Capítulo 7: Bar do Gordo.

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Na van, a caminho de um bar no centro da cidade de Charleston, Alice indicou o caminho para Owen que dirigia aquele veículo suspeito. A moça estava desconfortável no banco mal ajustado do carona, que normalmente era ocupado por Carter. Um leve odor estranho chegava em suas narinas e ela não ousava perguntar a respeito, pois não queria ofender. Na esperança de se livrar daquele cheiro, Alice baixou o vidro discretamente, ou tentou, pois quando girava a manivela, ela rangia alto. Precisou aplicar certa força para girar, tanto que a manivela se quebrou. Owen percebeu e começou a dar risada da moça.

— Sinto muito! Pode incluir o concerto nas despesas da viagem, pagaremos uma nova! — Alice corou, tentando se desculpar.

— Tudo bem, essa manivela já estava assim há muito tempo. Apenas o Carter sabe abrir esse vidro, nem eu tento. — O rapaz baixou o próprio vidro com certo esforço para arejar o ambiente. — Me desculpe pelo cheiro. A Sophie costuma fumar escondida na Van quando está estressada durante uma missão, na maioria das vezes, não é cigarro convencional, se é que me entende. — O rapaz voltou a rir. — Ela se esforça para tirar esse cheiro, mesmo assim ainda sinto, por isso sempre lavo os bancos. Fico surpreso que também tenha sentido, normalmente ninguém sente.

— Pode-se dizer que tenho um ofato muito bom. — Ela se encolheu, pois o frio tomou conta da van. Era um pequeno preço a se pagar pelo ar fresco.

— A é? Eu considero meu ofato bem apurado também. É aquele lance de eu ser um meio lobisomen. — Ele se gaba como se fosse um grande feito.

— Como uma pessoa pode ser meio lobisomen? Se um lobisomen tem filho com uma humana, ele pode ter a capacidade de se transformar ou não. Não tem como você ser meio lobisomen mesmo que seja filho de humano com lobisomen. Ou é ou não é, simples.

— Isso é um caso curioso mesmo. Tanto meu pai quanto minha mãe tinham a capacidade de se transformar. Nasci com um problema genético único que me faz ter capacidades de um lobo, mas impossibilita que eu me transforme por completo. Na alcatéia, fui conhecido até os dez anos como "lobinho sem pelos". Foi nessa época que me deixaram no orfanato como um híbrido de lobo com humano.

— Conheceu seus pais? — Alice parecia curiosa a respeito.

— Meu pai é o Alfa da alcatéia, o mais forte do grupo, tão cruel quanto forte. Minha mãe era completamente oposto, um ser abençoado e gentil, a única que não me via como uma aberração. Quando ela se foi, meu pai finalmente conseguiu se livrar de mim, me deixando no orfanato. Naque dia ele disse: "Um lobo que não pode se transformar, não tem direito de me chamar de pai." — Owen engraçou sua voz para ficar mais grave, tentando imitar seu pai.

O rapaz ainda mantinha o sorriso em seu rosto, como se nada de seu passado triste o deixasse abalado.

— Não sente ódio do seu pai? — A jovem indagou, tentando decifrar aquele sorriso do rapaz.

— Não. — Sua resposta veio acompanhada de mais risadas. — A única coisa que sinto por ele é indiferença. Talvez gratidão, já que no orfanato fiz grandes amigos.

Para Alice, família era um assunto delicado, por isso aquele jovem sem mágoas era realmente um caso atípico. Por um momento, cruzou os braços, como se escondesse algo, olhou para a janela e permaneceu assim pensativa.

O silêncio reinou na Van, ou quase isso, já que o motor não era tão silencioso e toda vez que Owen trocava de marcha, o cambio rangia.

Não demorou muito para chegarem ao centro. Estacionaram perto de um beco onde Alice havia dito. Adentraram a escuridão da pequena viela, entre latas de lixo e ratos que corriam assustados. Mais a frente, um homem adentrou por uma porta de ferro, que se fechou logo em seguida. Alice parou pouco antes de chegarem lá, para dar suas últimas instruções:

Occulta TenebrisOnde histórias criam vida. Descubra agora