3 // hope

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    Clark definitivamente estaria orgulhoso de Bruce, afinal. Porque em que outra situação encontrariam o morcego de Gotham cambaleando como uma barata tonta pelos quatro cantos do mundo, em busca de outros heróis para formar uma equipe? Logo Bruce, que sempre deixou bem claro que trabalhava sozinho — sobretudo nos últimos anos, diante de tantas tragédias em sua vida.

    E ainda assim, ali estava ele; contemplando as montanhas cobertas por neve da Islândia. Arthur talvez fosse um caso perdido, considerou brevemente, enquanto assistia ao mesmo sumir dentro da água fria do pequeno lago, porém tinha de valer o esforço. Eles eram muito parecidos no quesito solidão, ademais, e se mesmo Bruce fora capaz de mudar de ideia por um bem maior, era possível que o atlante eventualmente seguisse o seu exemplo. Até lá, ele precisaria se agarrar à única arma que estava à sua disposição àquela altura.

    .

    — Sem sorte com senhor Curry?

    — Por enquanto. — Bruce subiu as escadas do avião com Alfred em seu encalço. — Ele não estava muito aberto pra conversar, mas confio que vá fazer a escolha certa quando precisarmos dele.

    — Nunca o vi falar assim, patrão Bruce. — lançou um olhar surpreso ao morcego. Alfred sentou-se de frente para ele e tornou, divertimento transbordando em sua voz: — Se não o conhecesse tão bem diria até que está mais esperançoso do que o normal.

    — Situações desesperadas pedem medidas desesperadas, Alfred. — ele sorriu de lado, admirando a paisagem pela janela enquanto o avião decolava. — Diga a Diana que já estamos meio caminho andado.

     — Mas senhor Curry não aceitou a proposta? — franziu o cenho.

     — Não estou falando dele.

>>><<<

     Barry Allen era "super" todos os adjetivos existentes, Bruce divagou, e não somente rápido. E ele nem mesmo considerou o fato de que a caixa de pizza havia simplesmente evaporado das mãos do rapaz depois de poucos minutos, um ligeiramente atordoado pelo ritmo errático com o qual as palavras deixavam sua boca enquanto ele comia.

    O caminho até à bat-caverna fora preciso e sem mais surpresas. Eles encontraram Diana os esperando assim que desceram do avião e feitas as apresentações, ela afirmou que Victor Stone havia enfim baixado a guarda. Os três seguiram em silêncio até o que seria o seu QG por enquanto, os passos de Bruce firmes os guiando mais à frente.

    O morcego sentiu-se levemente tonto com as frases desenfreadas de Flash mais cedo, contudo nada se comparava à vertigem que o acometeu ao se dar conta da sugestão não-tão-sutil de Victor enquanto ele explicava para que as "caixas-mãe" serviam. Para Bruce, a função dos dispositivos em si era o de menos, logicamente, quando sua mente desgovernada só conseguia focar em uma coisa.

    Clark.

    Tudo que Bruce conseguia pensar diante do holograma do Superman à sua frente era que o destino o estava oferecendo uma oportunidade de reparar os seus erros. Clark poderia de fato voltar à vida, porque claro que ele poderia. Afinal, havia algo que estava fora do alcance do rapaz gentil de Smallville?

    Clark.

    Se estivesse sozinho, Bruce teria se permitido sorrir abertamente com aquela possibilidade. Em dado momento, teve vontade de revirar os olhos para si mesmo. Às vezes se pegava agindo como uma adolescente apaixonada desde a partida do kryptoniano. Se não se conhecesse tão bem, assim como Alfred o havia dito dias atrás, suspeitaria até que o sentimento por Kent morando em seu peito talvez fosse mais do que simples culpa.

    — É loucura, mas é nossa única chance. — a voz robótica de Stone fez-se presente novamente.

    — Victor tem razão. — Diana prosseguiu e lançou um olhar tenso a Bruce. — Bruce, o que você acha?

    Não era de fato uma pergunta. Diana sabia muito bem a magnitude da culpa que ele carregava em razão da morte de Clark. Talvez ela quisesse apenas se certificar de que ainda havia algum resquício de razoabilidade na mente do morcego.

    E no seu juízo perfeito Bruce teria decidido que não, prontamente. O risco era muito grande, trazer de volta à vida um Deus com poderes ilimitados? Era perigoso demais. E se Clark não possuísse memória alguma? E se ele se recordasse, mas especificamente do momento em que Batman quase o matou com uma estaca feita de kryptonita? Superman poderia simplesmente não querer salvar a terra que o rejeitou, que o pegou para Cristo num sentido tanto metafórico quanto literal. Eram contras demais. Um tiro no escuro. Um fio tênue de esperança.

    Mas o fato era que Bruce não estava no seu juízo perfeito, sem contar que todas aquelas considerações teriam sido feitas pelo Batman. Ele sim era o estrategista, ele sim era o responsável pelos planos a longo prazo. Não Bruce. Bruce não passava de um menino movido pela raiva e pelo luto, buscando justiça pela morte dos seus pais em uma fantasia de morcego. Bruce era apenas um homem e ele já falhou como tal uma vez. Não falharia novamente.

    Não com Clark.

    — É nossa única chance. — Bruce repetiu as palavras decisivas de Victor, encarando todos os rostos à sua frente com determinação. Um arrepio correu-lhe a espinha quando ele concluiu, voltando os olhos para a capa vermelha do holograma: — É nossa última esperança.

FAITH | 𝘴𝘶𝘱𝘦𝘳𝘣𝘢𝘵Onde as histórias ganham vida. Descobre agora