin nasceu, e meu coração foi preenchido por uma coisa tão boa que não tinha mais espaço pra nada.

— Quando ele nasceu? — ele também chorava e então eu percebi que ele segurava a minha mão

— Cinco de agosto, ele pesava  2 quilos e 800, era tão pequeno, estava a baixo do peso esperado, mas ele sempre foi um menino forte.

— Eu queria ter estado com você...

— Quando o segurei pela primeira vez foi como tocar o paraíso... — soltei nossas mãos e me levantei — Vou deixar você se aproximar dele. Mas ele não sou eu Hernandes, não dê apenas migalhas de você para seu próprio filho. Faça valer a pena.

Resiliência (LGBTQ) [MPREG]Where stories live. Discover now