Capítulo 9: Intenções.

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— Que tipo de informação o senhor teria? — Alice não sabia para onde olhar, pois só via um chapéu flutuante acima um sobretudo marrom amarrotado.

Notando a bela jovem loira, James lançou seu olhar por todo o corpo da moça. Como não podiam ver seu rosto, Alice nem se incomodou em ser encarada de cima a baixo.

— Desculpe por não me apresentar formalmente, senhorita. — O rapaz invisível estendeu o que seria sua mão, mas Alice viu apenas a manga do sobretudo flutuando. — Me chamo James Marco. É um prazer conhecê-la.

— Prazer, me chamo Alice. — A moça levou a mão lentamente, tentando tocar algo e logo foi surpreendida com um leve aperto em sua mão direita.

Então o rapaz invisível se inclinou e beijou sua mão. Era estranho para Alice sentir o toque do que não conseguia enxergar. Owen ficou claramente incomodado com aquilo.

— James é um velho amigo do orfanato. — Owen interrompeu a apresentação que já se estendia demais para o seu gosto. — Mas me diga, tem alguma informação útil sobre o caso?

— Eu tenho uma informação, mas vocês decidem se é útil. — Sua fala era sutil, assim como seus movimentos. Owen já o conhecia e sabia que sua atenção estava totalmente voltada para a moça, mais especificamente, para seu corpo. — Suponho que sua vinda a esse bar, seja para obter informações do submundo da sociedade paranormal. Estou certo?

— Sim. Rápido e preciso como sempre, James. Agora não me enrola.

— Diga-me, qual a situação?

— Suspeitamos que alguma espécie não humana tenha sequestrado crianças nos últimos meses. A escolha das vítimas e a forma como foram tiradas de seus pais seguem um padrão estranho.

— E que padrão seria esse? — James indagou.

— Meninas, na faixa etária de sete anos, roupas e brinquedos foram levados junto das crianças. Em todos os casos, sem sinal de resistência ou pistas físicas das crianças.

— Um caso realmente complicado. — James arescentou.

Owen percebeu desinteresse em seu tom. Desde pequeno, a única forma de saber as verdadeiras intenções de James, era pela sua entonação de voz. Owen se tornou especialista na linguagem de seu amigo.

— Não me diga, Sherlock? — Ironizou.

— Deus sabe como senti falta do seu sarcasmo, Owen. Mas vamos continuar. O que veio buscar nesse bar?

— Não sei ao certo. Imaginei que seria o lugar mais propício para saber sobre trafico humano ou infantil. — Alice ficou surpresa com a frieza de Owen se referindo aos sequestros. Ela não sabia que essa era sua intenção ali

— Olha, tenho ligações fortes no submundo da Sociedade Paranormal. Sou um Cérbero: Uma espécie de agente da alfandega entre o mundo humano e o mundo espiritual, cuidando da entrada, saída e estadia de espiritos no mundo humano. Espécies como o senhor Gull, por exemplo, que ganharam o direito de habitar no mundo humano. — Eles olharam para o barman que acenou com um sorriso no rosto. — Todos aqui me conhecem como "Porteiro do Submundo".

— Isso explica muita coisa. Só não explica o que isso tem há ver comigo e com meu caso. Foi mal, James, mas você não me disse nada de útil. Vá direto ao ponto, por favor.

— Uau, você pediu por favor? Que raro. — James pareceu surpreso. — Eu estava tentando dizer que tenho contato direto com todo tipo de criaturas. Estou nessa cidade investigando tráfico de corpos humanos sem vida. Um corpo desses, garante longos anos de estadia no mundo físico para um espírito.

— Mas um corpo vivo garante uma possessão completa. — Concluiu Owen. — Acha que isso pode ter relação com os sequestros?

— É apenas uma suposição embasada em quase nada, mas já lidei com sequestros humanos e na maioria tinham relação com possessões. Não descartaria essa possibilidade ainda.

— Se estivermos lidando com um plano de possessão, que espécie teria tanto cuidado em escolher corpos tão jovens? — Alice interrompeu.

— Não sei ao certo, todos tem preferências estranhas. Alguns querem ser extravagantes, outros nem se importam com a casca, só querem sair do inferno. Não é, senhor Gull? — Ele acenou para o barman.

De longe, o senhor Gordo viu e lhes disse:

— Se conhecessem o inferno como eu conheço, não se importariam nem se seu corpo físico fosse de um porco.

Alice ficou intrigada. Owen se serviu da cerveja de James, sabia que não teria outra oportunidade de relaxar com uma bebida.

— Tem algum contato do Submundo que possa ser útil? — Owen indagou.

— Posso tentar um amigo que sempre está de olho nas redondezas, mas isso sempre me custa caro.

— Não importa o preço, senhor James. Estamos a serviço da própria Ordem e temos carta branca para gastar recursos necessários para a resolução desse caso. — Alice lhe disse.

— Ora ora, um serviço oficial da Ordem. — De repente James ficou animado. — Talvez possamos trabalhar juntos, já que as investigações apontam para um possível suspeito espiritual e isso está dentro da minha alçada. O que acham de uma parceria?

Owen sabia que haviam segundas intenções nessa proposta. James nunca quis trabalhar em equipe, foi por esse motivo que recusou entrar para o grupo de Detetives do Além, também porque achou esse nome "brega", nas palavras dele.
Talvez ele quisesse reconhecimento no casou, ou um encontro com Alice. De qualquer forma, não poderiam recusar ajuda, ainda mais de alguém com as capacidades de James.
Alice não hesitou, respondeu com um sorriso no rosto:

— Toda ajuda é bem vinda, Senhor James!

— Me chame apenas de James. — Ele corrigiu. Obviamente Alice não via, mas Owen percebeu que seu amigo estava sorridente.

Ele já sabia onde isso ia acabar. Se virou para o balcão e pediu outra cerveja. Sua noite seria bem longa.

Occulta TenebrisOnde histórias criam vida. Descubra agora