Capítulo Quatro: Memórias de Bright

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Ainda não acredito que estou aqui, parado no meio da sala de estar dele. Tudo parece um sonho, eu sempre imaginei um possível reencontro, mas nunca tive coragem de procurar o Win. Nem mesmo quando voltei para cá. Quando ele disse seu nome, foi inevitável, não chamar ele de Winnie. Os sorrisos que ele dava quando o chamava assim. Quando a ligação acabou, fiquei uns segundos processando, peguei as chaves do carro e o ursinho da Ame e vim para cá, apesar da chuva, ter me atrapalhado um pouco, a hora tardia, estava ao meu favor, porque não tinha trânsito. Assim que eu o olhei, senti, uma vontade súbita de o abraçar e não soltar nunca mais. Entretanto, eu não tinha esse direito, não mais.

Ele volta e me entrega as roupas e assim que nossas mãos se tocam. Trocamos olhares significativos. Realmente, às vezes, palavras não precisam ser ditas.

— Papai, papai, você veio! — somos interrompidos por uma Ame, toda agitada, que passa pelo Win, voando e abre os braços, para receber um abraço.

— Desculpa ter esquecido de colocar ele na sua mochila, ando com a cabeça longe. — falei, abraçando ela e entregando o ursinho. — Agora eu preciso ir, tenho muito trabalho ainda. Estava tirando um cochilo, mas já ia voltar a escrever as minhas músicas, tenho um prazo.

— Você não pode ficar, nem um pouquinho? — pede fazendo beicinho.

— Sinto muito… Eu queria… Mas não posso, já conversamos sobre isso.

— Você não pode ficar? — pergunta Win, desviando os olhos dos meus. — Digo, pela Charlotte.

— Você quer que eu fique? — pergunto chocado, ele perguntou mesmo aquilo? — Eu bem que gostaria… Mas tenho um prazo.

— Você gostaria? — pergunta e dessa vez ele me olha.

— Tio Win, pede para o papai ficar um pouquinho só! 

— Meu anjo, vem cá. — ele se abaixa e a encara. — Seu papai está ocupado e está tarde, vá dormir com a Lotte, que eu prometo tentar fazer ele vir aqui domingo.

Minha filha sorri e antes de se despedir diz:

— Tio Win, eu prometo ser a melhor criança do mundo, se você fizer o papai largar o trabalho e ficar com a gente!

Ele me encara e eu dou um sorriso sem jeito. Eu sempre me desmonto. Esse é o efeito que Win Metawin tem sobre mim.

— Vai se trocar antes de ir. — diz e se vira. — Aceita uma xícara de café, pelo menos?

Perguntei onde era o banheiro e fui me trocar, minutos depois e ele está sentado bebendo um café e outra xícara, está na frente dele. Me sentei de frente ao Win. Agora que estamos sozinhos de novo, não sei como começar uma conversa. Foquei nas suas mãos e não vi aliança… Isso é um bom sinal? Eu devia perguntar? Qual é, Bright, você não é mais aquele adolescente cheio de dúvidas e medo. É só perguntar, respiro algumas vezes e solto:

— Você é casado? — ele que parecia tranquilo bebendo, se engasga. Bom trabalho, Bright, você quase o matou.

— Divorciado… — responde ele.

— O mesmo. — falei e ele me encara, ele não perguntou, mas fiz questão de responder.

Ele limpa a garganta, olha para todos os lugares, menos para mim e diz:

— Acho que a Ame ficaria feliz se você viesse aqui domingo… Digo, amanhã, já são 02:40 da manhã. Sei que está ocupado, mas você tem que aproveitar todas as oportunidades, ao lado de quem você gosta.

Eu senti essas últimas palavras queimarem na minha pele. Ele ainda está machucado e com razão, eu também estou. Naquela época, nós deveríamos ter aguentado. Tento mudar de assunto, falar do passado assim, só vai nos machucar ainda mais.

— Só a Ame, que vai ficar feliz? — tento mudar de assunto.

Ele tenta permanecer sério enquanto toma o restinho do seu café e eu percebo um pequeno sorriso no canto dos seus lábios… 

— Bem, está na minha hora, obrigada pelo café e pelas roupas… Acho que tenho vários motivos para voltar amanhã. — suspiro e vou caminhando até a porta e ele me segue.

— Você vem mesmo? A Ame vai amar a surpresa…  E motivos, além dela? — pergunta, Win ao pararmos na porta e ele estende a mão para que eu a aperte.

— Sim, o motivo número um, minha filha, o dois, é devolver suas roupas e o três, você. — falo e num movimento rápido, o puxei e o abracei. Eu sabia que não ia resistir por muito tempo.

Ao contrário do que pensei, ele não me afastou, me bateu, ou disse nada, apenas me abraçou de volta e bem apertado.

— Droga! — diz ele baixinho.

— Winnie? — pergunto.

— Você tem o mesmo cheiro que antes. — fala e suspira.

— Digo o mesmo. — falei e passei meu nariz pelo seu pescoço. — É inebriante.

Estava, mais do que claro, que ninguém queria sair dali, se pudéssemos, com certeza, eu iria parar o tempo, só para ficar ali, nos braços do Win e ele nos meus.

Mas, as responsabilidades nos chamam para a realidade e nos afastamos, vermelhos.

— Até amanhã, B! — diz envergonhado.

— Até, Winnie. — respondi de volta, no mesmo estado. Já tínhamos 31, mas ainda não conseguimos controlar os nossos corações naquele momento.

Destinado A Te AmarWhere stories live. Discover now