Capítulo 5

193 5 1
                                    

Era noite quando tive aquele pesadelo perturbador de novo, só que dessa vez foi diferente.

Eu caía, sentia o vento batendo em meu cabelo, mas estava com medo de chegar ao chão. Minhas costas doiam muito e sangravam.

Quando finalmente toquei o chão, Vi muitas pessoas me encarando. Entre eles, o vizinho velho e Ike. O que ele estava fazendo ali, eu não sei, mas lembro de despertar com o coração á mil.

Vinte minutos depois do sonho, já estava pronta para ir a escola. E como sempre, ficaria sozinha.

***

Sai de casa sem pressa. Mamãe me esperava do lado de fora dentro de seu carro. Depois de muito tempo, que olhei para fora, já estava na nova escola. Ela era muito grande!

Alunos andavam sem parar, se sentavam na grama e conversavam. Me senti como estivesse em um filme adolescente.

Mamãe saiu do carro junto comigo, e logo, fomos surpreendidas por um aluno passando de skate.

Ele era moreno e tinha muitos músculos (Me perguntei se ele fazia academia ou outro tipo de esporte, ou tomava anabolizantes), seus olhos eram pretos - Não castanho escuro como qualquer olho comum. Os olhos dele eram pretos mesmo! Como a escuridão.

Enfim, o menino olhou para mim e esboçou um sorriso, que logo sumira quando mamãe o encarou.

Como Ike, eu senti algo de confortável dentro de mim. Era como se eu já os conhecesse.

Mamãe arrumou seu vestido cinza, em seguida se virou para mim e deu-me um beijo carinhoso na testa, seguido por um tapinha no ombro.

- Lembre-se de não chamar atenção. As paredes tem olhos e ouvidos. - Falou e me entregou a mochila. Entrou no carro e foi embora.

***

- Aqui esta - A diretora falou, me mostrando a porta da sala. - Espere só um pouco Sarah - E entra na sala.

Eu olhava pela janela enquando a diretora nova - Sra. Charlie - falava com a professora morena que estava dando aula. Não me sentia nervosa até entrar na sala e observar quantos alunos haviam ali.

O garoto moreno do skate estava sentado na frente. "Nerd?", pensei por um instante. Ele não tinha cara de quem passava horas lendo ou fazendo qualquer coisa inteligente.

Olhei mais ao redor para ter uma imagem ampla de todos os alunos, e Vi Ike. Meu coração parou na mesma hora.

Ele estava tão fofo naquele cardigan cinza. Seu cabelo estava mais penteado que antes, e ele sorria, não para mim.

Havia uma garota sentada em sua frente. Ela era loira e tinha os olhos castanho. Vestia-se em uma blusa bem pequena. Eu podia ver o bico de seu peito saltando por ela.

- Sarah? - Era a professora. Colocou suas mãos estranhamente geladas em meu ombro e continuou a falar. - Vamos, fiquem quietos! Eu sei que já começamos as aulas, mas temos uma caloura. Sarah querida, pode se apresentar.

Naquele momento em que me virei para o "público", corei de vergonha. Devia ter me preparado mais, ou decorado um resumo do que ia falar. Não queria agir estranhamente de novo.

Pensei em um grande discurso. Afinal, podia impressionar a todos com apenas minhas palavras. Mas, na hora de dizer, a única coisa que saiu de minha boca foi:

- Oi... - Respire. Continue. - Eu sou a...

- Você é a filha daquela crente maluca. Só pode.

Não falei nada. Tudo que me restava era voltar ao meu lugar, ou ir para casa. Era isso que mamãe queria.

Só que, algo me surpreendeu. Existiam pessoas boas afinal. O garoto moreno do skate se virou para o outro - Que havia falado de mim - e disse:

- Cala boca garoto! Deixa ela continuar.

Me sentia agradecida e confortável.

- Tudo bem. Obrigada. - Então, me direcionei á carteira vazia. De novo. A verdade era que naquele momento, eu queria ser outra pessoa. O que o garoto havia dito me fez sentir como uma estranha completa.

Eu ouvia as pessoas comentando enquanto a professora explicava sua lição, e apenas olhava para janela. O silêncio é uma forma de inteligência.

O sinal bateu e eu nem liguei. Queria ficar na sala, olhar a janela. Um casal de pássaros cantava alegremente. Nem dei conta de que mais alguém estava na sala.

- Sarah? - Era a professora.

- Sim?

- Você não vai sair? - Perguntou.

- Acho melhor ficar aqui... Sabe, eu ainda não copiei tudo. - Poderia traduzir isso como "Estou com medo/vergonha de ir para o intervalo. Não quero ficar sozinha novamente.".

Ela sorriu apenas, e saiu da sala me deixando sozinha.

Quando ela saiu, vi que o garoto moreno de antes aparecera. Ele me olhou de longe, e foi se aproximando aos poucos.

Quando finalmente conseguiu o que queria, pegou uma cadeira e a colocou na frente da minha mesa.

- Oi!

Fiquei em silêncio por um momento. Não decifrei o que ele queria.

- Ah qual é. Vai deixar seu mano no vácuo? - Levantou sua mão e a deixou extendida em minha direção. - Bate aqui!

Sorri. Algo nele me parecia engraçado. Pensei que, talvez ele não fosse como os outros. Talvez fôssemos bons amigos.

Bati em sua mão e ele sorriu também.

- Me chamo...

- Sarah, eu sei. - Interrompeu ele.

- Como sabe?

- Um amigo me falou de você. Olha, você vai ficar sozinha aí ou vamos lá pra fora?

- Eu não acho que seja uma boa ideia... - Falei.

- Meu nome é Bond, prazer.

- Bond?

- James Bond - Não tinha entendido o sentido da piada, mas RI mesmo assim. O garoto estava tentando. - Sou Juan.

- Legal...

- Olha... Ficar sozinha não vai ajudar a tirar essa timidez. Vem comigo! Eu conheço umas pessoas legais.

Eu devia ir? Ele tinha razão. Ficar sozinha não resolveria minha anormalidade. Me sentia corajosa.

Em seguida levantei. O menino se levantou também e foi correndo para a porta, e eu o segui.

A chave mestiça - Versão AntigaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora