Ele era da resistência. Não precisei de um segundo sequer a mais para chegar a essa afirmação. E queria que eu fizesse parte também.

Não é como se eu nunca tivesse escutado os rumores sobre esse grupo. Aparentemente, eles queriam que Althaia voltasse a ser Eirlys, que os nativos voltassem a ter mais direitos do que os novos cidadãos chegaram já depondo-os de seus empregos, tomando suas antigas vidas. Queriam colocar outra pessoa no trono, quem era eu nunca cheguei a escutar, mesmo que os murmurinhos denunciassem que fosse alguém da antiga linhagem, dos Galene. Nunca acreditei nesse falatório, eu sabia que todos estavam mortos. O pai de Miranda não deixava nada à sorte e não tinha medo de sujar suas mãos –ou mandar que outra pessoa as sujassem por ele.

–Poupe as palavras doces. Você quer que a monarquia antiga volte só que, advinha, eles morreram. Assassinados! Vocês não podem viver nessa ilusão bonita que uma rebelião, ao invés de gerar mais caos, vai nos devolver o que nos roubaram. O que eles pegaram não é mais nosso, é assim que funciona. –Falo com experiência no assunto.

–Nem todos morreram. –Sabiamente, ele ignorou o resto do meu desabafo disfarçado de argumento. –Ainda temos uma pessoa que tem o sangue Galene, alguém que tem direito ao trono, alguém que promete para todos nós que eles vão pagar, que esse lugar vai voltar a ser nosso, voltar a ser o nosso lar.

–Você deveria saber também que nem tudo pode voltar.

–Assim como Giulia ou sua mãe. –Meu ar, momentaneamente, me deixou. Eu ainda esperava que sua irmã não fossem uma das várias vítimas, entretanto, minha mãe ser citada não funcionou ao seu favor. Aquela era uma zona cinza. –Calia, olhe para mim. –O obedeci, já que meu foco ia para todos os lugares no cômodo, me impedindo que permanecesse nele. Seu olhar forte, inquisidor, incapaz de ser ignorado me prendeu enquanto buscava fundo em minha alma o que ele sabia ser apelativo para seu lado. –Não se pode tirar o que alguém mais ama e esperar que essa pessoa não se revolte. Você sabe disso.

Eu sabia disso.

Minha lealdade nunca pendeu para nenhum lado, cresci na falha entre os dois reinados e queria que continuasse assim e, mesmo assim, estava disposta a continuar escutando-o. Fiquei quieta e sinalizei para que continuasse.

–Como eu disse, por termos espiões no castelo, também descobrimos sobre a Mania do Oráculo... e o motivo da Rainha precisar de você. –Ele olhou para mim como se estivesse esperando por uma alegação, minha única resposta foi continuar encarando-o. –Bem, acreditamos que ela está mentindo para você.

Incrédula de sua vaga sugestão, de cenho franzido, formulei minhas questões.

–Mentindo acerca do que? Sobre a doença? Eu vi com meus próprios olhos, posso te garantir que ela existe e é pior do que...

–Não sobre isso, eu também sei que é real, eu me refiro ao fato de que ela não está realmente perdida sobre isso além de querer os registros não com o objetivo de ajudar as pessoas. –Se ele quisesse que eu comprasse sua palavra, precisaria de muito mais do que meras frases da conspiração, continuando cética à sua frente, dando indicativo para que ele se explicasse apenas cruzando meus braços. –Ela mesma está provocando essa situação para controle de seus cidadãos, por isso ela conseguiu que todos os infectados com o que quer que seja isso já estivesse confinado em seu palácio. Ela muito provavelmente já até mesmo sabe como controlar a mania, só precisa dos registros do continente do Oeste para que ela seja a única com tais informações, podendo usar como bem entender em quem a desafiar e quem entrar em seu caminho. Ela poderia usar como ameaça em outros países que ela e sua dinastia queiram colocar as garras sobre. Não vê o poder que isso daria à ela? E ainda trataria todos depois de ter os tais documentos em sua posse, saindo como a heroína da população.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWhere stories live. Discover now