Polônia - 1939

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Polônia, outubro de 1939

"O que é feito não pode ser desfeito, mas podemos prevenir que aconteça novamente". - Anne Frank

Jedrik estava cansado de fugir, exausto de toda correria e medo. Estavam fugindo desde as primeiras notícias de que os alemães iriam invadir a Polônia. No mesmo instante saiu às pressas do trabalho, correndo pelas ruas estreitas e passou na pequena alfaiataria dos pais de Brygida. Alertou os sobre a situação e os avisos ouvira em seu trabalho e a levou consigo. Ele trabalhava como marceneiro até então, utilizando seus dons para fazer mobiliário de luxo para algumas famílias mais abastadas na Polônia.

Ouviu as primeiras notícias como se estivessem acontecendo em um lugar completamente diferente e longe dali, rumores de um ataque aqui, boatos de outro ataque ali. A grande maioria dizia que a guerra não iria alcançá-los. Pobres coitados, mal sabiam o triste destino que esperava a maioria dos Poloneses.

Jedrik não queria lutar, não queria fugir, a única coisa que queria era ver Brygida feliz, nem que tivesse que cruzar a Polônia inteira para salvá-la das mãos dos alemães. Ele não fazia a mínima ideia para onde iria, mas tinha que tentar.

Mais de um ano se passara e eles continuavam fugindo, pulando de bairro em bairro, de distrito em distrito. Jedrik percebia que a maioria deles estavam com medo das notícias vindas das fronteiras. Eles estavam cansados e com fome. Brygida chorava, ás vezes a noite inteira a falta de seus pais. Jedrik tentava consolá-la, mas não havia palavras para consertar a situação que estavam passando, e nem palavras que pudessem brotar a esperança de novo em seus corações.

Tudo parecia tão distante, como se décadas tivessem passado ao longo desses últimos meses. Ele ainda se lembrava dos passeios no lago, dos piqueniques nos campos de girassóis, do sorriso de Brygida e de como os seus olhos verdes brilhavam quando eles se olhavam mutuamente. Lembrava de como foi vê-la pela primeira vez, de saber que aquela era a mulher dos seus sonhos. Lembrava da carne macia entre seus dedos, dos lábios rosas e carnudos entreabertos ofegando enquanto ele a beijava no pescoço.

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Estava sentado em uma planície florida, a primavera na Polônia estava sendo bem quente e muitas das flores já estavam desabrochando. Jedrik havia preparado uma surpresa para Brygida, hoje era o dia em que iria dizer a ela o quanto era importante, iria dizer o quanto a amava e que a queria para sempre, e ansiosamente a aguardava observando a paisagem a sua volta.

Era quase hora do pôr do sol. O campo de girassóis desabrochados mais abaixo, a casa de seus pais ao fundo e o lago refletindo os raios do sol. Aquele momento deveria ser retratado em uma pintura, nada poderia dar errado. Aguardou um pouco mais de dez minutos até Brygida aparecer.

- Oi Jedrik. - Brygida estava espantada com a beleza da paisagem que via, era raro estar por ali, e com certeza nunca havia prestado atenção em tudo aquilo.

Ele se levantou nervoso, olhou para Brygida e pegou em suas mãos. Fez sinal de silêncio com os dedos e a convidou  à sentar. Ela já esperava que Jedrik se declarasse, mas nunca que fosse de uma forma tão bonita e especial. Sentou-se ao lado de Jedrik, estava maravilhada com o brilho dourado que resplandecia do lago, como se ele fosse feito de ouro puro.

Jedrik, no exato momento em que o sol parecia tocar o lago abriu seu coração e disse:

- Está linda hoje Brygida.

Brygida sentiu seu rosto enrubescer, mas não disse nada. Jedrik segurou seu queixo e a puxou com leveza para próximo de seu rosto. Deu-lhe um beijo suave, mas que eternizava ali o amor dos dois.

COMPLETO - OS LEGADOS DO SOL E DA LUAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora