Capítulo 100- Garota Extraordinária

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- O que eu faço, Daniel?

- Você quer que eu vá em seu lugar? Minha experiência é em cardiologia, mas, trabalhei como cirurgião por muito tempo.

- Não seria permitido, já que o cirurgião principal desse hospital sou eu.- Gilbert disse desolado. Ele confiaria a vida de Anne a Daniel se pudesse, pois conhecia a capacidade e comprometimento do amigo acerca dos pacientes que cuidava, mas, naquele caso, ele sabia que tudo dependia dele, por isso, ele respondeu:

- Vou me preparar.

- Se precisar de suporte, eu estou aqui.- Daniel disse colocando uma mão no ombro de Gilbert como apoio..

- Obrigado.- Foi tudo o que ele disse antes de se encaminhar para a sala de preparação.

Ele vestiu seu jaleco, luvas, máscara e toca, lavou as mãos e rosto com cuidado, enquanto examinava seu próprio reflexo no espelho. Sua expressão estava tão abatida quanto seus olhos se mostravam preocupados. Ele nunca se sentia inseguro antes de uma cirurgia, pois sempre se preparava para cada uma delas com antecedência, mas, para aquela cirurgia, ele não tivera chance de sequer pensar sobre, e dela dependia a vida de sua esposa e filhos, e não podia errar de forma nenhuma. Respirando fundo, ele foi para a sala de cirurgia onde Gabriela já se preparava para fazer o parto dos bebês, e depois levá-los para o berçário especialmente preparado para receber e cuidar de crianças prematuras.

Ela o olhou tristemente ao vê-lo entrar, e disse:

- Ainda bem que está aqui. Anne queria tanto que você participasse do parto.- Gilbert balançou a cabeça, sentindo uma batida em seu coração falhar ao olhar para sua ruivinha tão linda e tão pálida deitada naquela mesa de cirurgia onde ele não esperava vê-la em uma situação tão complicada.

Assim, Gabriela começou seu trabalho, e Gilbert apenas acompanhou todo o processo, com sua garganta apertada e seu peito quase explodindo de apreensão. Os bebês tinham que nascer vivos ou Anne ficara arrasada assim como ele. Tinham sonhado demais com os gêmeos, para perdê-los assim pela estupidez de um psicopata que felizmente fora preso, mas, isso não devolveria a Anne a alegria de viver caso um ou ambos de seus bebês perecessem naquele processo doloroso.

Ele sabia o quanto realizar um parto naquelas condições era perigoso para as crianças, e principalmente para a mãe, mas, Gilbert confiava em Gabriela, e sabia que ela daria o seu melhor para que tanto Anne quanto os bebês ficassem bem. Assim, a médica trabalhou contra o relógio, pois cada segundo perdido era precioso. Anne ainda teria que passar por outra cirurgia delicada, e Gilbert seria o responsável por ela. Dentro de si mesmo, ele estava morrendo de medo, pois ele estava tão nervoso que suas mãos chegavam a tremer, um mal sinal para um cirurgião como ele que sempre tivera firmeza em seus dedos para realizar qualquer cirurgia por mais complicada que fosse. Ele se especializara em casos difíceis, e saber que poderia reverter um quadro considerado impossível em um paciente era o que o estimulava, mas, ele nunca tivera que realizar algo assim em um ente querido, e era a primeira vez que encarava tamanha insegurança.

Ele tentou afastar seu temor, enquanto se concentrava no parto de Anne. Ele queria tanto que ela estivesse consciente para viverem juntos aquele milagre. Gilbert apostava na ciência, e ainda mais em Gabriela que naquele instante estava a ponto de trazer o primeiro filho dele ao mundo. Mais cinco minutos haviam se passado, então Gilbert ouviu um choro fraquinho, e seu coração se acelerou, enquanto seus olhos marejavam de alívio, e alegria.

- Venha até aqui, Dr. Blythe , conhecer seu filho John.- Gabriela disse, e Gilbert se aproximou, e as lágrimas transbordaram quando ele pegou seu bebezinho no colo, e viu a penugem ruiva enroladinha como caracóis no topo da cabecinha pequena. Gilbert verificou que todos os dedinhos dos pés e das mãos eram perfeitos, apenas a cor dos olhos ainda não daria para ver, pois John mantinha-os fechados. Gilbert deu-lhe um beijo carinhoso na testa, e o devolveu para a enfermeira que o levaria para o berçário naquele instante.

Anne with an e- Corações em jogoWhere stories live. Discover now